São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Aloprados demais


Concluído o inquérito da PF sobre o desconhecido dossiê, é hora de instaurar inquérito sobre a própria investigação

CONCLUÍDO o inquérito da Polícia Federal em Cuiabá sobre o desconhecido dossiê, é hora de instaurar inquérito para duas apurações: a da motivação real da alegada investigação da PF sobre o duvidoso dossiê e, outra, sobre a própria investigação que consumiu 96 dias, mais de três meses de vencimentos, passagens aéreas, hospedagens e despesas diversas de numerosos policiais. Tudo para produzir um relatório que não honra a PF e procura criar desonras pessoais injustas. O novo inquérito é muito improvável, mas só por ele se saberia de que lado estão os mais "aloprados" do caso, se são mesmo os implicados que Lula assim qualificou, se os seus acusadores.
Indiciar o senador Aloizio Mercadante porque foi um integrante de sua campanha que, a PF acredita e não tem provas, levou a um hotel o dinheiro para pagar o dossiê é, no mínimo, um abuso de poder conclusivo passível de suspeitas graves. Tudo o que o relatório consegue dizer, a propósito do R$ 1,16 milhão em reais encontrados no hotel paulistano, é que acredita ser de caixa dois da campanha de Mercadante. Mesmo que tivesse essa origem, por que caixa dois, e não doação legítima, se a PF nem tem prova de que aquela importância integrasse "doações não declaradas"?
As sucessivas afirmações da PF sobre esse dinheiro são elucidativas, não da origem do dinheiro, mas do grau de validade das conclusões. Em pouco tempo, a PF informou que, na origem do dinheiro para o negócio petista, "as investigações já identificaram dois bancos". Os bancos, de fato, foram identificados com nomes dados à imprensa, citados diretores seus, mas não se identificavam com a doação.
Sem problema: como houvesse dinheiro miúdo nos pacotes, "o número 119 em alguns invólucros identificou o doador, os pontos do bicheiro Turcão na Baixada Fluminense". Turcão nem ao menos tem pontos nas áreas citadas pela PF de Cuiabá. Sem problema: as notas velhas "levaram a identificar a procedência em dinheiro recolhido para destruição". Nada. E a imaginação se esgotou enquanto ainda sobravam, para serem doadores identificados por seu dinheiro miúdo, os pedintes de porta de igreja, os meninos-malabaristas dos sinais de trânsito e os vendedores de pipoca. Então foi o tesoureiro da campanha de Mercadante, José Baccarin, que deu o dinheiro, tirado do caixa dois. Mais importante do que sua condição de senador, Aloizio Mercadante tem-se mostrado pessoa honrada, jamais suspeita de ato indigno. Insuspeito, inclusive, de participação na historiada de dossiê, a ponto de ter a PF de Cuiabá recorrido à legislação eleitoral para responsabilizá-lo por ato sem prova, nem indício, de um auxiliar da sua campanha. Contra o qual, também, nenhum antecedente negativo foi suscitado. A história desse inquérito aloprado daria um grande dossiê.
Com tantos "aloprados" à vista, como brinde de Natal segue-se, para não ser esquecida, a lista dos aloprados do Senado e da Câmara que se concederam os 91% de aumento, e não merecem ser esquecidos: Renan Calheiros, Ney Suassuna, Wilson Santiago e Jorge Alberto, do PMDB; Tião Viana e Arlindo Chinaglia, do PT; Aldo Rebelo e Inácio Arruda, do PC do B; Miro Teixeira e Mário Heringer, do PDT; Rodrigo Maia, Demóstenes Torres, Efraim Morais e José Carlos Aleluia, do PFL; Colbert Martins, do PPS; José Múcio Monteiro, do PTB; Givaldo Carimbão e Sandra Rosado, do PSB; Inocêncio Oliveira e Benedito de Lira, do PL; Sandro Mabel e Luciano Castro, do PR; Carlos William, do PTC; Ciro Nogueira, do PP; e Bismarck Maia, do PSDB. A todos eles, o Natal e o 2007 que mereçam.
E a você, leitor, desejo que viva o Natal com a melhor combinação possível de alegria e saudade.


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