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ELIO GASPARI
Uma nova encrenca
O departamento de astrologia política do Palácio do Planalto conseguiu um prodígio:
desestabilizou os governadores
dos três maiores colégios eleitorais do país. Se em 1994 alguém
dissesse que no segundo semestre de 1998 o PSDB estaria com
um pé fora do poder em São
Paulo e em Minas Gerais, seria
considerado um lunático. Se
acrescentasse que a esta altura
o tucanato fluminense estaria
esterilizado, seria caso de internação. Pois quatro anos de
política imperial resultaram
exatamente nisso.
Um sincero eleitor de FFHH,
sujeito capaz de acreditar nas
virtudes reformistas de seu
partido, está a pouco mais de
cem dias da eleição na seguinte
situação:
1) Em São Paulo, assiste ao
sangramento de Mário Covas.
Por mais que o estime, teme
que ele não chegue ao segundo
turno.
2) Em Minas Gerais, pode assistir à implosão de Eduardo
Azeredo. Por mais que o louve,
vai se habituando à idéia de vir
a votar em Itamar Franco.
3) No Rio de Janeiro, o PSDB
simplesmente entrou em órbita. Resta-lhe Cesar Maia.
Esse sincero eleitor de FFHH
está sendo delicadamente conduzido para as seguintes situações:
1) Em São Paulo, caso queira
honrar a coligação presidencial, pode votar em Paulo Maluf, coisa que ele, como o professor Fernando Henrique Cardoso, se orgulha de nunca ter
feito. Do contrário, vota no
candidato do PDT ou do PT,
ambos anexos à chapa de Lula.
2) Em Minas, pode votar em
Itamar, mas a partir do momento em que toma essa decisão, é obrigado a ouvir com
mais atenção os despautérios
do ex-presidente contra FFHH.
Nada garante que seja capaz
de resistir à tensão de votar ao
mesmo tempo no insultante e
no insultado.
3) No Rio, se por qualquer
razão resolver não digerir o
ex-prefeito Cesar Maia, seu
curso natural será uma recaída
brizolista, com todas as sequelas que isso acarreta.
Nesses três Estados vivem cerca da metade dos eleitores brasileiros. Em 1994, eles deram a
FFHH 16,3 milhões de votos,
contra 7,4 milhões dados a Lula. Numa conta marota, meramente ilustrativa, se esses três
Estados tivessem votado no
sentido inverso (dando a Lula
a vantagem que deram a
FFHH), a chapa petista teria
sido a mais votada no primeiro
turno.
Hoje, parece improvável que
o presidente consiga no Rio de
Janeiro uma vantagem de 1,5
milhão de votos, como conseguiu em 1994. Se ganhar por 1,5
mil, talvez se dê por satisfeito,
pois arrisca perder. Não há pesquisa que ampare uma diferença de 4,4 milhões em São
Paulo. Também parece exagerado acreditar que possa vencer com 3 milhões de frente em
Minas (com Itamar candidato,
fustigando-o).
Em 1994, seria perfeitamente
razoável que três amigos se encontrassem, dizendo que votaram em FFHH, Covas, Azeredo
e Marcello Alencar. Havia algo
em comum nas quatro escolhas. Agora, esses três cidadãos
arriscam um novo encontro,
tendo votado em FFHH, Maluf,
Itamar e Cesar Maia. Quatro
anos depois, em vez de ganharem em coerência, perderam o
nexo.
Isso não significa que FFHH
esteja a caminho de uma derrota, até porque o engenheiro
Leonel Brizola é capaz de fazer
coisas incríveis para desestabilizar o eleitorado de Lula. Significa apenas que o tucanato
comprou mais uma encrenca.
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