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Lula recebeu lobby para obra da Gautama
Em seis meses, políticos foram duas vezes ao gabinete do presidente para obter verbas para obra da construtora em AL
De acordo com o Planalto, a escolha da empresa era de responsabilidade do Estado, assim como a fiscalização dos recursos repassados
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Num curto intervalo de seis
meses, chegou duas vezes ao
gabinete do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, no terceiro
andar do Palácio do Planalto, o
lobby de políticos destinado a
liberar dinheiro público para
obra da construtora Gautama
em Alagoas. A empreiteira é o
principal personagem do esquema de desvio de verbas públicas flagrado pela Operação
Navalha, da Polícia Federal.
Entre 7 de dezembro de 2005
e 5 de junho de 2006, as obras
do Sistema Pratagy, de abastecimento de água em Maceió, foram objeto de duas audiências
registradas na agenda de Lula.
À noite, o Planalto informou
que a escolha da empreiteira
era de responsabilidade de Alagoas, assim como a fiscalização
dos recursos repassados. O Planalto afirmou ainda que o pedido posterior de liberação de
verbas para a obra foi recebido
em meio a vários projetos apresentados pelo governador.
Dez dias após a primeira audiência a políticos de Alagoas,
Lula assinou medida provisória
destinando R$ 70 milhões ao
projeto, hoje o mais caro dos
convênios da União com Estados a beneficiar a Gautama, segundo investigação da PF e da
Controladoria Geral da União.
Segundo a CGU, dos R$ 70
milhões de gastos autorizados,
R$ 30 milhões já foram liberados. O restante teria sido bloqueado após o escândalo.
A última parcela paga, no valor de R$ 15 milhões, foi repassada aos cofres de Alagoas em
20 de julho de 2006, um mês e
meio depois de Lula receber no
Planalto o então governador de
Alagoas, Luis Abílio.
Abílio deixou o Planalto, onde esteve acompanhado pelo
presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), otimista. Após 40 minutos de conversa com Lula, contou que o presidente se empenharia para liberar dinheiro para a obra.
Menos de seis meses antes,
Renan apresentou a Lula a reivindicação da obra, que consistia na construção de barragem
no rio Pratagy, adutoras e sub-adutoras. A bancada de Alagoas
já havia procurado o ministro
do Planejamento, Paulo Bernardo, com o pedido assinado
pelo governador e pelo prefeito
de Maceió. Ontem, Bernardo
confirmou o encontro.
Renan nega envolvimento
com a Gautama. Diz que defendia interesses do Estado. O ex-governador Ronaldo Lessa,
atual secretário-executivo do
Ministério do Trabalho, disse
que não se manifestaria mais
sobre sua gestão em Alagoas.
Ex-ministro da Integração Nacional na época do crédito extraordinário, o deputado Ciro
Gomes não se manifestou.
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