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MISTÉRIO EM ALAGOAS
Promotor vai reconstituir crime e pedirá à Justiça para intimar o legista Badan Palhares
Morte de PC voltará a ser investigada
MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió
O promotor
Luiz José Gomes
de Vasconcelos,
39, anunciou
ontem a retomada das investigações das
mortes do empresário Paulo César Farias e de
sua namorada Suzana Marcolino
da Silva, mortos com um tiro cada
em 23 de junho de 1996 na casa de
praia do empresário em Guaxuma,
bairro a 8 km do centro de Maceió.
As investigações estavam paradas
desde fevereiro de 1998.
Vasconcelos fará a reconstituição das mortes. Pela primeira vez
no caso, todos os seguranças e funcionários de PC que reconheceram
estar no terreno na ocasião (jardim, casa de empregados, guarita,
prédio principal) serão convocados para participar.
Vasconcelos pedirá à Justiça para
intimar o legista Fortunato Badan
Palhares, professor da Unicamp e
coordenador da equipe que assinou o laudo oficial sustentando
que PC foi assassinado por Suzana
e que ela se suicidou em seguida.
O laudo fundamentou o inquérito policial, que reafirmou a tese sobre a morte do ex-tesoureiro de
campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
O promotor quer saber por que
está errada a altura de Suzana utilizada por Palhares na simulação
das mortes, conforme a Folha revelou ontem com base em fotografias de PC e da namorada juntos,
de corpo inteiro.
Para Palhares, ela tinha 1,67 m, o
que tornaria plausível que a bala
que a atingiu tivesse penetrado pelo peito, como ocorreu. Mesmo
usando salto alto, no entanto, Suzana era menor do que PC, que
media 1,63 m. Se ela tivesse se suicidado como descrito no laudo oficial, a bala teria passado sobre um
ombro ou atingido a sua cabeça.
""Essa é uma falha que fica meio
complicado para justificar", afirmou Vasconcelos. ""O princípio
básico de qualquer exame de corpo é que você tenha no mínimo a
altura da pessoa. Isso não pode ser
depois presumido com base em
documentos."
A altura de Suzana e a posição em
que ela se encontrava ao ser atingida pela bala haviam sido questionadas em 1997 por um laudo complementar, assinado pelos legistas
Daniel Muñoz (professor da USP)
e Genival Veloso de França (professor aposentado da Universidade Federal da Paraíba), pelo especialista em balística Domingos Tochetto e pelo perito Nicholas Passos. ""Era óbvio que o conflito estava diretamente relacionado à altura", disse o promotor.
""A Folha trouxe o elemento que
faltava. Com esse elemento novo
eu tenho um fato, uma prova real
de que a altura não era a descrita
no laudo inicial. Nós passamos a
vislumbrar uma nova versão para
esse crime."
Na época das mortes, policiais
suspeitaram de duplo homicídio:
Suzana poderia ter matado PC e sido morta por outra pessoa ou ambos poderiam ter sido assassinados por terceiro(s). Vasconcelos se
recusa a falar sobre as hipóteses.
Promotor da 3ª Vara Criminal de
Competência Não-Privativa de
Maceió, o promotor afirmou que
planejava exumar novamente o cadáver de Suzana, para medir sua
altura com base no tamanho de ossos. ""Com as fotos, porém, a questão se esgota."
Ele disse que pedirá a Badan Palhares uma avaliação sobre o que
seria modificado na dinâmica das
mortes com base na altura real.
O promotor também chamará os
quatro peritos que assinaram o
laudo complementar, para pedir
mais detalhes.
Para os autores do contralaudo,
Suzana morreu em movimento, levantando-se da cama, inclinada
para a frente, em posição de quem
queria se defender. As características são estranhas a suicidas, de
acordo com Muñoz e França.
Reconstituição
Com a reconstituição do crime, o
promotor pretende avaliar o relato
de cada funcionário e segurança.
Todos afirmaram que não ouviram os tiros -PC teria morrido
até as 2h e Suzana, entre 5h e 7h,
conforme análise de alimentos nos
estômagos dos dois realizado pela
legista Maria Tereza Pacheco.
Exame de audibilidade realizado
pelos autores do segundo laudo
concluiu que em qualquer local do
terreno era possível ouvir os tiros.
""Quero a reconstituição de todo o
movimento acontecido no dia do
crime", disse o promotor.
""Várias hipóteses serão analisadas, onde as pessoas estavam em
cada momento. A reconstituição
será fiel aos horários descritos, para que eu tenha um retrato mais
próximo possível do que aconteceu. É fundamental trabalhar com
as pessoas envolvidas, até para
sentir o emocional de cada um."
Vasconcelos vai reinquirir várias
testemunhas, inclusive a caseira
Marisa de Carvalho. De acordo
com a jornalista Ana Luiza Marcolino Noaro, irmã de Suzana, uma
pessoa teria ouvido a caseira culpar um segurança pela morte.
Vasconcelos assumiu o caso em
fevereiro de 1998, mas não convocou a polícia para novas diligências. ""Solicitar o envolvimento da
polícia mais uma vez seria enxovalhar ainda mais o caso, porque estaria caindo em completa falta de
credibilidade com a opinião pública", afirmou.
O ministro Renan Calheiros
(Justiça) defendeu ontem a realização de um novo laudo para eliminar dúvidas sobre a versão oficial.
Segundo ele, o ministério e a Polícia Federal estão à disposição das
autoridades alagoanas para providenciar esse eventual novo laudo.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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