São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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LEIA A ÍNTEGRA DAS NOTAS DE PEDIDO DE DEMISSÃO
Leia a seguir a íntegra das notas em que a Presidência da República comunica a aceitação dos pedidos de demissão, a em que José Roberto Mendonça de Barros explica os motivos que o levaram a pedir demissão e a em que José Pio Borges pede demissão:
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"Nota à imprensa
Ontem à noite, em encontro com o presidente da República, no Palácio da Alvorada, o ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, o presidente do BNDES, André Lara Resende, e o secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior, José Roberto Mendonça de Barros, reafirmaram seus pedidos de demissão.
O presidente da República lamenta informar que, apesar de seus argumentos de apelos, teve de ceder à decisão de seus colaboradores.
Nesta oportunidade, o presidente da República reafirma declarações anteriores sobre o comportamento absolutamente idôneo de seus auxiliares e expressa sua inconformidade pelos desdobramentos ocorridos a partir da divulgação de conversas telefônicas obtidas por meio de escuta criminosa.
Brasília, 23 de novembro de 1998"
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"Nota
Entreguei nesta data meu pedido de demissão do cargo de secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior, após quase quatro anos de trabalho no governo.
Durante esse período esforcei-me para colaborar ativamente na construção de uma agenda transformadora, que complete os esforços de estabilização e construa as bases do crescimento sustentável da economia brasileira.
Trabalhei tanto na concepção e execução da política macroeconômica quanto na construção de políticas setoriais para indústria, agricultura, construção civil e, recentemente, comércio exterior. Participei também de todas as atividades ligadas à privatização; neste caso, na verdade, minha atuação se iniciou ainda em 1993, como membro do antigo Conselho Nacional de Desestatização.
Tenho muito orgulho desta minha participação no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Vejo com clareza que o Plano Real está criando raízes cada vez mais sólidas na sociedade brasileira, apesar das dificuldades momentâneas. Estamos avançando a passos largos em direção ao crescimento sustentado, única forma de vencer as enormes desigualdades que caracterizam o país. Não tenho dúvidas de que, no momento certo, este governo será reconhecido como um ponto de inflexão na nossa história.
Uma parte importante no plano de governo foi o programa de privatização. Entendo, por um lado, que a principal atuação do governo deve ser nas áreas sociais -uma noção que foi perdida ao longo das últimas décadas. Por outro lado, sabemos que as brutais transformações por que vem passando a economia mundial e a crise fiscal do Estado colocaram um claro obstáculo ao crescimento econômico para os países que insistissem em basear seu desenvolvimento no investimento público. Somente com a retomada firme e consistente do investimento privado (nacional e externo) o Brasil reencontraria sua vocação histórica de crescer. Portanto, o programa de privatização é parte central deste projeto.
A privatização tem sido extremamente exitosa, reconhecida internacionalmente como correta, competente e honesta. Esse talvez tenha sido um dos processos mais fiscalizados desde sua origem pelo Tribunal de Contas da União, pelo Congresso, pela imprensa e pela sociedade civil. Nunca houve uma única vírgula fora do lugar. Não é aceitável, pois, que conversas telefônicas obtidas por meio de escuta criminosa e editadas de maneira tendenciosa sejam extensamente utilizadas com evidentes fins comerciais e políticos.
O ministro das Comunicações e o presidente do BNDES decidiram nesta data deixar o governo. Sou tomado pelo mesmo sentimento de indignação e solidário sinto-me na obrigação de segui-los. Desenvolvimento é algo construído, inclusive por meio de novos caminhos. Espero que não estejamos nos atrasando.
Registro a honra de ter trabalhado para o presidente Fernando Henrique Cardoso. Quero agradecer a oportunidade de ter convivido com dezenas de colegas da administração pública, especialmente os da área econômica. Finalmente, agradeço àqueles que comigo trabalharam diretamente.
Dei para este governo o melhor de minhas idéias. Esforcei-me ao máximo para colaborar com as transformações do país. Saio com a sensação de missão cumprida.
Brasília, 23 de novembro de 1998
José Roberto Mendonça de Barros"
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"Rio de Janeiro, 23 de novembro de 1998.
Exmos. Srs. Drs. Luiz Carlos Mendonça de Barros e André Lara Resende
Meus Caros André e Luiz Carlos,
Ainda que ficassem cem anos no governo, não me surgiriam oportunidade e honra como estas de caminhar junto com vocês e o Beto (José Roberto Mendonça de Barros). As conquistas, glórias, triunfos e recompensas foram nossas ainda que, no momento, encolhidas a essa pouca medida. Venho encaminhar-lhes, portanto, o meu pedido de demissão.
Ao solicitar-lhes que providenciem o devido encaminhamento à matéria, peço-lhes também que transmitam ao sr. presidente da República e ao ministro Paulo Paiva o meu reconhecimento pela atenção e simpatia com que me honraram.
Ao deixar o cargo público, sinto-me satisfeito da modesta colaboração que prestei a esse projeto de renovação nacional na esfera econômica que, entre erros e acertos, tem sido amplamente reconhecido como um grande caminho para o nosso país.
Por essa grande oportunidade que vocês me proporcionaram de servir ao nosso Brasil e pelas grandes provas de confiança e amizade que me deram nesse período de convivência, manifesto-lhes o meu sincero reconhecimento.
Um abraço do amigo José Pio Borges"



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