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CELSO PINTO
Sobram dólares para intervir
O Banco do Brasil voltou a comprar um volume estimado entre
US$ 100 milhões e US$ 150 milhões ontem, o que impediu que a
cotação do dólar caísse abaixo de
R$ 1,84. Em 3 dos 5 dias úteis da
semana passada, as reservas cambiais aumentaram, por compras
do Banco Central no mercado por
meio do BB.
Nesta semana e na próxima, os
vencimentos de bônus chegam a
US$ 1,6 bilhão, considerados alguns vencimentos do início de
abril, cujo câmbio terá que ser
comprado ainda em março: por
exemplo, US$ 260 milhões da Petrobrás. Contudo, excluindo os
bônus cujos recursos o mercado
sabe que já foram comprados antecipadamente, estão faltando
apenas cerca de US$ 550 milhões.
Em compensação, está entrando
cerca de US$ 1 bilhão de volta dos
fundos externos (Fiex).
O BC gastou, até agora em março, US$ 1,2 bilhão de reservas
(contando a entrada de US$ 1 bilhão do dinheiro do BID). Pelo
acordo com o FMI, podia gastar
até US$ 3 bilhões. Pode, portanto,
gastar ainda US$ 1,8 bilhão, mas
já está claro que vai precisar de
muito menos.
Vai entrar em abril, portanto,
com uma boa folga. Pelo acordo
com o FMI, poderia gastar US$ 2
bilhões em abril. É possível que tenha uma "sobra" bem superior a
US$ 1 bilhão de março, além do
que vier a captar por meio do bônus (no mínimo US$ 1 bilhão).
Não é irrealista supor que tenha,
em abril, um "colchão" de até US$
4 bilhões para gastar, se for preciso.
É uma virada impressionante de
humor no mercado, ajudada pelo
acordo com o FMI, os bons resultados da inflação e os estímulos
aos capitais de curto prazo. Há
duas semanas, de segunda a sexta-feira, o BC teve que gastar US$
1,147 bilhão de suas reservas para
evitar pressões sobre o câmbio. Na
semana passada, fechou com um
ganho líquido de reservas de US$
36 milhões, de sexta a sexta.
Parte das compras de dólares do
BB, diz um banco, vai para o pagamento de um bônus da Sabesp,
cujo câmbio terá que ser fechado
nesta sexta-feira. São US$ 275 milhões mais juros, o que deve somar
uns US$ 300 milhões. Em compensação, o Bradesco estava fechando ontem uma emissão de US$ 150
milhões de bônus.
Está claro que uma boa parte do
dinheiro que está entrando é "dólar verde-e-amarelo", dinheiro
que bancos, empresas e indivíduos tiraram do país antes da flutuação do câmbio. É difícil calcular quanto já voltou, mas um banqueiro diz que o quase US$ 1 bilhão que o BC emitiu em títulos
indexados (NTNs cambiais) recentemente deve ter alimentado,
basicamente, esse dinheiro. A remuneração é fantástica.
Se o investidor externo não quiser correr risco de desvalorizações, compra uma NTN cambial
rendendo 31% acima do dólar e
embolsa, líquidos, uns 19%. Se topar correr mais riscos, investe a
45% em reais e ainda pode ganhar um extra se continuar a valorização em relação ao dólar.
Não há nada igual no mundo.
Como é um dinheiro de curtíssimo prazo, especulativo e volátil,
está longe de ser um capital confiável para financiar o balanço de
pagamentos a médio prazo. Talvez por essa razão, o BC relute em
aceitar uma queda muito forte na
cotação do dólar, antes de consolidar uma virada mais consistente, vinda de saldos na balança comercial e de investimentos diretos.
Tem havido maior oferta, também, em linhas comerciais, mas a
recomposição é mais lenta. O fato
é que quanto mais dólares entram, mais aumenta a confiança
externa, o que ajuda a atrair ainda mais dólares.
Também está entrando dinheiro
externo na Bolsa: o saldo líquido
foi positivo em R$ 450 milhões nos
primeiros 20 dias de março. É, em
parte, um ajuste a uma redução
muito forte nas posições recentes
no Brasil.
Muitos fundos internacionais,
por exemplo, usam como base o
índice latino-americano do banco
Morgan Stanley. O índice reflete
os valores relativos de cada mercado.
Antes da crise da Rússia, o Brasil chegava a ser 42% do total da
carteira teórica latino-americana
do Morgan. Caiu muito depois e,
por um breve instante, o México,
com 32%, passou o Brasil, com
30%.
Essa queda relativa levou os
fundos que seguem a carteira teórica do Morgan a vender ações
brasileiras para manter a proporção, reforçando a queda. Além
disso, os estrategistas do Morgan
recomendavam aos investidores
que tivessem uma posição inferior
à da carteira teórica.
Com a recuperação recente do
mercado brasileiro, a posição relativa subiu, ao mesmo tempo em
que o banco passou a recomendar
posições acima da posição na carteira teórica. Muitos fundos começaram a comprar Brasil para
ajustar suas posições, ajudando a
reforçar a alta.
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