São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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ELEIÇÕES 2004/INVESTIGAÇÃO

Partido de Erundina exigiu valor de cada um dos 83 postulantes a disputar vaga de vereador

PSB impõe taxa de R$ 1,6 mil para lançar candidatos em SP

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O PSB cobrou de 83 pré-candidatos a vereador na cidade de São Paulo uma taxa de R$ 1,6 mil a título de "registro de candidatura". Quatro ex-candidatos do partido afirmaram ontem, em entrevista à Folha, que a sigla condicionou o pagamento, que não é previsto no Código Eleitoral, ao início do processo de registro no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) paulista.
Indagada a respeito, a candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina, disse desconhecer o assunto e não soube explicar se também pagou ou não alguma taxa para o partido. "Não tenho tempo para discutir essas coisas."
O presidente do diretório municipal do PSB, José Carlos Venâncio, confirmou que pretende captar R$ 90 mil e que esse dinheiro será usado para "ajudar a máquina do partido".
Depois da aliança fechada entre Erundina e o PMDB, 28 dos pré-candidatos do PSB que tinham o sinal verde do partido acabaram sem legenda para o registro de seus nomes na disputa eleitoral.
Alguns pediram e conseguiram a devolução do dinheiro. No "recibo de devolução", o PSB diz que a taxa seria usada para "registro de candidatura, para pagamento de honorários advocatícios".
Contrariamente ao que afirmam os recibos, tanto o advogado contratado pelo partido, Iberê Bandeira de Mello Filho, quanto Venâncio declararam que os recursos não foram usados para pagar o escritório de advocacia.
O ex-candidato Gabriel Henrique Fernandes Pelicho, 28, comerciante na zona oeste, disse que todo o trabalho de obtenção de certidões negativas na Justiça e outros documentos em órgãos públicos para o registro foi feito às custas dos próprios candidatos.
A taxa também foi cobrada de Pelicho. Ele emitiu três cheques para o partido, um à vista, de R$ 540,00, e os outros dois de R$ 530,00 cada um com vencimento nos dias 25 de julho de 25 de agosto -cópias dos cheques foram apresentadas à reportagem.
Segundo ele, se não houvesse pagamento, não haveria candidatura. Como foi barrado no processo, pediu o dinheiro de volta. No "recibo de devolução" emitido pela sigla, consta que ele "renunciou à candidatura" o que, segundo Pelicho, jamais ocorreu.
O funcionário do TRF (Tribunal Regional Federal) Geraldo dos Santos, 50, que já trabalhou em campanhas eleitorais de Erundina, teve de pagar, além dos R$ 1,6 mil, mais R$ 260,00 referentes a "dez anuidades". Os filiados pagam, por ano, R$ 26,00 ao PSB.
O depósito foi feito numa conta do diretório municipal da sigla. Como os outros ex-candidatos, Santos disse ter sido preterido na escolha final do partido. Para ele, isso ocorreu porque é da corrente que apóia o ex-integrante do PSB municipal Anizio Batista, ex-administrador regional do Ipiranga na gestão Erundina (1989-1992).
A corrente de Batista briga na Justiça para tentar anular a posse de Venâncio no diretório municipal, o que poderia comprometer a própria candidatura de Erundina.
A taxa também foi cobrada do ex-candidato Mauricio José Cordeiro, 42, da zona leste de SP. Ele fez dois depósitos, um de R$ 1,1 mil e outro de R$ 500, na conta do diretório do PSB em São Paulo, numa agência do Banco do Brasil.
Cícero Santana da Silva, 42, o "Cícero Perueiro", pagou tudo à vista. Como teve a candidatura barrada, pediu e obteve o dinheiro de volta. Disse ter investido cerca de R$ 30 mil por conta própria nos preparativos para a campanha. "Todos nós tivemos um prejuízo moral. Anunciamos a candidatura para todo mundo."


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