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VIAGEM AO ORIENTE
Presidente recordou aos chineses voto do Brasil na ONU, que impediu condenação do país
Lula evita criticar China por violação de direitos humanos
Greg Baker/Associated Press
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Lula e Hu Jintao, presidente da China, brindam após a assinatura de nove acordos de cooperação entre os dois países, em Pequim |
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
GUILHERME BARROS
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva evitou fazer críticas à situação dos direitos humanos na
China no encontro que teve ontem com o presidente do país, Hu
Jintao. Lula limitou-se a assinar
um comunicado conjunto com o
governo chinês, no qual ataca a
politização da questão, conduta
comumente atribuída aos EUA.
"O presidente Lula está consciente de que hoje os direitos humanos fazem parte da Constituição chinesa", disse o chanceler
Celso Amorim, ao fim do encontro. Segundo ele, Lula relembrou
ao presidente chinês a posição de
apoio à China que o Brasil adotou
na Comissão de Direitos Humanos da ONU, ajudando a bloquear
e derrotar projetos de resolução
que censuravam a situação dos
direitos humanos no país. A resolução tinha o apoio dos Estados
Unidos e da União Européia.
"As duas partes coincidiram em
reafirmar os princípios da universalidade, indivisibilidade e não-seletividade dos direitos humanos, conforme estabelecido pela
Declaração e Programa de Ação
de Viena", diz o comunicado conjunto (a seletividade envolve a
análise de cada país individualmente). "Salientaram a importância fundamental da plena realização do direito ao desenvolvimento e reiteraram que a promoção e
a proteção dos direitos humanos
devem corresponder aos propósitos e aos princípios da Carta das
Nações Unidas", continua o texto.
"A parte chinesa expressou o
agradecimento à parte brasileira
pelo seu apoio na Comissão de
Direitos Humanos de Genebra."
Além da posição favorável à
China na área de direitos humanos, no comunicado, Lula se declarou contra a independência de
Taiwan e do Tibete e a favor do
princípio de uma só China -posição tradicional da diplomacia
brasileira. Também se comprometeu a analisar a possibilidade
de conceder o status de economia
de mercado à China, o que dificultaria a imposição de medidas antidumping contra o país.
"O presidente Hu Jintao manifestou sua apreciação pela posição brasileira nas questões de Taiwan e de direitos humanos", afirmou Liu Jianchao, porta-voz dos
Ministério das Relações Exteriores. O comunicado conjunto tem
quatro páginas e define as linhas
da relação estratégica que os dois
países pretendem aprofundar.
Conselho de Segurança
O Brasil recebeu da China o
compromisso de pressão em favor da reforma das Nações Unidas, incluindo o Conselho de Segurança, "de forma a torná-lo
mais representativo e democrático". O comunicado não faz menção explícita a uma posição favorável à inclusão do Brasil entre os
membros que hoje têm assento
permanente no Conselho -cinco, entre os quais à China. Mas diz
que o Brasil deve ter mais peso
nos organismos multilaterais e
que um mecanismo de cooperação entre os dois países será criado para análise desse ponto.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, classificou
como "muito satisfatória" a redação do comunicado conjunto em
relação à entrada do Brasil no
Conselho de Segurança da ONU.
O texto menciona o "empenho
positivo do presidente Lula no
combate à pobreza" e destaca a
importância do G20 no âmbito
das negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Criado em grande parte graças ao
esforço brasileiro, o G20 catalisa o
esforço dos países em desenvolvimento para abrirem os mercados
agrícolas mundiais dentro da negociação da Rodada de Doha.
Lula foi recebido com honras
militares no pátio do Grande Palácio do Povo. A cerimônia começou às 16h45, com execução dos
hinos nacionais e uma salva de 21
tiros de canhão. A partir das 17h,
os dois presidentes tiveram um
encontro particular de meia hora,
no fim do qual começou uma reunião com a presença de todos os
ministros, que durou uma hora.
Às 18h40 começou a cerimônia
de assinatura do comunicado
conjunto e de dez acordos oficiais
entre os dois países. Depois de firmar o comunicado, Lula e Hu deram as mãos e se abraçaram. Os
demais acordos foram assinados
pelos ministros das respectivas
áreas e envolviam desde a facilitação na concessão de vistos de negócios até a ampliação da cooperação em programa de satélites.
Dos dez acordos, um dos mais
importantes é o Memorando de
Entendimento entre o Ministério
do Planejamento do Brasil e o Ministério do Comércio da China
para investimentos chineses em
obras de infra-estrutura no Brasil.
O documento faz menção a investimentos em ferrovias e portos e
ao aumento do comércio bilateral, entre outros pontos.
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