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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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CONTRA-ATAQUE

Em visita à Volkswagen, presidente sugere que adversários querem vê-lo fracassar e defende ritmo de reformas

Lula diz que críticos esperam sua "trombada"

JULIA DUAILIBI
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Para se defender das críticas de morosidade e desarticulação política de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou ontem seus opositores e subiu o tom das declarações ao dizer que os adversários esperam dele uma "trombada" no poder.
"Quem sabe eles [os críticos] estejam esperando que eu venha dar alguma trombada para poder dizer: "Está vendo, o Lula é nervoso, é precipitado, ele não dá certo". Eles não percebem que eu ainda continuo na base do Lula paz e amor. Nada vai me deixar nervoso", afirmou o presidente, ao usar a expressão que caracterizou sua campanha, quando se esquivava do bate-boca com os adversários.
Lula é criticado pela demora no envio ao Congresso de propostas para reformas da Previdência e tributária. Além da oposição -principalmente o PFL-, os próprios aliados vêm dando declarações ácidas contra o governo. Entre eles, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), que disse, na sexta, que o governo está "batendo cabeça" na composição política no Congresso.
"Tem gente apressada demais. Tem gente que passou 20 anos no poder, tem gente que está no poder desde que Cabral descobriu o Brasil e não fez o que tinha que ser feito. Agora, eles querem que com setenta e poucos dias a gente já tenha resolvido o problema. Não vai ser no tempo deles, vai ser no nosso tempo", afirmou o presidente, referindo-se indiretamente a pefelistas e tucanos.
Lula esteve ontem na Volkswagen, em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, para a comemoração dos 50 anos da fábrica no Brasil, onde fez um discurso para cerca de 11 mil pessoas.
À platéia de trabalhadores, o presidente afirmou que as reformas tributária e previdenciária têm de promover "justiça social".
"Nós continuamos achando que não é justo pesar na classe média e na classe operária a grande tributação deste país. É por isso que nós queremos fazer uma reforma tributária para garantir que quem ganhe mais, pague mais."
O presidente chegou à fábrica por volta das 10h30 e passeou pela linha de montagem, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), em um modelo conversível da família Polo. Em seguida, discursou no pátio. Leia abaixo os principais trechos.
 

CRÍTICAS - "Tem gente apressada demais. Tem gente que passou 20 anos no poder, tem gente que está no poder desde que Cabral descobriu o Brasil e não fez o que tinha que ser feito. Agora, eles querem que com setenta e poucos dias a gente já tenha resolvido o problema. Não vai ser no tempo deles, vai ser no nosso tempo."

PAZ E AMOR - "Quem sabe eles [os críticos" estejam esperando que eu venha dar alguma trombada para poder dizer: "Está vendo, o Lula é nervoso, é precipitado, ele não dá certo". Eles não percebem que eu ainda continuo na base do Lula paz e amor. Nada vai me deixar nervoso, nada."

LOBBY PAULISTA- "Nós vamos poder ter a certeza de que o governador vai fazer, junto com o governo federal, as obras que forem necessárias para facilitar a produção e a exportação dos carros. São Bernardo do Campos não é uma terra que apenas produz carros. Pode trazer qualquer carro que esse pessoal aqui vai dar conta do recado e produzir melhor do que em qualquer outro lugar [ao defender a instalação no Brasil de uma fábrica de produção de veículos da Volkswagen para exportação]."

REFORMA TRIBUTÁRIA - "Queremos a reforma tributária para fazer justiça social no nosso país. Hoje, na verdade, quem paga mais imposto no Brasil é quem recebe contracheque no final do mês. Nós continuamos achando que não é justo pesar na classe média e na classe operária a grande tributação deste país. É por isso que nós queremos fazer uma reforma tributária para garantir que quem ganhe mais, pague mais"

REFORMA DA PREVIDÊNCIA - "É preciso ter claro que os trabalhadores da iniciativa privada não vão ter grandes mudanças na Previdência. Mas a reforma também é para fazer justiça social. Nós temos 19 milhões de pessoas que gastam da Previdência R$ 17 bilhões. Na outra ponta, nós temos 900 mil pessoas que gastam R$ 23 bilhões. Não é possível que você tenha a grande maioria do povo brasileiro ganhando um salário pequeno e uma minoria ganhando um salário muito alto. Daqui a 15 anos, nenhum Estado, nenhuma prefeitura e nem o governo federal poderão arcar com seus compromissos."

SALÁRIO MÍNIMO - "Eu não quero que vocês esqueçam nenhum compromisso que eu tenha assumido historicamente na minha vida. Eu tenho dito que a gente vai dobrar o poder aquisitivo do salário mínimo em quatro anos."

HISTÓRIA - "Não é possível que, agora que eu ganhei as eleições, eu me esqueça de vir até a porta da fábrica. Tenho consciência de cada passo, de cada coisa. A minha vitória significa a vitória da história da própria classe trabalhadora brasileira. Não posso esquecer que a minha inteligência não é minha inteligência, é o resultado da consciência política de vocês."

REVÓLVER - "Aqui cada trabalhador dá uma hora por ano para recuperar jovens. Eu queria que exemplos como esses de vocês pudessem ser seguidos por outras empresas, por outros trabalhadores porque cada um que a gente tirar da rua é um revólver a menos na nossa cabeça no final de semana ou na sexta-feira à noite."

PASSADO - "Voltar a esta fábrica como presidente da República não é pouca coisa para mim nem para vocês. Vocês sabem o que nós passamos aqui na década de 70. Hoje está tudo maravilhoso, mas houve tempo em que a gente nem podia fazer uma assembleinha na porta da Volkswagen."


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