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CELSO PINTO
Incentivo para
cortar pessoal
Os ministérios não serão
obrigados a colocar funcionários em disponibilidade,
pelos termos do decreto que
deverá ser anunciado na próxima quinta-feira. Quem o fizer, contudo, poderá gastar
90% do que economizar em
investimentos prioritários de
sua área.
Quer dizer, o objetivo do
pacote de redução de gastos
com pessoal não é apenas fiscal, para economizar recursos. Em parte, ele vai procurar estimular uma melhora
na qualidade do gasto.
Na verdade, nem dá para se
ter objetivos fiscais muito
ambiciosos na área de gastos
com pessoal no governo federal. O gasto com pessoal da
União é de R$ 52 bilhões. A
parcela que é possível atingir,
contudo, é apenas a dos funcionários federais civis, ativos, que devem consumir R$
12 bilhões este ano.
Dos R$ 52 bilhões, metade
vai para funcionários inativos, onde a despesa é imcomprimível e o déficit chegará a
R$ 18 bilhões este ano. O resto
é despesa com militares, Judiciário e Legislativo.
O Banco Central chegou a
imaginar uma economia de
R$ 1,5 bilhão com o pacote da
próxima semana, mas ela deverá ser muito menor. Parte
virá de reduções voluntárias,
por demissão voluntária, ou
pela extensão de licenças
não-remuneradas. No caso
das demissões, há um gasto
imediato com indenizações e
um ganho permanente no futuro.
O governo federal não pode
demitir, porque gasta menos
do que o limite fixado pela
Lei Camata, de 60% da receita líquida com gastos de pessoal. A alternativa será usar
outros expedientes: colocar o
funcionário em disponibilidade, com um salário proporcional, conforme o tempo de
trabalho, e reduzir a jornada
de trabalho.
Não haverá metas, nem cotas mínimas para os ministérios colocarem funcionários
em disponibilidade, mas haverá um estímulo para quem
o fizer. Os ministérios poderão usar 90% dos recursos gerados pela economia em investimentos em projetos prioritários.
A definição dos 350 programas prioritários do governo
será feita pelo Plano Plurianual, que será enviado ao
Congresso até o final de agosto. O orçamento do próximo
ano definirá recursos para os
programas, normalmente
multiministeriais.
A inspiração destes programas é o longo trabalho de definição dos "Eixos Nacionais
de Integração e Desenvolvimento", feito por consultorias
privadas, desde março do
ano passado. Foram definidos eixos geográficos que fazem sentido econômico e programas que possam ter um
impacto amplo sobre o desenvolvimento, com investimentos divididos entre o governo
e a iniciativa privada.
Cada programa terá um gerente responsável e metas a
cumprir. Quem cumpri-las,
terá garantia de recursos orçamentários para continuar
o programa. Quem não cumprir, não recebe o dinheiro e
terá que se justificar.
É claro, contudo, que não
haverá dinheiro suficiente
para tocar todos os programas ao mesmo tempo. O uso
dos recursos gerados por economia de gastos com pessoal,
neste sentido, poderá reforçar
os gastos produtivos dos ministérios.
Os ministros vão propor listas de funcionários que querem colocar em disponibilidade e caberá à Secretaria de
Orçamento e Gestão checar a
aprovar. A intenção é evitar
cortes em áreas estratégicas.
Além destas medidas, que
devem estar num decreto
anunciado dia 29, o governo
deverá anunciar outra medida, no dia seguinte, reduzindo o número de cargos de
confiança nos ministérios.
Nesse caso, haverá metas
compulsórias por ministérios.
Embora estes sejam os cargos com salários mais altos, o
objetivo da medida não é só o
de economizar recursos. A intenção é readaptar a estrutura dos ministérios à nova estrutura do Orçamento da
União. Ou seja, reorganizar o
organograma conforme o novo modelo de execução orçamentária por programas e
com gerências em diferentes
níveis, o que deverá enxugar
o número de cargos de confiança.
Poder de Berkeley
Um dos ganhadores com as
mudanças recentes em Brasília foi o professor Albert Fishlow, hoje no Council of Foreign Affairs. Ficou com três
amigos e ex-alunos seus na
Universidade da Califórnia,
em Berkeley, em postos importantes da área econômica:
o ministro da Fazenda, Pedro
Malan, o presidente do
BNDES, Andrea Calabi e o
presidente do Banco do Brasil, Paolo Zaghen.
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