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'Mídia contribui para desinteresse eleitoral'
Folha - Qual é a influência da mídia na cena política americana?
Thomas E. Patterson - Recentemente, aqui nos EUA, o principal
aspecto da cobertura da mídia
tem sido mostrar ao público os
"defeitos" dos candidatos, o que
prejudica o jogo político. A cobertura da imprensa é muito crítica,
dando ao eleitorado a impressão
de que a política é "viciada".
Na última eleição presidencial,
por exemplo, [George W.] Bush e
[Al] Gore foram alvo de incontáveis reportagens negativas. Isso
tanto no que se refere ao conteúdo de seus programas quanto no
âmbito pessoal. Em termos percentuais, cerca de 60% eram negativos, e somente 40% eram positivos. Isso mina a reputação dos
candidatos perante os eleitores e
gera um certo desinteresse.
A mídia americana gosta de atacar qualquer aspecto dos candidatos que seja passível de críticas.
Nada é velho demais ou insignificante demais caso possa "render
uma boa história". Assim, nos últimos dias da campanha presidencial, em 2000, a notícia de que
Bush tinha sido pego dirigindo alcoolizado 25 anos antes foi manchete dos principais jornais durante três ou quatro dias.
Questões relacionadas à política
externa e às propostas dos dois
candidatos nessa área foram ofuscadas pela notícia que acabei de
mencionar. A verdade é que a mídia procura "boas histórias", temas que sejam rentáveis editorialmente. E, em última análise, a imprensa americana prefere fatos
negativos a positivos.
Com isso, ela não contribui para
o debate político de modo positivo. Buscando a audiência a qualquer custo, a mídia não cumpre o
papel social que é esperado dela e
não assume a responsabilidade
política que lhe cabe.
Folha - Como o público americano reage a essa constatação?
Patterson - Todo mundo gosta
de boas histórias, porém isso não
significa que o interesse dos eleitores pela política aumente por
causa delas. Nos estudos que fizemos sobre a eleição de 2000, descobrimos que, quando a história
sobre Bush dirigindo alcoolizado
veio à tona, houve uma grande
resposta popular. Contudo isso
ocorreu porque se tratava de algo
sensacionalista. Ou seja, as pessoas querem ver o circo pegar fogo, mas isso não melhora o conceito que elas têm dos políticos.
A longo prazo, por outro lado,
esse tipo de notícia prejudica o
debate político na sociedade porque, na verdade, não tem nada de
verdadeiramente político em seu
conteúdo. Para os eleitores, a reputação dos candidatos e a validade das eleições têm diminuído
com o tempo por causa desse tipo
de cobertura da imprensa. É claro
que isso não ocorre de modo maciço, porém é importante ressaltarmos que isso acaba ocorrendo.
Folha - Isso enfraquece as bases
do sistema democrático?
Patterson - Não creio que se trate de uma ameaça. Todavia é certo
que esse tipo de cobertura não
ajuda a fortalecer a democracia. A
arena eleitoral tem um melhor
funcionamento quando as pessoas são mais bem informadas e
participativas. Isso não é uma verdadeira ameaça ao sistema democrático porque, com o tempo, as
pessoas tendem a esquecer-se da
tempestade de críticas de que são
alvo os candidatos.
A maioria das democracias
mais sólidas consegue transpor
esse tipo de obstáculo porque o
sistema como um todo é mais forte do que os ataques a ele desferidos. Por outro lado, seria positivo
que o debate político levasse mais
em consideração questões de
conteúdo do que fatos isolados,
que podem minar a credibilidade
de algum candidato.
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