São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 2002

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COM AS ESTRELAS

Presidenciável recitou Camões em reunião promovida por Patrícia Pillar

Ciro se compara a Tancredo Neves

DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O pré-candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, comparou anteontem sua situação política à de Tancredo Neves, presidente eleito em 1985, para justificar uma eventual aliança entre seu partido e o PFL.
"Tancredo ofereceu uma transição por cima, fizemos aliança com o PFL e saímos abraçados com [José] Sarney. Mas, como a causa era nobre, ninguém quis pesquisar isso", disse Ciro, em palestra a representantes da classe artística, no Rio.
"Trata-se de pensarmos se este é um momento refundacional [como foi aquele]. Eu acho que é", completou o presidenciável.
Contrária à candidatura de Paulo Maluf ao Colégio Eleitoral, em 1984 uma pequena parcela do PDS aderiu ao nome de Tancredo. O grupo de dissidentes, batizado de Frente Liberal, viria a dar origem ao PFL, em janeiro de 1985. Ex-presidente nacional do PDS, Sarney, um dos rebelados de sua sigla, foi indicado para o cargo de vice na chapa de Tancredo.
"Mas o PT está sozinho. Purinho da Silva. Tentou o PL, rezou com o Bispo Rodrigues [da Igreja Universal". Nada contra. Mas acho que misturar religião com política não dá certo. [Quem quiser" Tem a opção de purismo aí", ironizou Ciro. "Mas ele tem 39%", provocou alguém da platéia. ""Para começarem a atacar o Lula", completou, constrangido, o ex-ministro da Fazenda.
Ciro teve de defender também Roberto Jefferson (PTB) da coligação que dá sustentação à sua candidatura, citado como exemplo de aliado-problema.
"Toda a execração a Jefferson não condiz com um juízo neutro. Ele paga por ter sido fiel ao [Fernando] Collor. Não ouvi dizerem que ele roubou."

Estréia
Realizado no teatro Casa Grande, o encontro do ex-ministro com artistas marcou a estréia da namorada de Ciro, a atriz Patrícia Pillar, na campanha do PPS.
Organizadora do evento, ela recepcionou convidados ao lado do pré-candidato, posou para fotografias e, após o encerramento da palestra, já fazia uma nova convocação. ""Vamos fazer um outro [evento" com pesquisadores", propôs a um amigo.
Ciro afirmou estar "especialmente nervoso" com a reunião. "É minha primeira produção by Patrícia Pillar", justificou à platéia, de cerca de 150 convidados. Segundo pessoas ligadas à atriz, aproximadamente 2.000 convites haviam sido distribuídos.
Sentado em uma cadeira no centro do palco, o ex-ministro realmente demonstrou desconforto diante de um público com o qual não está acostumado.
Suando muito, esforçou-se para parecer descontraído. "Vou tentar ser o menos cacete possível", declarou antes da apresentação, que afirmou custar cerca de R$ 5.000, quando feita por encomenda.
Criticando o PT e José Serra (PSDB), fez piadas com uma frequência que não costuma caracterizar seus discursos e usou exemplos relacionados à cultura para explicar seus diagnósticos.
Prometeu ainda incentivar o "vanguardismo cultural", o "experimentalismo" e a arte popular e denunciou a distribuição de panfletos apócrifos na cidade afirmando que sua candidatura seria contrária ao subsídio cultural. ""Esse é o jogo. O que uma pessoa que levanta a voz [contra o sistema" tem de suportar..."
Sobre segurança pública, disse que nem todo o problema está ligado à questão social. ""Parte da violência não tem nada a ver com a questão social. Narcotráfico, sequestro. Lá atrás, talvez. Mas o fato está consumado e é preciso haver repressão eficaz."
Depois de falar por cerca de uma hora e de responder a perguntas, encerrou a noite recitando, a pedidos, trecho de "Os Lusíadas", de Luís de Camões. "Esta não é minha primeira vez no palco. Já fui Marco Antônio, em Shakespeare", explicou.
Apesar de a reunião ter sido descrita como encontro "sem compromisso", houve quem saísse impressionado com Ciro. "Penso seriamente em votar nele", disse o ator Marco Nanini, que já votou no presidente Fernando Henrique Cardoso.
Estiveram ainda no evento a atriz Renata Sorrah, o cineasta Luiz Carlos Barreto, o diretor Hamilton Vaz Pereira, a coreógrafa Lia Rodrigues e o músico Zeca Assumpção, entre outros.
(PATRICIA ZORZAN)


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