São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 2006

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COMENTÁRIO

Eles se repetem, e o tempo passa

NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

Lula abriu o debate dando boa noite aos "funcionários da Record" e declarando que gostaria de tratar desta vez de "desigualdade social".
Mas Geraldo Alckmin, depois de "agradecer às crianças", logo entrou em "um novo escândalo", de superfaturamento em Congonhas, e foi assim até o último bloco, no ataque em todos os assuntos.
Foi repetitivo e incisivo, com a diferença, em relação ao debate na Band, de que nos primeiros blocos evitou tratar Lula por "mentiroso". Dizia apenas "não é verdade".
Mas a sintonia fina falhou, ele se deixou levar pelo próprio discurso e, ao longo do programa, escorregou em arrogância. Com diretriz de ataque, evitou até responder quando questionado por um dos jornalistas da Record sobre um defeito seu. Disse que deve ter.
Lula chegou a fazer uma boa piada ("esses banqueiros são ingratos, porque receberam tanto de mim e votam tudo no Alckmin"), mas se viu tomado pela pauta de Alckmin, que, atrás nas pesquisas, agia como franco-atirador.
O petista demonstrou nervosismo, aqui e ali, e foi repetitivo tanto quanto o tucano ao responder aos questionamentos seguidos sobre corrupção. Com o tempo, acomodou-se e passou a tergiversar, esperando -até desejando- que o tempo passasse.
Após três debates e entrevistas aos montes, a sensação maior deixada pelo programa da Record foi mesmo de repetição em todos os temas, dos impostos aos gastos sociais -e até quanto à "democratização dos meios de comunicação", um assunto inusitado em debates em rede de televisão.
Lula talvez possa comemorar que atravessou o programa sem se alterar, sem errar demais, com ironia leve -e sobretudo sem atacar, o que evitou a qualquer custo, até nas perguntas. Alckmin pode comemorar junto aos seus, que voltou a convocar à ação, energizar, com um tom mais altivo do que no programa anterior no SBT.
A Record, de sua parte, provou que pode ser tão agressiva -ou pouco respeitosa - com o presidente da República como a Globo. Que faz o quarto e último debate, da série interminável, nesta sexta-feira.


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