São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INVESTIGAÇÃO

Promotoria quer quebrar sigilos bancário e telefônico de ex-governador e indisponibilizar bens no exterior

Fleury negociou ouro na Suíça, diz ação

ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Promotoria de Justiça da Cidadania ingressou ontem com uma ação cautelar contra o ex-governador paulista Luiz Antonio Fleury Filho (PTB), na qual o acusa de ter negociado ouro na Suíça.
A ação é assinada pelos promotores Andréa Chiaratti do Nascimento Rodrigues Pinto e Silvio Antonio Marques, que pedem a quebra do sigilo bancário de Fleury, a partir de janeiro de 1991.
Também são réus na ação, e sujeitos ao mesmo pedido, o ex-funcionário público Frederico Pinto Ferreira Coelho Neto, irmão do ex-governador e conhecido como "Lilico", o empresário José Pascoal Constantini e outras cinco empresas: Atlas DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), Atlas Factoring Fomento Mercantil, Únicos Comércio e Administração, Únicos Construtora e MPA Comércio.
Na petição inicial da ação cautelar, o nome de "Lilico" foi incorretamente grafado como "Fernando" em vez de Ferreira".
Os promotores também pediram à Justiça que decrete a indisponibilidade dos bens e importâncias eventualmente depositadas no exterior em nome dos réus e que a Justiça solicite às autoridades da Suíça e dos Estados Unidos cópias dos extratos das contas que os réus eventualmente mantenham nesses países.
A Promotoria pediu, ainda, a decretação da quebra do sigilo das ligações telefônicas internacionais dos réus e de suas declarações de Imposto de Renda.
Finalmente, os promotores pedem que sejam enviadas cartas rogatórias ao Escritório Federal de Justiça da Suíça em Berna e para o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, para pedir que sejam cumpridas as decisões eventualmente tomadas pela Justiça brasileira. A ação está na Fazenda Pública de São Paulo.

Investigação
O Ministério Público do Estado de São Paulo iniciou as investigações sobre o ex-governador Fleury quando um ex-motorista da Atlas foi autuado pela Receita Federal por ter movimentado irregularmente mais de R$ 31 milhões, no ano passado.
A partir daí, Hilário Sestini Júnior, que foi funcionário da Atlas, prestou depoimentos ao promotor José Carlos Blat, nos quais falou sobre a suposta participação de Fleury em eventuais irregularidades cometidas pela Atlas.
Sestini Júnior está sendo processado por ter, supostamente, desviado cerca de 57 kg de ouro da Atlas. Ele nega a acusação e diz que se trata de uma represália.
A testemunha entregou ao Ministério Público cópia de um depósito de mais de 40,7 kg de ouro, no valor de 600 mil francos suíços (cerca de R$ 1,2 milhão) feito em uma empresa de Zurique, na Suíça. Ele diz que acompanhou pessoalmente a remessa do ouro.
Na ação, o Ministério Público diz suspeitar que o dinheiro tenha origem pública. Segundo a Promotoria, a Único Construtora Ltda, que é sócia da Atlas, deve contratos com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo) no governo Fleury (1993-96).
O MP ainda não sabe o valor dos contratos entre a Atlas e a CDHU, mas afirma já ter pedido informações.
Outras três testemunhas disseram ao MP ter visto Fleury na sede da Atlas. Marco Antônio de Souza Pereira, portador de valores da empresa, fez declaração por escrito sobre o assunto.



Texto Anterior: Outro Lado: Advogados fazem crítica à atuação da Promotoria
Próximo Texto: Outro Lado: Ex-governador nega existência de conta no exterior
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.