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SER OU NÃO SER
Partido "segura" Roseana para manter unidade, mas suas facções trabalham em busca de alternativa de poder
Órfão, PFL vive fantasma da divisão interna
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O que está em jogo no PFL não é
mais a candidatura da governadora Roseana Sarney (MA), mas a
própria sobrevivência do partido
a partir de 2003. Além de bater no
governo Fernando Henrique Cardoso e no pré-candidato tucano
José Serra, essa é a principal preocupação dos pefelistas.
A estratégia do partido é segurar
a candidatura Roseana enquanto
der. Apesar de mortalmente ferida, é considerada "instrumento
de unidade". Enquanto isso, seus
líderes conversam cada vez mais
abertamente com o pré-candidato do PPS, Ciro Gomes, e em segundo lugar com o do PSB, Anthony Garotinho.
Uma aliança com Ciro poderia
servir de trampolim para um movimento inusitado do PFL no segundo turno: o apoio a Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Não será
fácil, mas pode ser a única saída
de parte dos pefelistas, os mais
irados contra o governo, caso a
disputa seja entre Lula e Serra.
Na última semana, Ciro conversou, por exemplo, com os deputados Roberto Brant (ex-ministro
da Previdência), Marcos Cintra
(SP) e José Carlos Aleluia (BA).
Sem contar seus contatos já rotineiros com o ex-senador Antonio
Carlos Magalhães (BA).
"Pode anotar: "O Ciro vai entrar
firme contra FHC'", antecipou
ACM para a Folha. Mas o senador
baiano também sabe que há fortes
reações no PPS de Ciro contra
qualquer aproximação com o
PFL. O principal exemplo vem de
cima: o próprio presidente do
PPS, senador Roberto Freire (PE).
Apesar disso, há simpatizantes
da aproximação no PPS e na coligação de Ciro, que inclui o PTB e o
PDT. O presidente do PTB, José
Carlos Martinez (PR), também
abriu conversas com o PFL. Falou, entre outros, com o senador
José Agripino Maia (RN), um dos
principais caciques pefelistas.
"Mas nem deixei a conversa
fluir. Nossa candidata é a Roseana
e, se não for ela, será um outro
candidato próprio", confirmou
Agripino. Ele, porém, é do Nordeste como Ciro (que nasceu em
São Paulo, mas sempre fez política no Ceará) e um dos que trabalham firmemente nos bastidores
pelo apoio ao candidato do PPS.
Garotinho também não perdeu
tempo e, numa longa conversa
com Brant, repetiu o que já tinha
dito à Folha: está aberto a conversações com o PFL, partido que julga programático, bem-estruturado e com bom tempo na TV.
"Eles [governo e Serra" querem
fazer um rolo compressor. Pois
nós estamos discutindo uma frente para reagir. Hoje, a Roseana é a
vítima. Depois, o Ciro e o Garotinho sabem que podem ser eles",
disse Brant à Folha.
Encontro na Bahia
A cúpula do PFL encontra-se
amanhã em Salvador para a entrega do prêmio literário Luís
Eduardo Magalhães. Roseana estará presente. A intenção é dar demonstrações de unidade, alardear
as conversas com adversários do
governo e impedir as pressões das
bases para que o partido não tenha candidato a presidente e libere seus seguidores no Estado para
apoiar quem quiserem.
No sentido da unidade, ACM já
combinou com o comando partidário que não baterá em FHC durante e depois da solenidade:
"Não quero criar constrangimento para o Marco Maciel, que é vice-presidente da República".
As conversas com adversários
servem também para mostrar que
o partido se meteu numa sinuca
-ao trocar o governo em ano
eleitoral por uma candidata em
declínio-, mas ainda tem vigor
político e estrutura. Quanto a rechaçar a idéia de não ter candidato: é instinto de preservação. "Isso
seria o estouro da boiada, o fim do
partido", explica Agripino.
A pressão para isso vem dos deputados pefelistas, que estão apavorados com a perspectiva de não
ter uma alavanca nacional, nem
alianças regionais consistentes, e
não se reelegerem.
Mas a cúpula não vai permitir,
porque sabe que, se "liberar geral", esses mesmos deputados se
elegem num dia e no dia seguinte
pulam para o partido vitorioso
nacionalmente. É por isso que as
decisões partidárias foram concentradas na Executiva Nacional,
com mão de ferro.
Apesar do esforço para manter
o discurso da unidade e de otimismo, cúpula e bases têm um sentimento comum que pode ser resumido dramaticamente como "desolação". Em geral, a alternativa é
entre o bom ou o ruim, mas no caso do PFL é entre o ruim e o péssimo. Quem admite é um dos principais nomes do partido nacional,
evidentemente pedindo para não
ser identificado.
"Ele perguntou por mim?"
Um outro problema do partido
é a situação delicada de seu eterno
presidente, o senador licenciado
Jorge Bornhausen (SC), que tem
sido o eixo da legenda desde seu
início, em 1985, e o mais eficaz interlocutor de FHC. Hoje, está distante do Planalto.
Ao voltar de uma visita a FHC,
no domingo passado, o ex-senador Guilherme Palmeira (atual
ministro do Tribunal de Contas
da União e um dos fundadores do
PFL) ligou para Bornhausen.
"Ele [FHC" mandou algum recado para mim?", perguntou-lhe
Bornhausen. "Não", respondeu
Palmeira, limitando-se a dizer
que, na conversa, FHC insistiu em
que não tinha nada a ver com a
operação de busca e apreensão
realizada pela Polícia Federal na
empresa Lunus, de Roseana e de
seu marido, Jorge Murad.
Bornhausen se fragilizou depois
da aliança de ACM com o ex-presidente José Sarney (que é PMDB,
mas mantém os filhos e sólidos laços no PFL). Além disso, terá que
pedir licença da presidência para
acompanhar sua mulher, Dulce,
aos EUA, que vai tratar da saúde.
Quem assume, como em outras
vezes, é o vice-presidente José Jorge (PE), ex-ministro de Minas e
Energia e ligadíssimo a Bornhausen. Mas não terá muito o que fazer, a não ser esperar.
Contra Serra
Se o partido admite que não sabe o que fazer, jura que tem certeza do que não vai fazer: apoiar
Serra. Apesar do discurso da cúpula, há setores do partido conversando discretamente com Serra e os tucanos, sob a seguinte
avaliação, contrária à dos setores
ligados a ACM e a Sarney: se der
Serra e Lula no segundo turno, a
opção será fatalmente Serra.
Entre esses remanescentes governistas destaca-se o governador
Jaime Lerner (PR). Ele não lidera
nenhum grupo no partido, mas
não está falando sozinho quando
defende a manutenção da aliança
com o PSDB e com o PMDB.
Hoje, parece isolado, mas a própria cúpula sabe que o fantasma
que ronda o partido é a repetição
de 1989: cada um por si.
ACM ficou com Fernando Collor (PRN); Bornhausen, com Afif
Domingos (PL); Palmeira, com
Mário Covas (PSDB); e Maciel,
praticamente sozinho e até a derrota, com o candidato pefelista
oficial, Aureliano Chaves.
A diferença é que, naquela época, todos voltaram a se reunir no
governo Collor. Hoje, é improvável que sigam juntos para o mesmo governo, qualquer que seja. O
PFL vive enorme incerteza e risco
jamais visto de racha indelével.
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