São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PALOCCI EM APUROS

Presidente do BNDES é a opção preferencial caso presidente tenha de demitir ministro

Contrariado, Lula já estuda nomes para suceder Palocci

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de ainda decidido a tentar manter o ministro da Fazenda no cargo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estuda reservadamente nomes para a hipótese de o desfecho do caso Francenildo dos Santos Costa levar Antonio Palocci a deixar o governo. Ontem, o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega, surgiu como nome mais cotado.
Nas palavras de um ministro, "Lula seria o ministro da Fazenda" com a eventual substituição de Palocci por Mantega. Ou seja, este seguiria a determinação para manter o "paloccismo". Lula viraria o fiador da política econômica.
Lula avalia que a substituição de Palocci tem de ser um último recurso, esgotadas as tentativas para salvá-lo do atual imbróglio.
Com Mantega, crítico interno de Palocci, poderia ser ruim a sinalização para o mercado num eventual segundo governo Lula. Daí o presidente ter de virar o fiador da política e manter um Banco Central conservador.
Outros nomes aventados em conversas reservadas da cúpula do governo são: os ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Paulo Bernardo (Planejamento), o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e o secretário-executivo de Palocci, Murilo Portugal.
Furlan é benquisto pelo empresariado, mas é forte crítico de Palocci e tem perfil independente demais para obedecer Lula cegamente. Bernardo tem a vantagem de ser afinado com Palocci e com a atual política, mas seria menos íntimo de Lula do que Mantega.
Mercadante foi opção pensada no final do ano passado. Também tem proximidade com o presidente, mas está disputando a indicação do PT para concorrer ao governo paulista com a ex-prefeita Marta Suplicy. Antigo crítico de Palocci, poderia assumir o posto, desde que se dispusesse a não ter arroubos para mudar a política.
Portugal encontra muita resistência no PT. Além disso, integrou a equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso e não dispõe da intimidade com Lula necessária ao cargo.

Tensão no Planalto
Lula está preocupado com o rumo das investigações sobre a violação do sigilo do caseiro Francenildo. Palocci teve discussões ontem com auxiliares por conta do episódio e demonstrou tensão em conversas no início da noite.
As conversas sobre a eventual substituição de Palocci ganharam força porque, se até o final do mês ele decidir sair ou for obrigado a fazê-lo, ainda poderá tentar se eleger deputado federal e manter foro privilegiado para responder a suspeitas de corrupção de sua gestão em Ribeirão Preto (SP).
Palocci luta para ficar no cargo. Avalia que, se deixar o governo, correrá risco de ter a prisão pedida por um juiz de primeira instância por conta das investigações do Ministério Público paulista. Até ontem, a prioridade de Lula era mantê-lo, mas ciente de que não pode descartar substituí-lo.

Mudanças na equipe
Negocia-se nos bastidores do ministério a substituição de dois importantes integrantes da equipe de Palocci: o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e seu secretário-adjunto José Antônio Gragnani. O governo já está sondando pessoas para substituí-los.
Ambos começaram a arrumar as malas no final do ano passado, mas os planos foram adiados por conta da crise em torno de Palocci, que, na época, além das denúncias de corrupção durante sua gestão em Ribeirão, enfrentava disputas com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
No caso de Levy, que está cotado para assumir uma vice-presidência no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), pesou ainda o fato de o posto não ter sido desocupado. A expectativa é de que isso ocorra após uma assembléia anual, em abril.
Já Gragnani deverá se apresentar em maio no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, para temporada de estudos. A situação de Palocci, no entanto, está dificultando a substituição dos dois técnicos que comandaram o processo de mudança do perfil do endividamento público, com diminuição da quantidade de títulos corrigidos pelo dólar e aumento do prazo dos papéis emitidos pelo governo. Um dos cotados para assumir o lugar de Levy é Alexandre Tombini, diretor de Estudos Especiais do Banco Central. O substituto de Gragnani deverá vir do mercado financeiro.


Colaborou SHEILA D'AMORIM, da Sucursal de Brasília

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