GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A NOVA DÉLI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva incluirá na agenda comercial e diplomática que terá na Índia, para onde viajaria na noite de ontem, temas ligados à área social. Os brasileiros vão apresentar os programas Fome Zero e Bolsa-Família e ouvirão sobre o programa indiano de microcrédito.
"A Índia está interessada no Fome Zero, mas ainda não tem detalhes sobre o programa", diz a embaixadora do Brasil na Índia, Vera Barrouin Machado. É a primeira vez que questões sociais entram na agenda bilateral dos países.
Até ontem, por causa da reforma ministerial, ainda não havia sido definido se a reunião paralela entre os técnicos da área social dos dois países ocorrerá durante a visita de Lula. O Planalto ainda não havia confirmado o nome de quem iria representando o setor.
Uma das possibilidades é que o Executivo seja representado por Ana Fonseca, a secretária-Executiva do Bolsa-Família. José Graziano, cujo ministério respondia pelo Fome Zero, saiu do cargo.
A Índia tem o maior programa de distribuição de alimentos do mundo, coordenado pelo Ministério de Assuntos do Consumidor e Distribuição de Alimentos. Mas organizações não-governamentais e especialistas reunidos no Fórum Social Mundial, que ocorreu em Mumbai, entre os dias 16 e 21, disseram que o governo indiano enfrenta problemas no setor.
A economista Guita Sen, do Instituto Indiano de Administração e Comércio, a universidade mais renomada da Índia, afirmou que os alimentos não chegam a todas as famílias pobres. E que, em muitos casos, quando chegam, é em quantidade insuficiente. Segundo ela, muitas crianças abandonam a escola por não terem arroz para colocar na lancheira. A taxa de analfabetismo da Índia é de 40%.
A embaixadora informou que a mídia indiana vem dando destaque aos programas sociais do Brasil. Esse é um dos motivos pelos quais o governo interessou-se em conhecê-los, apesar das crises no setor. Ainda assim, o governo poderá mostrar que o Fome Zero atende a 1,9 milhão de famílias em 1.369 municípios e que o Bolsa-Família complementa a renda de 3,6 milhões de famílias.
Só que na Índia os problemas têm dimensões gigantescas, se comparados aos do Brasil. Só em Dharavi, a maior favela da Ásia, que fica em Mumbai, há 2 milhões de habitantes. Entre a população total de 1 bilhão de indianos, 24% vivem com menos de US$ 1 por dia- ou seja, estão abaixo do que se convencionou chamar internacionalmente de linha da pobreza.
Comercialmente, o ponto mais importante da visita de Lula será a assinatura do acordo entre o Mercosul e a Índia para reduzir a alíquota de uma lista de produtos. O volume das transações comerciais entre o Brasil e a Índia aumentou de US$ 300 milhões para US$ 1,2 bilhão nos últimos quatro anos.


Texto Anterior: Máquina: União cria 2.797 cargos e funções gratificadas
Próximo Texto: Panorâmica - Meio ambiente: Ibama multa Duda por construção irregular de pista de pouso na Bahia
Índice