São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Parlamentares do bloco PL/PSL assinaram em grupo o pedido de criação; na Câmara, já são 162 assinaturas

CPI da corrupção depende de 9 deputados

DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Deputados do bloco PL/PSL assinaram ontem em grupo o pedido de criação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da corrupção. Foram mais 10 assinaturas do PL e 1 do PSL, do total de 23 deputados do bloco. Com as novas adesões, o número de assinaturas sobe para 162, de acordo com os dados divulgados pela oposição na semana passada.
Faltam, portanto, nove para completar as 171 assinaturas necessárias a fim de viabilizar a instalação da CPI no Congresso, pois, no Senado, ela já obteve as 27 previstas pelo regimento.
Mas o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), afirmou que a CPI recebeu ontem o apoio de um deputado do PSDB -partido do presidente Fernando Henrique Cardoso- e poderá receber hoje quatro novas assinaturas de deputados do PMDB. O nome do congressista tucano e o total de assinaturas estão sendo mantidos sob sigilo. Ou seja, seriam mais cinco adesões, o que deixaria a criação da CPI na dependência de apenas outros quatro deputados.
No contra-ataque, o governo vem recolhendo declarações de deputados retirando a assinatura do pedido de CPI para apresentar, caso a oposição consiga o número necessário de 171 assinaturas.
A adesão à CPI não foi unânime entre os seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus. Dois deputados do PSL não assinaram o pedido: De Velasco (SP) e Valdeci Paiva (RJ) . O deputado De Velasco revelou na reunião um tipo de interferência do governo para tentar barrar a CPI.
O deputado contou que não assinaria a CPI porque o ministro Andrea Matarazzo (Secretaria de Comunicação) teria triplicado a verba de publicidade oficial na Rede Record.
A informação foi confirmada pela Folha com três participantes da reunião. O líder do bloco na Câmara, Valdemar Costa Neto (PL-SP), disse que "o deputado De Velasco não disse coisa com coisa" e que "o pessoal entendeu errado".
O ministro Matarazzo negou a informação. "Isso é patético, não faz sentido, é coisa de irresponsável e de pessoa de má-fé." Segundo o ministro, não há como prometer verba de publicidade porque há um critério técnico de distribuição de anúncios de acordo com a audiência da emissora.
"Não dá para saber quanto a Rede Record terá de publicidade neste ano. Se não houver alteração no mercado, provavelmente ela vai receber o mesmo percentual do ano passado", disse Andrea Matarazzo.
O deputado Bispo Rodrigues (PL-SP), que coordena a bancada da Igreja Universal, também negou que tivesse havido negociação com o governo. "Se isso fosse verdade, nenhum deputado da bancada evangélica teria assinado a CPI. Seria uma grande burrice liberar R$ 20 milhões para evitar uma assinatura", disse Rodrigues. Seis deputados do bloco PL/PSL ligados à Igreja Universal assinaram o pedido.
O deputado Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP), que defendia o alinhamento com o governo, recuou e também assinou a CPI. "Não vou me suicidar com a elite que está teimando com a opinião pública. A opinião pública quer uma reposta às acusações", disse Medeiros.
A assinatura do deputado Luciano Bivar (PSL-PE) no pedido de CPI durou pouco. Menos de meia hora depois de divulgado o seu nome pelo líder do bloco PL/ PSL, ele mandou informar que já havia retirado sua assinatura.
Hoje, os partidos de oposição vão se reunir para decidir o que fazer. Se esperam mais assinaturas na Câmara para uma CPI mista ou se criam uma CPI apenas no âmbito do Senado, onde já há as 27 assinaturas exigidas.


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