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"Publicidade-exaltação" invade os comerciais de TV
Propaganda enaltece firmeza do país na crise e a capacidade de superação dos brasileiros
Novas peças publicitárias de empresas públicas e privadas usam governo Lula como garoto-propaganda e falam até em "momento de ouro"
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresas aproveitam a popularidade do presidente Lula
e o momento econômico favorável para fazer do governo seu
garoto-propaganda.
Ambev, GM, Bradesco, Vale e
Embratel produziram comerciais de televisão recentes enaltecendo a firmeza do país na
crise, a capacidade de superação dos brasileiros, a harmonia
entre o público e o privado e a
relevância do país no mundo.
O Brasil é o país "da iniciativa
privada em equilíbrio com o setor público", diz a campanha
televisiva "Presença", do Bradesco, segundo maior banco
privado brasileiro.
"Há dez anos, quem poderia
imaginar a gente emprestando
dinheiro para o FMI?", lembra
o anúncio televisivo do carro
Aprile, da Chevrolet/GM.
"A crise foi passageira", avisa
comercial da maior siderúrgica
do mundo, a Vale.
"O Brasil vive um momento
de ouro", exalta o comercial da
Brahma, marca da Ambev.
Para as empresas e publicitários envolvidos nos comerciais
acima, trata-se de uma estratégia legítima, lógica e antiga (leia
texto nesta página).
De fato, não é a primeira vez
que o setor privado exibe o otimismo do momento em campanhas publicitárias.
Do milagre econômico da ditadura -quando a Volkswagen
exibiu um fusca desbravando o
país da rodovia Transamazônica- às tentativas de estabilização da economia, várias campanhas seguiram essa linha.
O problema é distinguir marketing da simples adulação
-em outras palavras, se o produto anunciado é o governo.
No passado, o Tribunal de
Contas da União (TCU) condenou toda a ex-diretoria da Petrobras em razão dos gastos da
empresa com campanhas publicitárias mostrando os benefícios do Plano Real.
A questão fica menos óbvia
quando os comerciais envolvem companhias 100% privadas com interesses no governo
ou aquelas nas quais o Estado
detém participação acionária.
O caso mais emblemático é o
da Embratel, empresa de telefonia e de transmissão de dados
adquirida em 1998 pelo grupo
empresarial do bilionário mexicano Carlos Slim.
Em julho, a empresa veiculou
um anúncio destacando um
programa oficial para fornecer
acesso à internet para escolas e
centros comunitários em que a
rede convencional não chega.
"Por iniciativa do Ministério
das Comunicações, que executa o maior programa de inclusão digital da América Latina",
informava o comercial.
A empresa diz ter apenas creditado, no comercial, a autoria
da iniciativa a quem a formulou
-o governo, que a contratara
para executar o programa.
São menos óbvias as implicações e motivações das campanhas de empresas como a Vale,
o Bradesco, a Ambev e a GM.
Criador do comercial do Bradesco, Alexandre Gama, presidente da agência Neogama/
BBH nega motivação política.
"O Bradesco é o banco mais
associado à base da pirâmide
social, a mesma base cuja ascensão está na raiz da recuperação econômica do país", afirma Alexandre Gama.
Curiosamente, no mês passado, o Bradesco foi pressionado
a demitir o executivo Roger Agnelli da presidência da Vale
-companhia da qual o banco é
acionista e cuja campanha na
TV também celebra o fato de o
país ter escapado da turbulência internacional.
As pressões contra Agnelli
decorreram justamente da falta de sintonia, alegada pelo presidente Lula, entre a política de
investimentos da Vale e as prioridades do governo.
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