São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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REAÇÃO
FHC diz que decisão sobre novo ministro é pessoal e critica grampo
Presidente confirma criação do Ministério da Produção

WILLIAM FRANÇA
Santa Elena do Uiarén (Venezuela)


O presidente Fernando Henrique Cardoso confirmou ontem que vai criar o Ministério da Produção, apesar da demissão de Luiz Carlos Mendonça de Barros -cotado para a futura pasta- e das resistências partidos como o PFL e o PMDB.
"As decisões são minhas. Os partidos sabem disso e nenhum deles reivindicou nada a mim. Até porque, se reivindicarem, encontrarão um sorriso polido, mas (o pedido) entrará por um ouvido e sairá por outro."
Apesar de negar a existência de intrigas no Planalto, o presidente afirmou: "Acredito que tem gente de dentro do governo que fala o que não se deve. Eu recomendo que não digam. (...) Estou dizendo que esse é um comportamento errado e que o coibirei, de agora em diante, de maneira drástica".
FHC falou, durante quase meia hora, pouco antes de almoçar com o presidente da Venezuela, Rafael Caldera, na fronteira daquele país com Roraima. A seguir, trechos de sua entrevista.

ELOGIOS - FHC elogiou os auxiliares que pediram demissão. Disse que Lara Resende é um dos quatro inspiradores do Plano Real, que José Roberto Mendonça de Barros reorganizou o projeto brasileiro de exportação e que Luiz Carlos Mendonça de Barros "teve um desempenho excepcional à frente do BNDES, com uma energia enorme". "Eles não fizeram outra coisa senão defender o interesse do Brasil."
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CORREÇÃO DE ERROS - "Meu Deus, eu faço um apelo ao país: vamos deixar de perder valores, vamos corrigir o que estiver errado, vamos recriminar se erro houve. E quem não erra? Que se recrimine, que se corrija, mas não se pode imolar pessoas e famílias -que é disso que se trata", disse. FHC disse que insistiu para que os demissionários ficassem. "Mas, pelas razões de ordem pessoal, eles acharam que era melhor sair."
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INTRIGAS PALACIANAS - FHC disse que não tem conhecimento de intriga nenhuma entre seus auxiliares diretos. Mas reconheceu que "tem gente de dentro do governo que fala o que não se deve". Para esses, FHC recomendou "que não digam, que tenham um comportamento bastante ético". "Aqui muitos me conhecem e sabem que eu não faço isso, não destruo ninguém por meias palavras, não dou notinhas na imprensa."
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MINISTÉRIO DA PRODUÇÃO - FHC confirmou que vai criar a nova pasta. "Não é para expandir o poder de nenhum partido. É para expandir o poder do Brasil", afirmou. "Isso eu farei quando achar conveniente."
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AUTORES DO GRAMPO - FHC disse que não quer saber mais de fitas e que o caso está com a Polícia Federal e com a Procuradoria Geral da República. Ao ser questionado se o crime compensa, respondeu: "Vocês verão, com o tempo, que quem praticou o crime pagará. E quem está feliz por causa do crime também pagará".
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VOLTA AO GOVERNO - FHC negou que os demissionários estejam sob investigação. "A investigação que existe é para pegar quem fez o grampo." Sobre a possível volta deles ao governo, afirmou: "Sabe Deus!"



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