|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Aloprados demais
Concluído o inquérito da PF sobre o desconhecido dossiê, é hora de instaurar inquérito sobre a própria investigação
|
CONCLUÍDO o inquérito da Polícia Federal em Cuiabá sobre o
desconhecido dossiê, é hora
de instaurar inquérito para duas apurações: a da motivação real da alegada investigação da PF sobre o duvidoso dossiê e, outra, sobre a própria
investigação que consumiu 96 dias,
mais de três meses de vencimentos,
passagens aéreas, hospedagens e
despesas diversas de numerosos policiais. Tudo para produzir um relatório que não honra a PF e procura
criar desonras pessoais injustas. O
novo inquérito é muito improvável,
mas só por ele se saberia de que lado
estão os mais "aloprados" do caso, se
são mesmo os implicados que Lula
assim qualificou, se os seus acusadores.
Indiciar o senador Aloizio Mercadante porque foi um integrante de
sua campanha que, a PF acredita e
não tem provas, levou a um hotel o
dinheiro para pagar o dossiê é, no mínimo, um abuso de poder conclusivo
passível de suspeitas graves. Tudo o
que o relatório consegue dizer, a propósito do R$ 1,16 milhão em reais encontrados no hotel paulistano, é que
acredita ser de caixa dois da campanha de Mercadante. Mesmo que tivesse essa origem, por que caixa dois,
e não doação legítima, se a PF nem
tem prova de que aquela importância
integrasse "doações não declaradas"?
As sucessivas afirmações da PF sobre esse dinheiro são elucidativas,
não da origem do dinheiro, mas do
grau de validade das conclusões. Em
pouco tempo, a PF informou que, na
origem do dinheiro para o negócio
petista, "as investigações já identificaram dois bancos". Os bancos, de fato, foram identificados com nomes
dados à imprensa, citados diretores
seus, mas não se identificavam com a
doação.
Sem problema: como houvesse dinheiro miúdo nos pacotes, "o número 119 em alguns invólucros identificou o doador, os pontos do bicheiro
Turcão na Baixada Fluminense".
Turcão nem ao menos tem pontos
nas áreas citadas pela PF de Cuiabá.
Sem problema: as notas velhas "levaram a identificar a procedência em
dinheiro recolhido para destruição".
Nada. E a imaginação se esgotou enquanto ainda sobravam, para serem
doadores identificados por seu dinheiro miúdo, os pedintes de porta
de igreja, os meninos-malabaristas
dos sinais de trânsito e os vendedores de pipoca. Então foi o tesoureiro
da campanha de Mercadante, José
Baccarin, que deu o dinheiro, tirado
do caixa dois. Mais importante do
que sua condição de senador, Aloizio
Mercadante tem-se mostrado pessoa honrada, jamais suspeita de ato
indigno. Insuspeito, inclusive, de
participação na historiada de dossiê,
a ponto de ter a PF de Cuiabá recorrido à legislação eleitoral para responsabilizá-lo por ato sem prova, nem
indício, de um auxiliar da sua campanha. Contra o qual, também, nenhum antecedente negativo foi suscitado. A história desse inquérito aloprado daria um grande dossiê.
Com tantos "aloprados" à vista, como brinde de Natal segue-se, para
não ser esquecida, a lista dos aloprados do Senado e da Câmara que se
concederam os 91% de aumento, e
não merecem ser esquecidos: Renan
Calheiros, Ney Suassuna, Wilson
Santiago e Jorge Alberto, do PMDB;
Tião Viana e Arlindo Chinaglia, do
PT; Aldo Rebelo e Inácio Arruda, do
PC do B; Miro Teixeira e Mário Heringer, do PDT; Rodrigo Maia, Demóstenes Torres, Efraim Morais e
José Carlos Aleluia, do PFL; Colbert
Martins, do PPS; José Múcio Monteiro, do PTB; Givaldo Carimbão e
Sandra Rosado, do PSB; Inocêncio
Oliveira e Benedito de Lira, do PL;
Sandro Mabel e Luciano Castro, do
PR; Carlos William, do PTC; Ciro
Nogueira, do PP; e Bismarck Maia,
do PSDB. A todos eles, o Natal e o
2007 que mereçam.
E a você, leitor, desejo que viva o
Natal com a melhor combinação
possível de alegria e saudade.
Texto Anterior: Assessoria de Aldo credita atraso a eleição Próximo Texto: Sugestões de congressistas ao Planalto são ignoradas Índice
|