São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2007

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Desafio carlista é sobreviver ao novo DEM

Modernização do partido e risco de pulverização do grupo complicam luta pela herança política de ACM

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

A morte do poderoso senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) completa o ciclo de mudanças do PFL, 22 anos depois de sua fundação: trocou a sigla para DEM, substituiu o ex-senador Jorge Bornhausen (SC) depois de décadas na presidência e está em busca de uma nova imagem, mais moderna, para se contrapor à esquerda. Quem está no comando é a "turma jovem", sem o carimbo do apoio à ditadura militar que vem da Arena e do PDS.
Como Bornhausen vem dizendo há meses, toda a sua geração (incluindo aí ACM) passou a ser coisa do passado. Sua fixação é o DEM se projetar para o futuro, criando condições de maior independência do PSDB (com o qual dividiu chapas em 1994, 1998 e 2006) para disputar eleições presidenciais com candidaturas próprias.
Os dois líderes viviam às turras. ACM, o passional coronel nordestino, e Bornhausen, sulista e frio, discordaram várias vezes, inclusive sobre ser ou não oposição a Lula. Bornhausen venceu as duas últimas batalhas: o DEM é o partido que faz oposição mais nítida ao governo, e o novo presidente é o deputado Rodrigo Maia (RJ), não seu colega ACM Neto (BA).
"Mas todos vão prestigiar o ACM Neto, que não é apenas um político talentoso e competente como também o herdeiro natural do mito que ACM continuará sendo durante muito tempo na Bahia, um mito fundamental para o partido", disse Rodrigo Maia.
ACM Neto é, de fato, prestigiado no DEM e no próprio Congresso, mas a verdade é que o espólio carlista vem se esgarçando devagar e sempre desde que o deputado federal Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA) morreu, em 21 de abril de 1998.
O velho senador, que só em raros momentos provou o gosto de ser oposição, como no governo Lula, comandou seu grupo político na Bahia com mão de ferro, selecionando nas universidades quadros bem-formados e obedientes, a quem impôs uma lei: ele mandava, todos obedeciam.
Se foi autoritário e antigo na forma, ACM também foi considerado moderno e desenvolvimentista no conteúdo. Mesmo setores da esquerda, como o deputado e ex-ministro Aldo Rebelo (PC do B-SP), admitem que a Bahia que ele deixa avançou muito mais, em várias áreas, do que os vizinhos nordestinos -o Maranhão de José Sarney, por exemplo.

Direções do carlismo
Com sua morte e depois da surpreendente derrota para o PT, em 2006, haverá certamente um reequilíbrio no grupo carlista. São muitos os que despontaram pelas mãos de ACM e que foram jogados ao mar também por ele. Enquanto Luís Eduardo era vivo e sucessor inquestionável na Bahia, com pretensões de disputar a Presidência já em 2002, as ambições do grupo carlista estavam sob controle. Ninguém ousaria competir com o filho do rei.
A morte de Luís Eduardo, de infarto, aos 43 anos, destampou uma espécie de panela de pressão. Os personagens da política baiana passaram a disputar não apenas espaço de poder mas, principalmente, as graças do grande cacique.
Com o acirrar das disputas internas do grupo, começaram também as derrotas nas urnas. Mas o carlismo baiano mantém duas cadeiras no Senado, a do próprio ACM e a do ex-governador César Borges, numa bancada de 17 do partido. Tem ainda uma influência mais ou menos direta sobre um universo estimado em 20 deputados federais, numa bancada de 57.
Sem ACM, o grupo continuará unido, porque senão será fatalmente vencido. Mas a liga é mais difícil, e a liderança certamente será disputada a foice.


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