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REFORMA AOS PEDAÇOS
Destaques serão votados na terça; base pede mudanças
Governo aprova tributária na comissão, mas vai negociar
RANIER BRAGON
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo conseguiu aprovar
ontem, por 27 votos a 11, o texto-base do relatório do deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG) na comissão da Câmara encarregada de examinar a reforma
tributária -com a promessa de
reabrir, já na próxima semana,
negociações para as mudanças
pleiteadas por aliados, oposicionistas, governadores e prefeitos.
A sessão, aberta às 10h, só foi encerrada às 16h20. A demora só
não foi maior porque os governistas fizeram um acordo com o PFL
e o PSDB para adiar para terça a
votação dos destaques (pontos específicos para votação em separado). Ao anunciar o acordo na comissão, o líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP),
foi conciliador, com elogios ao
papel dos oposicionistas -e, em
particular, ao presidente da comissão, Mussa Demes (PFL-PI).
Um dia antes, os governistas haviam ensaiado um conflito aberto
com a oposição, depois que Demes aceitou um pedido para cancelar a sessão por falta de quórum. Os aliados estudaram destituir a comissão, mas recuaram
com medo de comprometer a votação da reforma da Previdência.
Contrários à proposta tributária, os oposicionistas ameaçam
retaliar caso o governo faça valer
sua maioria para apressar a discussão do projeto. Sem os votos
do PFL e do PSDB, a reforma da
Previdência teria sido rejeitada
em primeiro turno pela Câmara.
Como na véspera, os minoritários pefelistas (seis dos 38 membros da comissão) e tucanos (cinco deputados na comissão) obstruíram a sessão com manobras
regimentais, fazendo uso da palavra sempre que o regimento permitia e exigindo formalidades
normalmente ignoradas no cotidiano do Congresso.
Fizeram questão, por exemplo,
que fossem lidas -e debatidas-
as atas das duas sessões anteriores
da comissão. O deputado Anivaldo Vale (PSDB-PA) usou sua intervenção no "debate" para parabenizar a secretaria da comissão
pela "capacidade de síntese" na
redação das atas. Foram apresentados dez requerimentos de adiamento da sessão, o primeiro por
dez dias, o segundo por nove, o
terceiro por oito e assim por diante. Todos foram rejeitados.
Atraso
Os artifícios foram suficientes
para atrasar por duas horas o início dos discursos. Pelo regimento,
deve haver um mínimo de dez
pronunciamentos, metade a favor
e metade contra o projeto.
Por terem chegado mais cedo
no dia anterior, os oposicionistas
asseguraram para si nove das inscrições para falar -as cinco contra e quatro "a favor". O único
aliado a discursar, Francisco Dornelles (PP-RJ), também fez críticas ao projeto, apontando que há
risco de aumento de impostos.
Após o acordo que pôs fim à
obstrução, que já durava cinco
horas, restou ao relator Virgílio
Guimarães a tarefa de defender
sozinho seu texto, no pronunciamento anterior à votação. Guimarães disse que as críticas se dirigiam mais à reforma que ao relatório, argumentando ter havido
"avanços" na comissão, quando o
projeto incorporou várias das demandas regionais e empresariais.
O relatório aprovado preserva
as propostas que interessam ao
governo: a prorrogação da CPMF,
que, pelo projeto, se torna uma
contribuição permanente, e da
DRU (Desvinculação das Receitas
da União, que permite o uso livre
de 20% da receita dos tributos).
No restante, houve uma série de
modificações, das quais a principal foi a introdução de um prazo
de oito anos para a preservação
dos atuais benefícios fiscais concedidos pelos Estados e para a
mudança na distribuição das receitas do ICMS. Mesmo assim, o
relatório não obteve consenso
nem entre os governistas, que só
concordaram em aprová-lo ontem com a promessa de novas alterações na votação em plenário.
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