São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2007

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FHC vê necessidade de críticas, diz Leôncio; para Benevides, é ciúme

FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO

Ao falar sobre "elitezinha apressada que se abotoou no poder" e de "gente que despreza a educação, a começar pela própria", Fernando Henrique Cardoso fez um dos mais contundentes discursos contra o governo Lula e o PT.
O sociólogo Leôncio Martins Rodrigues diz que o ex-presidente percebe que é preciso assumir "posições programáticas firmes" e "tomar uma bandeira" que distinga PSDB e o presidente Lula. "De outro modo, o lulismo pode tomar conta do campo político."
Para Leôncio, entre os tucanos, o ex-presidente tem mais "legitimidade e liberdade" para elevar o tom das críticas. "De certo modo, ele joga para o futuro", diz. "Mas o discurso serve também para elevar o ânimo bélico dos tucanos, que anda em baixa", complementa.
A socióloga Maria Victoria Benevides rebate as críticas de FHC, dizendo que ele "tem demonstrado falta de educação, uma constrangedora incapacidade de controlar sentimentos como inveja e ciúmes". "O Lula não tem os títulos de erudição que tem o Fernando. Isso deve incomodar, porque não impediu o sucesso dele, especialmente no exterior."
Para o historiador da Universidade Federal de São Carlos Marco Antonio Villa, o PSDB acerta quando tenta "marcar terreno, busca mostrar diferenças". "Em relação ao aparelhamento do Estado, tem que ser repetido e cobrado sempre. Agora, o correto, além de bater, é apresentar uma proposta para que isso não se repita."
O historiador afirma que o ex-presidente errou no tom ao falar sobre o "desprezo à educação". "A crítica que gera mais efeito deve ser feita na ação política do governo, onde há bastante espaço para críticas", diz.
Leôncio acredita que um dilema atual para o PSDB é que, para reduzir os índices de popularidade de Lula, é preciso elevar o tom. "Mas, como sabem os políticos, atacar lideranças em alta pode ser negativo para os autores."

Educação
Os especialistas lembram que o próprio Lula costuma falar sobre o fato de não possuir um diploma. Em setembro, disse que "um metalúrgico que não tem um diploma universitário vai passar para a história como o presidente que mais fez universidades".
O deputado Vicentinho (PT-SP), amigo do presidente e sindicalista que se formou em direito em 2004, diz que as críticas a Lula são preconceito. "É preciso respeitar as pessoas que por uma ou outra razão não estudaram, que é a maioria do povo brasileiro. Prefiro alguém que não fez faculdade e faz o que o Lula faz pela educação do país", diz. Para ele, não há "proselitismo contra educação".
"O FHC fazia algo que nos constrangia: chegar nos lugares e falar a língua dos outros. Queria mostrar que sabia e quebrava o protocolo. Um dirigente francês, inglês, não chega aqui falando português", conclui.


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