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Senado emprega parentes de servidores não concursados
Funcionários dizem que contratações seguem normas e que não beneficiaram familiares
Claudia Lyra, secretária-geral da Mesa, que entrou antes da necessidade de concurso, tem filhas, irmãs e cunhado que também atuam na Casa
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Senado abriga em sua burocracia verdadeiros clãs encabeçados por funcionários que
entraram na Casa por meio do
"trem da alegria" que existia até
1988, ascenderam a postos-chaves e agora empregam mulheres, maridos, filhos, irmãos e
agregados com salários que podem chegar a até R$ 10 mil em
cargos de confiança -sem a necessidade de concurso público.
Há casos de famílias inteiras
acomodadas no Senado, como a
da secretária-geral da Mesa,
Claudia Lyra, que tem duas filhas, duas irmãs e o cunhado
empregados ali. Quando assumiu a presidência do Senado,
em 1985, José Fragelli (MS), já
morto, espantou-se com o que
encontrou. "O Senado é um loteamento familiar", disse ele.
Até 1988, não havia a obrigatoriedade do concurso. Com a
Constituição, os funcionários
já existentes foram efetivados.
Ao assumir a presidência da
Casa pela primeira vez, em
1995, José Sarney (PMDB-AP)
suspendeu concursos e aumentou o quadro de comissionados.
Só houve novos concursos em
1998 e outro em 2000.
Os servidores alegam que as
contratações foram feitas dentro das normas, negam que tenham beneficiado parente e
que muitos se conheceram no
próprio trabalho e se casaram.
Padrinho
O nome Sarney está ligado à
maioria dos clãs, sendo o senador o padrinho da indicação da
maioria de seus chefes. Sua filha, a hoje senadora Roseana
(PMDB-MA), também é funcionária da Casa -foi indicada
em 1982, está licenciada desde
1990 e, ao se aposentar, terá direito a R$ 5.000 mensais.
Na lista de agraciados pelo
apadrinhamento político estão
ainda o ex-secretário-geral do
Senado e hoje ministro do TCU
(Tribunal de Contas da União)
Raimundo Carreiro, o diretor
de recursos humanos, João
Carlos Zoghbi, e o diretor-geral
do Senado, Agaciel Maia.
A mulher de Agaciel, Sanzia
Maia, é coordenadora de estágios. Ele e Claudia Lyra ingressaram no Senado sem prestar
concurso e hoje estão nos cargos mais importantes da Casa.
As filhas de Claudia trabalham meio período com salários de cerca de R$ 4.000 brutos. Marina, na Comissão de
Desenvolvimento Regional e
Turismo. Carla está na liderança do PMDB desde 2003.
A irmã de Claudia, Martha
Lyra, é chefe-de-gabinete da
Presidência do Senado, com salário superior a R$ 10 mil. O
marido de Martha, Carlos
Eduardo Bicalho, atua no gabinete do senador Antonio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA). Também foi Sarney quem
indicou Martha a essa função.
Márcia, a outra irmã, é lotada
na Secretaria Geral da Mesa,
subordinada à irmã. A Folha
não conseguiu esclarecer se ela
foi concursada ou não.
Nomeada por Renan Calheiros (PMDB-AL) para comandar a secretaria-geral da Mesa,
Cláudia foi acusada pela oposição de atuar para ajudar o senador a manobrar os processos
contra o senador no conselho.
Agaciel foi acusado de mandar seus subordinados separar
material que pudessem ser
usados por Renan para pressionar seus adversários. Ambos
negam favorecimento a Renan.
Raimundo Carreiro construiu sua trajetória no Senado,
e empregou mulher, os três filhos e uma sobrinha -nenhum
deles passou por concurso.
A mulher do ministro, Maria
José Carreiro, é lotada na Diretoria Geral do Senado. Dois dos
filhos trabalham meio período
no serviço médico da Casa.
O diretor de RH Zoghbi tem
mulher, um filho, a nora e a cunhada na área administrativa.
A mulher de Zoghbi, Denise,
que dirige o Instituto Legislativo Brasileiro, tem salário de
cerca de R$ 10 mil. Ex-chefe-de-gabinete de Sarney, João
Roberto Baére atua na Consultoria do Senado. A irmã, Denise
de Ortega Baére, é diretora da
Secretaria de Taquigrafia.
Segundo a assessoria do Senado, os cargos comissionados
na área técnica são 120 -54 na
Presidência e Secretaria Geral
da Mesa, 14 nas comissões temáticas, um no serviço médico,
um nas relações públicas, seis
no órgão central, 43 no órgão
de assessoramento superior e
um na coordenação de projeto.
Os números se chocam com
a realidade do Senado. Presidentes das dez comissões, por
exemplo, podem contratar até
oito funcionários sem concurso. O Senado afirma que há só
14. Dois filhos de Carreiro estão no serviço médico, e o Senado disse que só tem um funcionário sem concurso na área.
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