São Paulo, quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/FUTURO DE PALOCCI

Em evento no Rio, presidente afirma que ministro fica no governo, critica quem "torce contra" o Brasil e compara ministério a time de futebol

Palocci é "imprescindível" ao país, diz Lula

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Lula, ao lado do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli (à esq.), e do ministro Silas Rondeau, sobe na plataforma P-50, em Niterói


LUCIANA BRAFMAN
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, permanece no cargo até o fim do governo e o qualificou como "imprescindível".
"[Palocci] está tranqüilo. Acho que não dá para a gente se deixar levar por especulações. O Palocci é uma figura imprescindível ao Brasil. Todos sabem o que o Palocci significa para a economia brasileira", disse Lula a jornalistas depois de inaugurar a plataforma da Petrobras P-50, no estaleiro Mauá Jurong, em Niterói (RJ).
Questionado se Palocci fica até o fim de seu mandato, Lula confirmou: "Ele? Fica, fica". O presidente aproveitou para criticar os que, segundo ele, torcem contra o país e disse que os brasileiros deveriam ser gratos ao ministro. "Acho que tem gente que aposta que o Brasil não dê certo. Aliás, tem gente que só sabe trabalhar em cima da desgraça dos outros. Acho que as pessoas deveriam ser agradecidas pelo que o Palocci fez pela economia deste país."
O presidente usou o futebol para responder a questões delicadas. Praticamente descartou ter de escolher entre a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e Palocci, comparando-os a atletas da mesma equipe. "Um time de futebol só dá certo porque tem 11 jogadores com características diferentes. No governo é a mesma coisa."
Havia a possibilidade de Lula e Palocci terem um novo encontro ainda ontem. A reunião dependia do horário de retorno de Lula a Brasília, e os dois deveriam falar da oficialização ou não de um superávit primário maior. Palocci deseja elevar a meta oficial de 4,25% para 4,5% do PIB.
Com uma meta de 4,5%, o superávit, que é toda a economia do setor público para pagar juros da dívida, ficaria na prática um pouco superior, entre 4,6% e 4,7% do PIB. Dilma estava autorizada por Lula a brigar por um superávit o mais próximo possível da meta de 4,25%. O presidente prometeu a Palocci que vai elevar o superávit, ainda que não oficialmente. Isso diminuiria a tensão entre Palocci e Dilma, tirando combustível da crise entre os dois.
Sobre a possibilidade de ser ou não candidato no ano que vem, Lula se esquivou, usando o time do qual é torcedor. "Não vou responder isso aqui, porque tem muito chão. Primeiro preciso esperar o Corinthians ser campeão para depois ver o que vou fazer."
Mas antes, em discurso de improviso, o presidente havia adotado tom de campanha. A uma temperatura próxima dos 33C, inquieto e suando muito, Lula aproveitou a platéia de trabalhadores, sindicalistas e empresários para criticar o desempenho do governo anterior em áreas como emprego, energia e educação.
Lula, no entanto, não citou nenhuma vez o nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ao fim do discurso, disse que as eleições não mudam o rumo do governo e pediu para que as pessoas "não se preocupem com as coisas que saem, os denuncismos, as brigas" porque "isso atormenta todo mundo". Deu também um recado aos críticos de seu governo: "A diferença básica é que, quando você vira governo, você sai da era do "eu acho" para a era do "eu faço"."

Empregos
O presidente destacou a conjuntura econômica favorável e, provocativo, afirmou que, de 1994 a 2002, a média mensal de geração de empregos com carteira assinada, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), foi de 8.000 por mês. Comparou com o saldo mensal de 108 mil durante os 35 meses de seu governo. "Eles ficam doidos quando eu falo isso, mas eu vou falar o que eles não gostam que eu fale. Eu gosto de falar", disse.
Lula também fez críticas ao ex-presidente Fernando Collor, quando ressaltou a importância de pagar salários melhores aos profissionais qualificados do setor público. "Muitas vezes fomos induzidos a achar que os funcionários tinham que ser mal remunerados, porque senão seriam marajás. Afinal de contas, alguém foi eleito neste país um dia dizendo que ia caçar marajá. Todo mundo sabe o que significa uma frase de efeito neste país."
Outra adversária, a governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB) -representada no evento pelo secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer- recebeu uma menção irônica de Lula, que a chamou de "governadora Garotinha".
Depois do discurso, içado por um guindaste, o presidente subiu na plataforma. Em seguida, almoçou arroz, feijão tropeiro e picanha, acompanhado de empresários, como o presidente da Repsol, João Carlos de Luca, dirigentes de estatais, como o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, ministros, como Luiz Marinho (Trabalho) e Silas Rondeau (Minas e Energia) e políticos, como o prefeito de Niterói, Godofredo Pinto (PT) e o de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT).

Colaborou a Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Ministro vai ao Congresso pela 3ª vez em 3 semanas
Próximo Texto: Presidente fala em "10 anos de crescimento"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.