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JULGAMENTO DO MENSALÃO
Advogados afirmam que denúncia é "peça de ficção"
Defesa diz que mensalão nunca existiu e compara acusação a processos da ditadura
Dois argumentos técnicos foram usados nos discursos: falta de individualização dos delitos e erro na imputação dos crimes aos acusados
RANIER BRAGON
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os advogados que começaram ontem a defender no plenário do Supremo os 40 acusados no mensalão atacaram duramente a denúncia assinada
pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de
Souza, chamando-a de "peça de
ficção" e de produto da "imaginação" dele. Defensores também sustentaram a tese de que
não houve mensalão.
O ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, que defende diretores do Banco Rural, suposto braço financeiro do esquema, comparou a acusação a
processos políticos do tempo
da ditadura. "Lembro-me de
quando defendíamos os perseguidos políticos. Eram denúncias dispersas e que pecavam
pelas generalizações. Me desculpe, procurador, mas sua denúncia é um pouco assim."
Dois argumentos técnicos foram usados na maioria dos discursos feitos pelos 17 advogados, representando 22 dos 40
acusados, que falaram até às
19h30: a suposta ausência de
individualização dos delitos cometidos por cada um dos 40
acusados -a denúncia teria relatado as condutas de forma coletiva-, além de erro na imputação de crimes aos acusados.
O primeiro a falar foi José
Luís Mendes de Oliveira Lima,
advogado do ex-ministro José
Dirceu, apontado como o chefe
do esquema. Lima iniciou sua
fala dizendo que poderia classificar a denúncia como "panfleto partidário", mas acabou chamando-a de "peça de ficção".
"Não tem na denúncia nenhuma individualização da suposta conduta criminosa do ex-ministro. O procurador o chamou de chefe de uma organização criminosa, o que a imprensa transformou em "chefe da
quadrilha". Mas quais atos permitem chegar a essa conclusão?", provocou.
O defensor do ex-presidente
do PT José Genoino disse que
seu cliente foi incluído na acusação "por um simples capricho" do procurador-geral. "Ele
é acusado a partir da premissa
falsa de que, por ter sido presidente do PT, era responsável
pelo que tenha acontecido",
disse Luiz Fernando Pacheco.
"O nome de Silvio Pereira
aparece como quadrilheiro não
porque ele fez alguma coisa
mas porque em determinado
momento histórico ele ocupou
o cargo de secretário-geral do
PT", disse o advogado Sérgio
Salgado Badaró, afirmando ser
equivocado considerar seu
cliente "estrela de primeira
grandeza no PT".
O advogado do ex-presidente
da Câmara João Paulo Cunha
(PT-SP), Alberto Toron, disse
que, por ser do PT, seu cliente
"não é mensaleiro, não receberia dinheiro para votar dessa ou
daquela maneira".
Crimes
Em relação aos oito crimes
que são listados na denúncia, os
advogados centraram críticas
nas acusações de formação de
quadrilha e lavagem de dinheiro. Os advogados reclamaram
que o procurador-geral listou o
crime de formação de quadrilha com o intuito de assegurar
manchetes nos jornais.
"Isso virou moda. Eu compreendo. Na hora de fazer a denúncia, o impacto de chamar de
quadrilheiros aqueles que comandam uma instituição financeira [no caso, o Rural] pega
bem na opinião pública. Estão
sendo chamados de quadrilheiros os banqueiros", disse Dias.
"A denúncia é imprestável.
(...) Se meu cliente formou quadrilha, sua opção profissional
foi um fiasco. A quebra de seus
sigilos mostra um homem pobre, de vida modesta", disse Arnaldo Malheiros Filho, representante do ex-tesoureiro do
PT Delúbio Soares. Para ele,
nunca "se provou nem de longe" a prática de mensalão.
Marcelo Leonardo, advogado
do publicitário Marcos Valério
de Souza, apontado como o
operador do mensalão, afirmou
que a acusação de que seu
cliente usou a mulher como laranja "é um típico caso de criação mental do procurador".
A crítica foi reforçada pelo
advogado de Rogério Tolentino, sócio de Valério. "A denúncia é, em parte, fruto da imaginação de seu subscritor", disse
Paulo Sérgio Abreu e Silva.
José Roberto Leal de Carvalho, defensor de Luiz Gushiken,
disse que Antonio Fernando
fez a denúncia baseado em declarações descontextualizadas.
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