São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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Presidente traça cenário ruim para PT após crise

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA ENVIADA ESPECIAL A CUIABÁ (MT)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou ontem em diferentes conversas atacar o empresário Marcos Valério de Souza e traçar cenário pessimista ao PT diante da crise política.
Lula disse a interlocutores que Valério é um "grande bandido, espertalhão", mas o prejuízo das denúncias sobre o "mensalão" irá cair apenas sobre o partido.
Para discutir os rumos da crise, Lula telefonou ontem para os presidentes do Senado, Renan Calheiros, da Câmara, Severino Cavalcanti, e do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, para agendar conversa ainda nesta semana, na Granja do Torto.
Pela manhã, o presidente disse, em inauguração de uma linha de transmissão de energia elétrica em Cuiabá (MT), que terá a "responsabilidade" de não fazer mudanças na economia que visem diminuir o impacto da crise.
Lula elogiou Palocci e fez críticas aos senadores que aprovaram o salário mínimo de R$ 384, derrubado pela Câmara.
Sobre a crise política, o presidente afirmou que o Brasil precisa "tirar proveito" dela para sair mais fortalecido e democrático. "Temos que ter responsabilidade e não brincar com coisa séria, porque toda vez que se brincou com a economia neste país, por causa da proximidade eleitoral, o resultado negativo ficou para a parte pobre da população."
Lula falou por 29 minutos a uma platéia de cerca de 300 trabalhadores e convidados. O discurso foi quase todo improvisado e o presidente usou anotações apenas para falar do crescimento da economia e de programas sociais.
Ao falar da crise política, Lula criticou o "carnaval" das investigações feitas com muito alarde e poucos resultados -como tem ocorrido nas CPIs do Congresso- e defendeu investigações sérias, mesmo que demorem mais.
Ao concluir, o presidente falou da capacidade do brasileiro de superar crises: "Por mais grave que seja a crise política, o povo brasileiro saberá, com a sua paciência, com a sua maturidade, debelá-la".

"Espertalhão"
Mais tarde, em Brasília, Lula acompanhou parte de reunião do CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial) e recebeu cerca de 40 representantes da Frente Nacional de Prefeitos. Demonstrou descontração, sem esconder a indignação com Valério.
"Esse Marcos Valério é um grande bandido, um aproveitador, um espertalhão. Mas quem vai sair no prejuízo é o PT, com uma dívida de R$ 40 milhões difícil de pagar", disse o presidente a interlocutores, segundo a Folha apurou. Valério afirma ter emprestado R$ 55 milhões ao ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, verba que, segundo o PT, quitou custos de campanhas.
Assim como em recentes eventos fechados, Lula voltou a se comparar com ex-presidentes do país que enfrentaram graves crises durante seus mandatos. "Eu ainda não sofri nem 20% do que o Juscelino [Kubitschek (1956-1961)], que sofreu atentados e foi até apedrejado."
Sobre reeleição, Lula afirmou que tende a disputar a Presidência caso o PT esteja em crise e sem nomes para indicar ao pleito.
Lula chamou de "casuísmo" as tentativas de mudanças nas regras eleitorais e citou com ironia os nomes dos presidenciáveis José Serra (PSDB-SP) e César Maia (PFL-RJ) na abertura de reunião com a Frente Nacional de Prefeitos. "Estou estranhando a ausência do Serra [prefeito de São Paulo] e do César Maia [do Rio de Janeiro]. Esses assuntos [da reunião] não são de interesse deles também?", questionou o presidente, segundo relato de presentes na reunião. Os ministros Palocci, Jaques Wagner (Relações Institucionais) e Márcio Fortes (Cidades) também participaram.
(ANA FLOR E EDUARDO SCOLESE)


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