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JANIO DE FREITAS
O meu fiel leitor FHC
Saber-se lido todos os dias
por um presidente da República, ainda mais em se tratando
de presidente com os dotes de
crítica esperáveis de um suposto intelectual, pode ser um
acréscimo de responsabilidade
ou, no presente caso, a única
diversão do escrever, quando o
assunto é o próprio presidente.
Ao agradecimento de que é
credor antigo, por esses momentos divertidos a meio de
um trabalho já quase insuportável, Fernando Henrique
Cardoso faz-se agora merecedor de minha gratidão vitalícia, ao declarar publicamente
que é leitor assíduo do que escrevo.
O seu modo de dizer sempre
enviesado, sempre pelas vias
que a franqueza e a veracidade não frequentam, não chega
a obscurecer o sentido e a intenção do que diz. Até resulta
claríssimo: ""(...) a Folha tem
pessoas pagas para me atacar". É fácil entender que, não
sendo eu pago pela Folha com
a determinação de criticar ou
elogiar quem quer que seja,
Fernando Henrique está se
proclamando meu leitor diário. Tal como é de todos os que
não são pagos para criticá-lo.
Nunca me faltou a certeza de
que Fernando Henrique me
acompanha com encantadora
fidelidade. Entre as várias indicações disso, uma até dispensaria as demais: ninguém
pode fazer comentários sobre
artigos ou notas que não leu.
Só por aí já posso dizer que
Fernando Henrique não esquece o que escrevi. Mas sei
que a predileção de sua memória inclui Verissimo, Cony e
outros.
O fato de ser grato a leitor
tão assíduo não me impede,
porém, de defini-lo, para dizer
o mínimo, como ingrato. É
preciso dizer um pouco mais, e
lembrá-lo também como portador de uma insinceridade
que não cabe em pessoas de
respeito.
Desde que começou a transpirar suas ambições de vida
pública, Fernando Henrique
recebeu da Folha um tratamento altamente privilegiado.
Ele o disse, em mais de uma
ocasião. Em discurso mesmo,
quando recebeu a honra, embora pensasse que honrava a
Folha e os da Folha, de ser o
convidado a falar na inauguração do novo parque gráfico
do jornal. Como há de mostrar
uma verdadeira biografia sua
(ah, que tentação para uma
última tarefa), sem o impulso
que a Folha lhe deu, Fernando
Henrique dificilmente teria
ido muito além dos estágios alcançados por seu carreirismo
quando o jornal o conheceu.
É esse Fernando Henrique
que acusa a direção da Folha
de pagar colunistas em troca
de produzirem textos viciosos.
Não é por brincadeira, não. É
por uma porção de motivações
interiores, que daria pena
mencionar, mesmo por meio
de eufemismos.
Mas os que prezamos a Folha
o desculpamos, porque, afinal
de contas, não é um dos neobobos. É o decano dos bobos velhos.
Xiiiiiii
Para não sair muito do mesmo assunto, digamos logo que
esse negócio de tornar pública
a existência de filhos até então
irrevelados, como estão fazendo com Maluf, é prática que
pode causar grandes confusões.
Para que isso comece no planalto de São Paulo e chegue ao
planalto de Brasília, a distância não é muita. Mas a crise já
tem ingredientes bastantes.
O perigo
O deputado Miro Teixeira
faz uma pregação muito procedente, a respeito da eventualidade de uma CPI para investigar o Judiciário. Sua proposta é que a CPI, se aprovada,
não seja apenas do Senado,
mas na modalidade de CPI
mista, incorporando deputados.
Está mais do que demonstrado que as CPIs mistas são as
que preservam mais independência, enquanto as do Senado ou da Câmara mostram-se,
em geral, facilmente manipuláveis por influências de lideranças parlamentares e mesmo do governo.
Submeter o Judiciário a uma
CPI passível de manipulação,
e tais manipulações são sempre por interesses vis, seria um
perigo de efeitos imprevisíveis.
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