São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
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JANIO DE FREITAS

O meu fiel leitor FHC

Saber-se lido todos os dias por um presidente da República, ainda mais em se tratando de presidente com os dotes de crítica esperáveis de um suposto intelectual, pode ser um acréscimo de responsabilidade ou, no presente caso, a única diversão do escrever, quando o assunto é o próprio presidente. Ao agradecimento de que é credor antigo, por esses momentos divertidos a meio de um trabalho já quase insuportável, Fernando Henrique Cardoso faz-se agora merecedor de minha gratidão vitalícia, ao declarar publicamente que é leitor assíduo do que escrevo.
O seu modo de dizer sempre enviesado, sempre pelas vias que a franqueza e a veracidade não frequentam, não chega a obscurecer o sentido e a intenção do que diz. Até resulta claríssimo: ""(...) a Folha tem pessoas pagas para me atacar". É fácil entender que, não sendo eu pago pela Folha com a determinação de criticar ou elogiar quem quer que seja, Fernando Henrique está se proclamando meu leitor diário. Tal como é de todos os que não são pagos para criticá-lo.
Nunca me faltou a certeza de que Fernando Henrique me acompanha com encantadora fidelidade. Entre as várias indicações disso, uma até dispensaria as demais: ninguém pode fazer comentários sobre artigos ou notas que não leu. Só por aí já posso dizer que Fernando Henrique não esquece o que escrevi. Mas sei que a predileção de sua memória inclui Verissimo, Cony e outros.
O fato de ser grato a leitor tão assíduo não me impede, porém, de defini-lo, para dizer o mínimo, como ingrato. É preciso dizer um pouco mais, e lembrá-lo também como portador de uma insinceridade que não cabe em pessoas de respeito.
Desde que começou a transpirar suas ambições de vida pública, Fernando Henrique recebeu da Folha um tratamento altamente privilegiado. Ele o disse, em mais de uma ocasião. Em discurso mesmo, quando recebeu a honra, embora pensasse que honrava a Folha e os da Folha, de ser o convidado a falar na inauguração do novo parque gráfico do jornal. Como há de mostrar uma verdadeira biografia sua (ah, que tentação para uma última tarefa), sem o impulso que a Folha lhe deu, Fernando Henrique dificilmente teria ido muito além dos estágios alcançados por seu carreirismo quando o jornal o conheceu.
É esse Fernando Henrique que acusa a direção da Folha de pagar colunistas em troca de produzirem textos viciosos. Não é por brincadeira, não. É por uma porção de motivações interiores, que daria pena mencionar, mesmo por meio de eufemismos.
Mas os que prezamos a Folha o desculpamos, porque, afinal de contas, não é um dos neobobos. É o decano dos bobos velhos.

Xiiiiiii
Para não sair muito do mesmo assunto, digamos logo que esse negócio de tornar pública a existência de filhos até então irrevelados, como estão fazendo com Maluf, é prática que pode causar grandes confusões.
Para que isso comece no planalto de São Paulo e chegue ao planalto de Brasília, a distância não é muita. Mas a crise já tem ingredientes bastantes.

O perigo
O deputado Miro Teixeira faz uma pregação muito procedente, a respeito da eventualidade de uma CPI para investigar o Judiciário. Sua proposta é que a CPI, se aprovada, não seja apenas do Senado, mas na modalidade de CPI mista, incorporando deputados.
Está mais do que demonstrado que as CPIs mistas são as que preservam mais independência, enquanto as do Senado ou da Câmara mostram-se, em geral, facilmente manipuláveis por influências de lideranças parlamentares e mesmo do governo.
Submeter o Judiciário a uma CPI passível de manipulação, e tais manipulações são sempre por interesses vis, seria um perigo de efeitos imprevisíveis.



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