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Presidente traça cenário ruim para PT após crise
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A CUIABÁ (MT)
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva procurou ontem em diferentes conversas atacar o empresário
Marcos Valério de Souza e traçar
cenário pessimista ao PT diante
da crise política.
Lula disse a interlocutores que
Valério é um "grande bandido,
espertalhão", mas o prejuízo das
denúncias sobre o "mensalão" irá
cair apenas sobre o partido.
Para discutir os rumos da crise,
Lula telefonou ontem para os presidentes do Senado, Renan Calheiros, da Câmara, Severino Cavalcanti, e do Supremo Tribunal
Federal, Nelson Jobim, para agendar conversa ainda nesta semana,
na Granja do Torto.
Pela manhã, o presidente disse,
em inauguração de uma linha de
transmissão de energia elétrica
em Cuiabá (MT), que terá a "responsabilidade" de não fazer mudanças na economia que visem
diminuir o impacto da crise.
Lula elogiou Palocci e fez críticas aos senadores que aprovaram
o salário mínimo de R$ 384, derrubado pela Câmara.
Sobre a crise política, o presidente afirmou que o Brasil precisa
"tirar proveito" dela para sair
mais fortalecido e democrático.
"Temos que ter responsabilidade
e não brincar com coisa séria,
porque toda vez que se brincou
com a economia neste país, por
causa da proximidade eleitoral, o
resultado negativo ficou para a
parte pobre da população."
Lula falou por 29 minutos a uma
platéia de cerca de 300 trabalhadores e convidados. O discurso foi
quase todo improvisado e o presidente usou anotações apenas para
falar do crescimento da economia
e de programas sociais.
Ao falar da crise política, Lula
criticou o "carnaval" das investigações feitas com muito alarde e
poucos resultados -como tem
ocorrido nas CPIs do Congresso- e defendeu investigações sérias, mesmo que demorem mais.
Ao concluir, o presidente falou
da capacidade do brasileiro de superar crises: "Por mais grave que
seja a crise política, o povo brasileiro saberá, com a sua paciência,
com a sua maturidade, debelá-la".
"Espertalhão"
Mais tarde, em Brasília, Lula
acompanhou parte de reunião do
CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial) e recebeu cerca de 40 representantes da
Frente Nacional de Prefeitos. Demonstrou descontração, sem esconder a indignação com Valério.
"Esse Marcos Valério é um
grande bandido, um aproveitador, um espertalhão. Mas quem
vai sair no prejuízo é o PT, com
uma dívida de R$ 40 milhões difícil de pagar", disse o presidente a
interlocutores, segundo a Folha
apurou. Valério afirma ter emprestado R$ 55 milhões ao ex-tesoureiro petista Delúbio Soares,
verba que, segundo o PT, quitou
custos de campanhas.
Assim como em recentes eventos fechados, Lula voltou a se
comparar com ex-presidentes do
país que enfrentaram graves crises durante seus mandatos. "Eu
ainda não sofri nem 20% do que o
Juscelino [Kubitschek (1956-1961)], que sofreu atentados e foi
até apedrejado."
Sobre reeleição, Lula afirmou
que tende a disputar a Presidência
caso o PT esteja em crise e sem
nomes para indicar ao pleito.
Lula chamou de "casuísmo" as
tentativas de mudanças nas regras eleitorais e citou com ironia
os nomes dos presidenciáveis José
Serra (PSDB-SP) e César Maia
(PFL-RJ) na abertura de reunião
com a Frente Nacional de Prefeitos. "Estou estranhando a ausência do Serra [prefeito de São Paulo] e do César Maia [do Rio de Janeiro]. Esses assuntos [da reunião] não são de interesse deles
também?", questionou o presidente, segundo relato de presentes na reunião. Os ministros Palocci, Jaques Wagner (Relações
Institucionais) e Márcio Fortes
(Cidades) também participaram.
(ANA FLOR E EDUARDO SCOLESE)
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