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Desafio carlista é sobreviver ao novo DEM
Modernização do partido e risco de pulverização do grupo complicam luta pela herança política de ACM
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
A morte do poderoso senador Antonio Carlos Magalhães
(DEM-BA) completa o ciclo de
mudanças do PFL, 22 anos depois de sua fundação: trocou a
sigla para DEM, substituiu o
ex-senador Jorge Bornhausen
(SC) depois de décadas na presidência e está em busca de
uma nova imagem, mais moderna, para se contrapor à esquerda. Quem está no comando é a "turma jovem", sem o carimbo do apoio à ditadura militar que vem da Arena e do PDS.
Como Bornhausen vem dizendo há meses, toda a sua geração (incluindo aí ACM) passou a ser coisa do passado. Sua
fixação é o DEM se projetar para o futuro, criando condições
de maior independência do
PSDB (com o qual dividiu chapas em 1994, 1998 e 2006) para
disputar eleições presidenciais
com candidaturas próprias.
Os dois líderes viviam às turras. ACM, o passional coronel
nordestino, e Bornhausen, sulista e frio, discordaram várias
vezes, inclusive sobre ser ou
não oposição a Lula. Bornhausen venceu as duas últimas batalhas: o DEM é o partido que
faz oposição mais nítida ao governo, e o novo presidente é o
deputado Rodrigo Maia (RJ),
não seu colega ACM Neto (BA).
"Mas todos vão prestigiar o
ACM Neto, que não é apenas
um político talentoso e competente como também o herdeiro
natural do mito que ACM continuará sendo durante muito
tempo na Bahia, um mito fundamental para o partido", disse
Rodrigo Maia.
ACM Neto é, de fato, prestigiado no DEM e no próprio
Congresso, mas a verdade é que
o espólio carlista vem se esgarçando devagar e sempre desde
que o deputado federal Luís
Eduardo Magalhães (PFL-BA)
morreu, em 21 de abril de 1998.
O velho senador, que só em
raros momentos provou o gosto de ser oposição, como no governo Lula, comandou seu grupo político na Bahia com mão
de ferro, selecionando nas universidades quadros bem-formados e obedientes, a quem
impôs uma lei: ele mandava, todos obedeciam.
Se foi autoritário e antigo na
forma, ACM também foi considerado moderno e desenvolvimentista no conteúdo. Mesmo
setores da esquerda, como o deputado e ex-ministro Aldo Rebelo (PC do B-SP), admitem
que a Bahia que ele deixa avançou muito mais, em várias
áreas, do que os vizinhos nordestinos -o Maranhão de José
Sarney, por exemplo.
Direções do carlismo
Com sua morte e depois da
surpreendente derrota para o
PT, em 2006, haverá certamente um reequilíbrio no grupo
carlista. São muitos os que despontaram pelas mãos de ACM e
que foram jogados ao mar também por ele. Enquanto Luís
Eduardo era vivo e sucessor inquestionável na Bahia, com
pretensões de disputar a Presidência já em 2002, as ambições
do grupo carlista estavam sob
controle. Ninguém ousaria
competir com o filho do rei.
A morte de Luís Eduardo, de
infarto, aos 43 anos, destampou uma espécie de panela de
pressão. Os personagens da política baiana passaram a disputar não apenas espaço de poder
mas, principalmente, as graças
do grande cacique.
Com o acirrar das disputas
internas do grupo, começaram
também as derrotas nas urnas.
Mas o carlismo baiano mantém
duas cadeiras no Senado, a do
próprio ACM e a do ex-governador César Borges, numa bancada de 17 do partido. Tem ainda uma influência mais ou menos direta sobre um universo
estimado em 20 deputados federais, numa bancada de 57.
Sem ACM, o grupo continuará unido, porque senão será fatalmente vencido. Mas a liga é
mais difícil, e a liderança certamente será disputada a foice.
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