São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
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Badan não comprova altura de Suzana

MAURÍCIO SIMIONATO
da Folha Campinas

O médico legista Fortunato Badan Palhares apresentou ontem em Campinas (a 99 km de São Paulo) fotos que não foram incluídas no laudo oficial da morte de Paulo César Farias, ocorrida em 1996, mas não comprovou a verdadeira altura de Suzana Marcolino da Silva, namorada do empresário.
Fotografias obtidas pela Folha mostram que a altura de Suzana é menor que a apresentada por Badan no laudo, utilizado para a conclusão do inquérito policial que apura a morte do casal.
O legista mostrou aos jornalistas ontem uma foto de Suzana com Ana Luiza Marcolino Noaro, sua irmã, que, segundo ele, é capaz de "derrubar" a tese apresentada pela Folha.
Na foto de Badan, Suzana e Ana Luiza teriam praticamente a mesma altura. Ana Luiza tem altura próxima a 1,67 m. Suzana aparece de lado -com os saltos dos sapatos à mostra-, e Ana Luiza permanece em um ângulo (de frente) que não permite visualizar o tipo de sapato usado por ela na ocasião. O legista não permitiu que a imagem fosse reproduzida.
Ana Luiza, 38, irmã mais velha de Suzana Marcolino, disse ontem à Folha que Badan Palhares errou ao dizer que as duas tinham a mesma altura. ""Suzana tinha 1,58 m. Eu tenho 1,67 m. Ela usava saltos altíssimos. Eu sempre usava saltos mais baixos. Ninguém na face da terra vai dizer que minha irmã tinha 1,67 m. É um absurdo."
""Qualquer pessoa que nos viu adultas sabe que ela era baixinha e eu era bem maior", afirmou ela.

Justiça
Badan disse também ter provas suficientes para para mostrar que a fotografia apresentada na edição de anteontem da Folha não ""condiz com a realidade". No entanto, ele disse que só dará mais detalhes de suas provas à Justiça.
O laudo de Badan aponta que Suzana teria 1,67 m, quatro centímetros a mais que PC.
Em outra fotografia exibida por Badan, Suzana está na mesa de necropsia, onde aparece de corpo inteiro. Mas o ângulo em que a fotografia foi feita também impede a comprovação de sua estatura.
As fotos não constam do primeiro laudo feito pela equipe de peritos. De acordo com Badan, as fotografias foram acrescentadas ao processo em 1997.
Badan apresentou cópias de documento oficiais da Secretaria Pública de Alagoas em que aparece a altura de Suzana como 1, 67 m. Para a confecção desses documentos, a idade é declarada pela pessoa, sem comprovação de exames.
""Também tenho fotos de Suzana com pessoas de convívio dela e que estão vivas", disse.
Ele afirmou que Suzana possui em torno de 1,67 m. ""Pelos elementos que nós colhemos, não temos dados que nos possam levar a pensar de outra forma. O perito tem que se basear nos elementos colhidos e materializados", disse.
O legista admite no entanto ter cometido pelo menos uma falha no laudo. ""Nós cometemos uma única falha nesse processo. Nós não anotamos no laudo a estatura dela, mas, em contrapartida, no próprio laudo existe uma citação de que nós utilizamos uma pessoa com as mesmas características físicas de Suzana, para tentar refazer o local do crime", disse Badan.
De acordo com o legista, a altura de Suzana faz parte de um ""detalhe que naquele momento não era ou não parecia ser importante".
O próprio legista disse, em artigo publicado na Folha, que, estando errada a altura, as conclusões do laudo estariam comprometidas.
O laudo dele aponta que Suzana matou PC e depois se suicidou. ""Está havendo uma má interpretação em cima do que eu disse. Eu disse e escrevi que quem parte de uma premissa errada de altura de Suzana chegará obrigatoriamente ao erro de interpretação. É preciso interpretar todos os elementos que envolvem essa altura."
A equipe que assina o laudo é composta por 11 legistas.
""É uma falha que nos parecia ser menos importante e nos passou batido. Confessamos que existe, mas que não pode invalidar o laudo. As provas que constam nesse laudo são muitos mais expansivas do que esse fato", disse.
Badan disse já que já tinha conhecimento da fotografia apresentada pela Folha na edição de anteontem. ""Eu não queria contestar absolutamente nada nessa foto que deve passar provavelmente por uma perícia. Resta saber como é que as pessoas vão interpretá-la".


Colaborou Mário Magalhães, enviado especial a Maceió


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