São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 2002

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ELEIÇÃO ENGESSADA

Presidente diz a senador que aliança corre risco de implosão

FHC pressiona e Serra cede definição do vice ao PMDB

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso pressionou o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, a desistir de impor o vice à cúpula do PMDB. A contragosto, Serra cedeu e deverá aceitar um dos dois nomes indicados pela direção peemedebista: o deputado federal Henrique Eduardo Alves (RN), que se torna favorito nessa situação, ou o ex-prefeito de Joinville (SC) Luiz Henrique.
FHC disse a Serra que havia risco de implosão da aliança PSDB-PMDB caso ele continuasse a insistir no senador Pedro Simon (RS) ou na deputada Rita Camata (ES), peemedebistas vetados pela cúpula por terem jogado sempre contra a aliança com o PSDB.
O presidente enquadrou Serra anteontem, usando um argumento pragmático: se a indicação tiver problema de ordem moral, que se faça uma substituição rápida. Serra acha que os preferidos da cúpula não têm a densidade política de Simon e que podem surgir supostas denúncias contra eles.
Na montagem da aliança que elegeu FHC em 1994, o cargo de vice-presidente fora reservado ao senador Guilherme Palmeira (PFL). Denúncias contra um assessor de Palmeira, no entanto, abriram caminho para a escolha de um novo nome: Marco Maciel.
O presidente disse a Serra que era melhor correr esse risco do que ficar sem o PMDB. FHC lembrou ter trocado em 48 horas o seu primeiro vice em 1994. E falou mais: se der problema, Serra ficaria credor do PMDB e poderia, aí, voltar a indicar o nome que julga mais palatável. Depois de conversar com Serra, FHC se reuniu anteontem com dirigentes do PMDB no Alvorada. Só ouviu queixas e ficou preocupado.
Estiveram no Alvorada o presidente do PMDB, Michel Temer, o presidente do Instituto Ulysses Guimarães, Moreira Franco, e os líderes do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e no Senado, Renan Calheiros (AL).
Além da vice, o PMDB cobrou a abertura de espaços para seus filiados em composições com os tucanos nos Estados. FHC disse que atuaria rapidamente.
Ontem de manhã os mesmos peemedebistas que estiveram com FHC se reuniram com o presidente do PSDB, José Aníbal, o coordenador da campanha de Serra, Pimenta da Veiga, e o senador Artur da Távola.
Ficou acertado que Serra não se intrometeria mais na questão do vice e que até a próxima quarta-feira o PSDB resolveria a maioria dos problemas estaduais. Um dos principais é a retirada de um candidato a governador tucano em Alagoas para permitir ao peemedebista Renan apoiar, em aliança branca, a reeleição de Ronaldo Lessa (PSB) ao governo.
Outro exemplo: o ex-governador Dante de Oliveira, líder do PSDB no Mato Grosso, será pressionado pelo PSDB a aceitar uma composição para Carlos Bezerra tentar a reeleição ao Senado.
Há situações semelhantes no Acre, em Sergipe e na Paraíba, entre outros. Na Bahia, os tucanos prometem tirar os cargos federais que estão com o pefelista Antonio Carlos Magalhães. Geddel, inimigo mortal de ACM, poderia obter nomeações prometidas, mas nunca realizadas.
A cúpula do PMDB cobra concessões do PSDB para garantir a maioria dos votos do partido na convenção oficial de junho. A ação de FHC acalmou os ânimos dos peemedebistas.


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