São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006

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Chaui evoca slogan de Duda e faz elogio indireto de Lula

Filósofa aborda "esperança e medo" em Espinosa

RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A professora de filosofia da USP Marilena Chaui, ideóloga do PT nos anos 80 e 90, retomou ontem o silêncio público sobre as acusações feitas contra Luiz Inácio Lula da Silva e o PT de corrupção e, durante palestra no Rio, intitulada "O que é a política", não fez nenhuma menção ao presidente, ao partido, às eleições ou à conjuntura política brasileira atual.
Ao final da palestra, parte do ciclo "O Esquecimento da Política", organizado pelo jornalista Adauto Novaes, Chaui se recusou a falar com os repórteres. Perguntou de que veículo eles eram, e ao ouvir a resposta -Folha e "O Globo"- disse que não falaria. Ela declarou apenas que votaria de novo em Lula. Questionada sobre a razão, disse: "Não sei". Em seguida, completou: "Vamos ver se você descobre, pela palestra, por que vou votar nele".
A professora apresentou à platéia carioca uma defesa filosófica do bordão cunhado pelo marqueteiro Duda Mendonça após a vitória de Lula em 2002, "a esperança venceu o medo". Sem citar os dois, disse que o filósofo holandês Baruch de Espinosa (1632-1677) fundamentava sua teoria política em duas "paixões": esperança e medo.
Para o filósofo, segundo Chaui, a boa política se dá quando a esperança -"uma alegria inconstante nascida da idéia de uma coisa futura ou passada"- vence o medo -"uma tristeza inconstante nascida da idéia de uma coisa futura ou passada"- e permite que a concórdia supere a discórdia entre os homens.
A filósofa havia sido a principal personagem da etapa anterior da série de ciclos organizada por Novaes, que, no ano passado, tinha como título "O Silêncio dos Intelectuais". Até sua aparição para a palestra de 2005, Chaui havia se mantido em silêncio sobre o caso do mensalão, alegando razões pessoais. A partir dali, em suas aparições públicas, passou a responsabilizar "a mídia" pelas acusações de corrupção.
Em abril deste ano, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, denunciou a existência de uma "quadrilha" de 40 pessoas envolvidas com o mensalão que, segundo ele, tinha como objetivo "garantir a continuidade do projeto de poder do PT, mediante a compra e o suporte político de outros partidos".
Ontem, Chaui retornou ao silêncio, conjugando-o desta vez ao "esquecimento da política" -ao menos da conjuntura política brasileira.


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