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Quadrilha existe, admitem dois acusados
O juiz do Trabalho Ernesto da Luz Pinto Dória e o advogado Evandro da Fonseca confirmaram parte das irregularidades
Procurador João Pereira negou ter recebido dinheiro do jogo; advogado diz que Carreira Alvim pautou toda a sua vida "dentro da lei"
Uanderson Fernandes/Agência O Dia
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O juiz do Trabalho Ernesto da Luz Pinto Dória deixa prédio da PF |
ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo menos dois dos 25 magistrados, advogados e bicheiros presos na Operação Hurricane (Furacão, em inglês) confirmaram em depoimento à Polícia Federal a existência do esquema de compra de sentenças
judiciais favoráveis ao jogo.
A Folha teve acesso aos depoimentos sigilosos. Destoando da maior parte dos investigados -que ou negaram participação no esquema ou se recusaram a responder às perguntas-, o juiz do Trabalho Ernesto da Luz Pinto Dória e o advogado Evandro da Fonseca confirmaram parte das irregularidades e as detalharam.
Investigado por supostamente receber R$ 10 mil mensais para ajudar a quadrilha,
Dória disse em seu depoimento
no dia 13 que a quadrilha se articulou em torno do ex-vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região José
Eduardo Carreira Alvim com o
fim de obter "decisões judiciais
"compradas" para manutenção
da atividade do jogo". O advogado de Alvim nega a acusação.
Segundo Dória, a quadrilha
se aproximou do desembargador, há cerca de um ano e meio,
por meio do procurador da Fazenda César Palmieri e do genro de Carreira Alvim, o advogado Silvério Nery Cabral Júnior,
que cobraria "altos honorários
de casas de bingo" pelas decisões do sogro. Carreira Alvim
concedeu liminar em 2006 liberando 900 caça-níqueis.
"No entender do interrogado
[Dória], o magistrado Carreira
Alvim foi iludido por seu genro
e por Jaime [advogado que
atuaria em nome dos bingueiros], que dava "as mordomias" a
Carreira e a sua esposa, "Tetê'",
diz o depoimento de Dória.
O juiz, libertado na madrugada de ontem, chega a chamar
Carreira Alvim de "inocente
útil", mas, em outro trecho, diz
que o desembargador pedia a
"vários desembargadores" que
beneficiassem o esquema.
Ainda de acordo com seu depoimento, o empresário Licínio Soares Bastos, sócio de casa
de bingo no Rio, seria "o grande
mafioso dos bingos". Licínio
também foi preso na operação.
Dória nega ter se beneficiado
de dinheiro do jogo, mas disse
ter recebido "empréstimos" de
bicheiros e do advogado Jaime
Garcia Dias, classificado por
ele como o "relações públicas"
do grupo, responsável por conseguir liminares pró-jogo.
Já Evandro da Fonseca, advogado suspeito de atuar na
quadrilha, diz que foi feita arrecadação entre casas de bingo de
R$ 500 mil para a compra das
sentenças. Ele disse ter ficado
sabendo que o genro de Carreira Alvim recebeu um carro
Mercedes-Benz como pagamento e que o procurador João
Sérgio Leal Pereira prestava
"assessoria" à organização em
troca de R$ 5.000 mensais.
Os depoimentos complicam
a situação do ministro do STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
Paulo Medina, já que Evandro
da Fonseca dá detalhes sobre
suposta negociação da quadrilha com o irmão do ministro, o
advogado Virgílio Medina, que
teria cobrado R$ 1 milhão em
troca de uma sentença do irmão liberando caça-níqueis.
"Jaime [advogado] disse que
repassou a quantia a Virgílio
em espécie; depois desse suposto pagamento, Jaime foi à
Brasília se encontrar com Virgílio Medina. (...) Virgílio disse
a Jaime que havia grande chance de obterem êxito [na liberação das máquinas]", diz a
transcrição dos depoimentos.
Tanto o depoimento de Dória quanto o de Fonseca afirmam que Virgílio Medina foi
procurado para negociar outra
decisão do irmão, dessa vez relativa ao delegado da PF no Rio
Edson Antônio de Oliveira.
No inquérito da operação, a
PF destaca um encontro entre
os dois últimos no dia 13 de dezembro de 2006, quando falaram sobre a possibilidade de
Paulo Medina retardar um processo que corria no STJ contra
o delegado.
Outro lado
O advogado Luís Guilherme
Vieira, que representa o desembargador José Eduardo
Carreira Alvim, afirmou que o
seu cliente "é um desembargador e professor respeitado e
pautou a vida dentro da lei, do
direito e de sua consciência".
Ele disse que não poderia falar
das acusações, já que o inquérito corre em segredo de Justiça.
O procurador João Sérgio
Leal Pereira negou em seu depoimento que tenha recebido
dinheiro de pessoas ligadas ao
jogo e disse que "nunca repassou dados" de investigações do
Ministério Público à quadrilha.
Apesar de ter acionado a assessoria do Ministério da Fazenda, a Folha não conseguiu
falar, até o fechamento da edição, com o procurador da Fazenda César Palmieri. O jornal
deixou recado no escritório de
advocacia que representa Licínio Soares. A Folha não localizou Edson Antônio de Oliveira.
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