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FHC vê necessidade de críticas, diz Leôncio; para Benevides, é ciúme
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO
Ao falar sobre "elitezinha
apressada que se abotoou no
poder" e de "gente que despreza a educação, a começar pela
própria", Fernando Henrique
Cardoso fez um dos mais contundentes discursos contra o
governo Lula e o PT.
O sociólogo Leôncio Martins
Rodrigues diz que o ex-presidente percebe que é preciso assumir "posições programáticas
firmes" e "tomar uma bandeira" que distinga PSDB e o presidente Lula. "De outro modo, o
lulismo pode tomar conta do
campo político."
Para Leôncio, entre os tucanos, o ex-presidente tem mais
"legitimidade e liberdade" para
elevar o tom das críticas. "De
certo modo, ele joga para o futuro", diz. "Mas o discurso serve também para elevar o ânimo
bélico dos tucanos, que anda
em baixa", complementa.
A socióloga Maria Victoria
Benevides rebate as críticas de
FHC, dizendo que ele "tem demonstrado falta de educação,
uma constrangedora incapacidade de controlar sentimentos
como inveja e ciúmes". "O Lula
não tem os títulos de erudição
que tem o Fernando. Isso deve
incomodar, porque não impediu o sucesso dele, especialmente no exterior."
Para o historiador da Universidade Federal de São Carlos
Marco Antonio Villa, o PSDB
acerta quando tenta "marcar
terreno, busca mostrar diferenças". "Em relação ao aparelhamento do Estado, tem que ser
repetido e cobrado sempre.
Agora, o correto, além de bater,
é apresentar uma proposta para que isso não se repita."
O historiador afirma que o
ex-presidente errou no tom ao
falar sobre o "desprezo à educação". "A crítica que gera mais
efeito deve ser feita na ação política do governo, onde há bastante espaço para críticas", diz.
Leôncio acredita que um dilema atual para o PSDB é que,
para reduzir os índices de popularidade de Lula, é preciso
elevar o tom. "Mas, como sabem os políticos, atacar lideranças em alta pode ser negativo para os autores."
Educação
Os especialistas lembram
que o próprio Lula costuma falar sobre o fato de não possuir
um diploma. Em setembro, disse que "um metalúrgico que
não tem um diploma universitário vai passar para a história
como o presidente que mais fez
universidades".
O deputado Vicentinho (PT-SP), amigo do presidente e sindicalista que se formou em direito em 2004, diz que as críticas a Lula são preconceito. "É
preciso respeitar as pessoas
que por uma ou outra razão não
estudaram, que é a maioria do
povo brasileiro. Prefiro alguém
que não fez faculdade e faz o
que o Lula faz pela educação do
país", diz. Para ele, não há "proselitismo contra educação".
"O FHC fazia algo que nos
constrangia: chegar nos lugares
e falar a língua dos outros. Queria mostrar que sabia e quebrava o protocolo. Um dirigente
francês, inglês, não chega aqui
falando português", conclui.
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