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ELEIÇÕES 2004/INVESTIGAÇÃO
Partido de Erundina exigiu valor de cada um dos 83 postulantes a disputar vaga de vereador
PSB impõe taxa de R$ 1,6 mil para lançar candidatos em SP
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O PSB cobrou de 83 pré-candidatos a vereador na cidade de São
Paulo uma taxa de R$ 1,6 mil a título de "registro de candidatura".
Quatro ex-candidatos do partido
afirmaram ontem, em entrevista à
Folha, que a sigla condicionou o
pagamento, que não é previsto no
Código Eleitoral, ao início do processo de registro no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) paulista.
Indagada a respeito, a candidata
do PSB à Prefeitura de São Paulo,
Luiza Erundina, disse desconhecer o assunto e não soube explicar
se também pagou ou não alguma
taxa para o partido. "Não tenho
tempo para discutir essas coisas."
O presidente do diretório municipal do PSB, José Carlos Venâncio, confirmou que pretende captar R$ 90 mil e que esse dinheiro
será usado para "ajudar a máquina do partido".
Depois da aliança fechada entre
Erundina e o PMDB, 28 dos pré-candidatos do PSB que tinham o
sinal verde do partido acabaram
sem legenda para o registro de
seus nomes na disputa eleitoral.
Alguns pediram e conseguiram
a devolução do dinheiro. No "recibo de devolução", o PSB diz que
a taxa seria usada para "registro
de candidatura, para pagamento
de honorários advocatícios".
Contrariamente ao que afirmam os recibos, tanto o advogado contratado pelo partido, Iberê
Bandeira de Mello Filho, quanto
Venâncio declararam que os recursos não foram usados para pagar o escritório de advocacia.
O ex-candidato Gabriel Henrique Fernandes Pelicho, 28, comerciante na zona oeste, disse
que todo o trabalho de obtenção
de certidões negativas na Justiça e
outros documentos em órgãos
públicos para o registro foi feito às
custas dos próprios candidatos.
A taxa também foi cobrada de
Pelicho. Ele emitiu três cheques
para o partido, um à vista, de R$
540,00, e os outros dois de R$
530,00 cada um com vencimento
nos dias 25 de julho de 25 de agosto -cópias dos cheques foram
apresentadas à reportagem.
Segundo ele, se não houvesse
pagamento, não haveria candidatura. Como foi barrado no processo, pediu o dinheiro de volta.
No "recibo de devolução" emitido pela sigla, consta que ele "renunciou à candidatura" o que, segundo Pelicho, jamais ocorreu.
O funcionário do TRF (Tribunal
Regional Federal) Geraldo dos
Santos, 50, que já trabalhou em
campanhas eleitorais de Erundina, teve de pagar, além dos R$ 1,6
mil, mais R$ 260,00 referentes a
"dez anuidades". Os filiados pagam, por ano, R$ 26,00 ao PSB.
O depósito foi feito numa conta
do diretório municipal da sigla.
Como os outros ex-candidatos,
Santos disse ter sido preterido na
escolha final do partido. Para ele,
isso ocorreu porque é da corrente
que apóia o ex-integrante do PSB
municipal Anizio Batista, ex-administrador regional do Ipiranga
na gestão Erundina (1989-1992).
A corrente de Batista briga na
Justiça para tentar anular a posse
de Venâncio no diretório municipal, o que poderia comprometer a
própria candidatura de Erundina.
A taxa também foi cobrada do
ex-candidato Mauricio José Cordeiro, 42, da zona leste de SP. Ele
fez dois depósitos, um de R$ 1,1
mil e outro de R$ 500, na conta do
diretório do PSB em São Paulo,
numa agência do Banco do Brasil.
Cícero Santana da Silva, 42, o
"Cícero Perueiro", pagou tudo à
vista. Como teve a candidatura
barrada, pediu e obteve o dinheiro de volta. Disse ter investido
cerca de R$ 30 mil por conta própria nos preparativos para a campanha. "Todos nós tivemos um
prejuízo moral. Anunciamos a
candidatura para todo mundo."
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