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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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INTEGRAÇÃO SUL-AMERICANA

País vizinho poderá usar informações para combater o terrorismo e o tráfico de drogas

Brasil quer vender dados do Sivam ao Peru

JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

O Brasil quer ampliar o raio de cobertura do Sivam e exportar informações coletadas pelo sistema de vigilância da Amazônia para o Peru. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje no país, onde discutirá um protocolo de intenções que possibilite a venda de dados captados pelos satélites do projeto para as autoridades peruanas. O Peru manifestou interesse ao governo brasileiro de usar as informações no combate ao terrorismo e ao narcotráfico.
A eventual participação do Peru no Sivam faz parte da estratégia do governo Lula de integração dos países da América do Sul e da formação de um "cinturão de defesa" entre essas nações. Para o governo brasileiro, é interessante por dois motivos: obtém receita com a venda de dados e detém o controle do sistema de informações a ser usado pelos vizinhos.
Também estão na pauta da viagem presidencial discussões sobre acordos de comércio e a "interconexão física" entre os dois países, segundo o embaixador do Brasil no Peru, André Mattoso Maia Amado. O BNDES estuda o financiamento de projetos viários que podem facilitar o escoamento pelo Pacífico dos produtos brasileiros que têm como destino os Estados Unidos e a Ásia.
O Peru já enviou ao Brasil duas missões para obter informações sobre o Sivam. O vice-presidente da comissão que coordena o projeto, coronel Álvaro Pinheiro da Costa, reuniu-se na sexta-feira com autoridades peruanas para definir quais serviços podem ser prestados e por qual preço. No semestre passado, brasileiros estiveram duas vezes no Peru, onde fizeram exposições para o Ministério da Defesa sobre o sistema.
Para que o Peru obtenha "produtos" fornecidos pelo Sivam, como vigilância por radares, precisaria construir uma estrutura mínima de recepção. "O mais caro já foi feito pelo Brasil. O Sivam tem possibilidades que podem ser compartilhadas. Eu disse para eles que é como uma dedetização: se o vizinho não fizer, diminui o número de baratas na minha casa, mas aumenta na dele", disse o coronel Paulo Esteves, que fez a palestra sobre o sistema no Peru.
Para o embaixador brasileiro, "é interessante que o Peru conte com os mesmos instrumentos que os brasileiros no combate ao tráfico e na preservação da Amazônia". "Eles têm mostrado bastante interesse nisso", afirmou.
A Bolívia e a Colômbia, segundo Esteves, já pediram informações sobre o sistema, mas é a Venezuela com quem um acordo está mais concreto. O Sivam, que entrou em funcionamento no ano passado, custou US$ 1,4 bilhão, financiado por contratos firmados pelo Brasil com instituições estrangeiras.

Via Pacífico
O desembarque de Lula está previsto para, às 19h (21h em Brasília), em Lima, onde deve jantar com o presidente do país, Alejandro Toledo. No dia seguinte, ele participa de um fórum de empresários e visita o Palácio de Justiça.
Em maio, o presidente esteve no país, onde participou, em Cuzco, da cúpula do Grupo do Rio.
Segundo o embaixador brasileiro, devem ser discutidos dois projetos de interesse do Brasil no Peru: as estradas Tarapoto-Yurimaguas, no norte do país, e Iñapari-Ponte Inambari, que dá acesso a portos do sul do Peru. Estão estimados em US$ 160 milhões e US$ 220 milhões, respectivamente.
O Brasil também pretende buscar acordos de livre comércio entre o Mercosul e o Peru. O fluxo comercial entre os dois países é de US$ 640 milhões, cifra considerada baixa pelo embaixador brasileiro. O Brasil exporta manufaturados e importa minérios. "Não podemos continuar de costas um para o outros", disse Amado.


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