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Gustavo Ioschpe
Involução
O SER HUMANO em geral e as vítimas da
historiografia marxista (os brasileiros) em
particular temos a tendência a acreditar que estamos
numa evolução constante e
que o progresso é inevitável. Mas essa esperança não
é comprovada pela experiência histórica. Acredito
estarmos passando agora
por um momento de involução. Que parece programada para continuar.
O viés ideológico que fundou e animou o PT deixou
de ser aplicável no começo
dos anos 90. Lula se deu
conta em 2002, e propôs
um programa que era a negação de suas idéias dos 20
anos anteriores. Aproximou-se do centro para poder ser eleito e governar.
Porém, não conseguiu gerar um projeto alternativo
de país para preencher o vácuo que se instalara.
O projeto de governo foi
substituído por um projeto
de poder. E, com a voracidade de quem amargou 20
anos de ostracismo, parece
ser um projeto de poder a
qualquer custo. Esse programa se desenvolve em
duas frentes: a programática e a institucional.
Na parte programática,
vemos a criação de uma série de iniciativas destinadas
a gerar melhorias de curto
prazo nos setores tradicionalmente abandonados da
sociedade, cujo voto é de
obtenção fácil e barata.
Nestes enquadraria a expansão do Bolsa Família, o
ProUni, os programas de
agricultura familiar etc. Seu
ponto em comum é lidar
com a pobreza sem chegar
às causas, garantindo sua
reprodução ad eternum.
Pobreza se resolve com
crescimento econômico e
geração de empregos. Isso
demanda melhoria de capital humano, investimento
em infra-estrutura e melhorias do sistema jurídico,
entre outras variáveis.
Acesso à universidade se dá
com melhoras na educação
básica, não com cotas. Mas
não seriam essas medidas
positivas? Sim, se viessem
acompanhadas das reformas estruturais que fazem
com que a geração seguinte
não mais precise delas.
Atualmente, ocorre o
oposto: as pequenas vantagens se financiam via aumento do tamanho do Estado, que prejudica o desenvolvimento. Os pequenos ganhos de hoje se dão às
custas de perdas futuras. E
o sucesso eleitoral da tática
garante sua permanência.
Se não bastasse essa aridez programática, vem ainda o segundo eixo, de golpeio às instituições. Dinheiro público foi usado para
comprar o Congresso, eliminando a relação de independência que deve existir
entre os Poderes.
Aparentemente o mesmo
dinheiro foi usado para
comprar, de um criminoso,
um dossiê que visava começar a campanha de destruição das lideranças da oposição. Já houve projetos de
controle de jornalistas, do
audiovisual. Agora já se fala
de "democratização" da mídia e reforma constituinte.
Os dois eixos somam-se
para criar um programa
que desidrata a democracia
de suas funções vitais, mantendo-a em existência apenas nominal. Com um Parlamento cooptado e uma
população seduzida por migalhas, caminhamos rumo
à estagnação econômica e
ao retrocesso sociopolítico.
GUSTAVO IOSCHPE é mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Yale
(EUA)
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