|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Propostas da CPI contra corrupção são esquecidas
Deputados e senadores ignoram medidas formuladas após a crise do mensalão
Desde julho, Congresso ignora os 21 projetos de lei propostos pela CPI com o intuito de apertar o cerco ao mau uso do dinheiro público
RUBENS VALENTE
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Deputados e senadores ignoram, há seis meses, os 21 projetos de lei formulados pela CPI
dos Correios para combater a
corrupção e reduzir os ralos de
dinheiro público no Executivo.
Estão parados ou foram devolvidos projetos que prevêem
a criação de programas nacionais de combate à corrupção e
de incentivo a denúncias de
fraudes, a redução do número
de cargos comissionados e novas leis contra improbidade administrativa, entre outras iniciativas propostas pela comissão parlamentar, após investigar o escândalo do mensalão.
Três indicações enviadas pela CPI à Presidência da República para alterar contratos de
publicidade e melhorar a fiscalização sobre movimentações
atípicas de dinheiro também
não saíram do papel.
A tramitação da maioria das
propostas no Congresso está
interrompida desde julho -16
nem sequer têm um relator designado, primeiro passo para a
análise dos projetos, e correm o
risco de serem arquivadas ao final da legislatura, em fevereiro.
Quatro dos projetos foram
rejeitados e devolvidos à CPI, já
desativada, pelo presidente da
Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), sob alegação de "vícios de
iniciativa". O deputado considerou, após consulta à área jurídica da Casa, que uma comissão mista de inquérito, formada por parlamentares da Câmara e do Senado, não tinha autonomia para sugerir as alterações legais que apresentou.
Havia um prazo regimental
de cinco sessões para um recurso contra os atos de Rebelo,
mas nenhum parlamentar se
manifestou.
Segundo técnicos do Senado
e da Câmara ouvidos pela Folha, tecnicamente não há explicação para a paralisação das
propostas. O que falta é a definição política, explicou um servidor que acompanha há 20
anos a tramitação de projetos
no Senado.
"Espero que não haja pressão
no sentido contrário das mudanças. Mas isso não vai ser
deixado na gaveta. Nós vamos
retomá-las no ano que vem",
disse o senador Delcídio Amaral (PT-MS), ex-presidente da
CPI dos Correios.
"O Senado tem aprovado tudo que interessa ao governo.
Dá-se prioridade ao Executivo,
isso tem que mudar", disse o líder do bloco da oposição no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR).
Corrupção
A CPI, encerrada em abril último, protocolou os projetos no
Congresso em julho, 11 no Senado e dez na Câmara. Os trabalhos da comissão consumiram 11 meses e cerca de R$ 4
milhões somente com a contratação de consultorias externas.
Em contrapartida, o projeto
de lei que dá base à atual discussão sobre o reajuste dos salários dos parlamentares foi
aprovado em tempo recorde,
analisado e votado em apenas
três dias de dezembro de 2002.
As propostas da CPI que entraram no Senado estão todas
paradas. Cinco aguardam a designação de um relator na CCJ
(Comissão de Constituição e
Justiça), que é presidida por
um nome da oposição, Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA).
A análise sobre outras seis
propostas já foi adiada ou
transferida até 15 vezes desde o
dia 24 de julho último.
Uma iniciativa pretende estabelecer "melhor fiscalização
sobre os fundos de previdência
complementar", resultado dos
trabalhos da subcomissão da
CPI, relatada pelo deputado
ACM Neto (PFL-BA), que investigou os fundos de pensão.
"Os planos de benefícios da
previdência complementar em
nosso país acumulam ativos garantidores dos benefícios da ordem de R$ 400 bilhões, abrangendo um universo de aproximadamente 14 milhões de brasileiros", diz uma das justificativas da proposta.
Outro projeto lei parado altera a lei da lavagem de dinheiro e
amplia para empresas de consultoria a obrigatoriedade da
identificação de seus clientes,
da informação de operações financeiras e das comunicações
das transferências internacionais. "Uma das principais conclusões a que chegou esta comissão parlamentar mista de
inquérito no transcorrer de
suas atividades foi a necessidade da imediata reforma da atual
lei [de combate à lavagem]",
afirma o texto da justificativa
da proposta.
Entre os projetos apresentados pela CPI, há iniciativas simples, que acarretam pouco ou
quase nenhum gasto público,
como o que prevê a divulgação,
na internet, das agendas diárias
dos ocupantes de cargos comissionados no governo federal.
Outros representam economia, como o que prevê a redução do número de cargos em
comissão de livres nomeação e
exoneração.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Assessoria de Aldo credita atraso a eleição Índice
|