São Paulo, terça, 24 de fevereiro de 1998

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No Pontal, novos grupos preocupam UDR

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
em Presidente Prudente

O surgimento de novos movimentos de sem-terra no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo) preocupa tanto o MST como a UDR.
O MST já não tem o monopólio na região. Os trabalhadores estão fragmentados em pelo menos dez novos movimentos.
Com pouco poder de negociação com o governo, os novos grupos apelam para a ousadia e a violência. Desde setembro do ano passado, 11 pessoas ficaram feridas e 3 foram feitas reféns em ações de sem-terra desvinculados do MST.
Fazem parte destes novos movimentos, em sua maioria, os sem-terra que não foram assentados por não cumprir as exigências do Incra e do Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo). "Eles pensam que, se juntando a líderes radicais, vão conseguir seu lote na marra", diz a coordenadora do Itesp, Tânia Andrade.
O fim da unidade dos sem-terra foi um dos temas do encontro regional que o MST realizou há dois meses na região.
Para o líder José Rainha Jr., os movimentos criados nos últimos meses "têm vida curta" e podem estar sendo manipulados por políticos. "Esse pessoal pode se tornar um instrumento da direita."
Violência
O presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Roosevelt Roque dos Santos, diz que o governo, ao ceder às pressões dos sem-terra, estimula o surgimento de novos grupos.
Para o ruralista, o MST já não controla os sem-terra, o que pode gerar mais violência.
"O MST tem endereço, líder conhecido. Os outros, nem sabemos quem são, não têm compromisso com nada", disse Santos.
A dissidência cresceu depois que o MST desmontou seis acampamentos na região para concentrar todas as famílias na fazenda Santa Clara, em Mirante do Paranapanema (640 km a oeste de SP).
Pioneiro nas invasões no Pontal, o sem-terra João Mendes não gostou da decisão e tentou manter um acampamento com a bandeira do MST em Tarabai (610 km a oeste de SP). Durou poucos dias.
Ele foi expulso do MST. Mendes montou então o Movimento Terra e Cidadania, que tenta estender à região de Avaré.
Há pouco mais de um mês, 64 famílias deixaram Mendes para formar um outro grupo, o Movimento Terra da Esperança, que acampou em uma fazenda em Presidente Bernardes (605 km a oeste de São Paulo).
Recém-promovido a líder, Pedro José da Silva, 53, que também passou pelo MST, ensaia um discurso crítico aos próprios sem-terra.
"O MST tem matador de boi de fazendeiro. Nós, não. A gente entrou na fazenda e está cuidando do gado do dono, ele comprou", afirma Silva.
O ex-caminhoneiro Richard Sorigotti, 27, se tornou, em novembro, o único dirigente do Movimento Terra Brasil. Ele vinha da Associação Brasileiros Unidos Querendo Terra.
Só em janeiro, Sorigotti comandou seus sem-terra em dois tiroteios com seguranças da fazenda Natal, em Caiuá (650 km a oeste de São Paulo). A família do fazendeiro Armando Alves afirma que os sem-terra, encapuzados e armados, mantiveram o administrador da fazenda como refém.
"Ainda vamos entrar em muita fazenda", diz ele, que invadiu a fazenda Porto Velho, em Presidente Epitácio (675 km a oeste de São Paulo), há um mês.



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