São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2007

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Lula recebeu lobby para obra da Gautama

Em seis meses, políticos foram duas vezes ao gabinete do presidente para obter verbas para obra da construtora em AL

De acordo com o Planalto, a escolha da empresa era de responsabilidade do Estado, assim como a fiscalização dos recursos repassados

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Num curto intervalo de seis meses, chegou duas vezes ao gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no terceiro andar do Palácio do Planalto, o lobby de políticos destinado a liberar dinheiro público para obra da construtora Gautama em Alagoas. A empreiteira é o principal personagem do esquema de desvio de verbas públicas flagrado pela Operação Navalha, da Polícia Federal.
Entre 7 de dezembro de 2005 e 5 de junho de 2006, as obras do Sistema Pratagy, de abastecimento de água em Maceió, foram objeto de duas audiências registradas na agenda de Lula.
À noite, o Planalto informou que a escolha da empreiteira era de responsabilidade de Alagoas, assim como a fiscalização dos recursos repassados. O Planalto afirmou ainda que o pedido posterior de liberação de verbas para a obra foi recebido em meio a vários projetos apresentados pelo governador.
Dez dias após a primeira audiência a políticos de Alagoas, Lula assinou medida provisória destinando R$ 70 milhões ao projeto, hoje o mais caro dos convênios da União com Estados a beneficiar a Gautama, segundo investigação da PF e da Controladoria Geral da União.
Segundo a CGU, dos R$ 70 milhões de gastos autorizados, R$ 30 milhões já foram liberados. O restante teria sido bloqueado após o escândalo.
A última parcela paga, no valor de R$ 15 milhões, foi repassada aos cofres de Alagoas em 20 de julho de 2006, um mês e meio depois de Lula receber no Planalto o então governador de Alagoas, Luis Abílio.
Abílio deixou o Planalto, onde esteve acompanhado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), otimista. Após 40 minutos de conversa com Lula, contou que o presidente se empenharia para liberar dinheiro para a obra.
Menos de seis meses antes, Renan apresentou a Lula a reivindicação da obra, que consistia na construção de barragem no rio Pratagy, adutoras e sub-adutoras. A bancada de Alagoas já havia procurado o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, com o pedido assinado pelo governador e pelo prefeito de Maceió. Ontem, Bernardo confirmou o encontro.
Renan nega envolvimento com a Gautama. Diz que defendia interesses do Estado. O ex-governador Ronaldo Lessa, atual secretário-executivo do Ministério do Trabalho, disse que não se manifestaria mais sobre sua gestão em Alagoas. Ex-ministro da Integração Nacional na época do crédito extraordinário, o deputado Ciro Gomes não se manifestou.


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