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Jefferson recua, mas adesões crescem
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto intensificou ontem a ofensiva para barrar
a CPI dos Correios e conseguiu
convencer o PTB de Roberto Jefferson, pivô da crise, a retirar o
apoio à investigação. Apesar disso, a avaliação era de que será difícil evitar a criação hoje da Comissão Parlamentar de Inquérito, o
que levava lideranças governistas
a montar estratégias para assegurar o controle sobre a CPI ou protelar seu funcionamento.
O sucesso em relação ao PTB
deu ânimo ao governo, mas não
anulou as dificuldades da operação-abafa: ontem, mais 11 deputados, sete deles de partidos aliados,
e um senador, Ramez Tebet
(PMDB-MS), aderiram à CPI. O
requerimento para criá-la tinha o
apoio de 253 deputados e 51 senadores, número bem superior ao
mínimo necessário: 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado.
Nesse contexto, a principal estratégia do governo é acelerar os
trabalhos da PF (Polícia Federal)
para "atropelar" a CPI. Nos últimos dias, a PF ouviu suspeitos, fez
um indiciamento e deu batida nos
Correios para apreender material.
Esse ritmo continuará ágil por
recomendação do ministro da
Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
que acertou tal estratégia com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final de semana. O governo
quer apurar rapidamente antes de
a CPI começar a trabalhar. Pressionando a PF a produzir resultado, o objetivo é mostrar aos parlamentares e à opinião pública que
a CPI seria desnecessária. "A CPI
é desnecessária porque tudo o
que ela faria a PF e o Ministério
Público já estão fazendo", diz o
presidente do PT, José Genoino.
Hoje, às 10h, haverá a leitura do
requerimento de criação da CPI
em sessão do Congresso. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), resistia aos pedidos de bastidor para adotar alguma manobra a fim de adiar por
mais uma semana essa leitura, o
que daria mais tempo ao governo
para retirar apoios à CPI. Feita a
leitura do requerimento, há prazo
até a meia-noite para o governo
tentar retirar as assinaturas na Câmara e inviabilizar a CPI. É a última chance para tentar barrá-la.
PTB recuo
Num último esforço anti-CPI,
os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação
Política) persuadiram Roberto
Jefferson, presidente do PTB, a levar seu partido a retirar em bloco
as 16 assinaturas (13 deputados e 3
senadores) de adesão à CPI.
Menos de 24 horas depois de ter
dito que o PTB entregaria todos
os cargos federais, com exceção
do Ministério do Turismo, Jefferson foi convencido a desistir ao
receber os dois ministros, além de
Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), na sua casa.
Jefferson teria dito a integrantes
da Executiva que só faltaram aos
ministros "se ajoelharem" para
pedir a retirada do apoio do PTB,
segundo relatos ouvidos pela Folha. Além dos ministros, participou da reunião o líder do PTB na
Câmara, José Múcio (PE).
Jefferson é suspeito de armar
nos Correios um esquema de cobrança de propina. Em gravação,
o ex-chefe do Departamento de
Contratação dos Correios Maurício Marinho recebe propina de R$
3.000 e relata o procedimento,
que teria o aval de Jefferson.
O presidente do PTB ouviu de
Dirceu e Aldo que a CPI daria palanque para a oposição por meses
e de que o maior prejudicado não
seria o governo, mas o PTB.
À tarde, a Executiva Nacional
do partido se reuniu para debater
o assunto. Jefferson usou como
argumento para o recuo o depoimento de ontem de Marinho à PF
em que ele o teria isentado de responsabilidade em qualquer esquema de cobrança de propinas.
"Se ele retira a acusação, diz "eu
fiz, a responsabilidade é minha",
não tem nem motivo de inquérito
policial, muito menos de inquérito parlamentar; morreu o assunto. Não precisamos mais romper
com o governo. Porque se nós fôssemos para CPI nós romperíamos
com o governo", disse Jefferson.
Mais cedo, o PTB havia divulgado nota já adotando o discurso
defendido pelo Planalto em relação à CPI: "Entendemos que a
motivação [para a CPI], abraçada
por oportunistas de plantão, objetiva única e exclusivamente a desestabilização política do país".
A mudança de posição dos petebistas transformou o clima de desânimo dos governistas no período da manhã em quase euforia à
noite. "A situação nos levava a
crer que a nossa articulação estava
na UTI. Com a decisão do PTB,
ela volta para a enfermaria, mas
com quadro geral bem melhor",
disse o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Com a manutenção da adesão
de Jefferson, ficava mais difícil enterrar a CPI. O ato do presidente
do PTB de assinar o requerimento
da oposição em frente às câmeras,
semana passada, estimulou deputados a fazer o mesmo.
Até a noite de ontem, os governistas tentavam retirar assinaturas no PMDB, que tinha 33 anteontem e subiu para 38 ontem
com a adesão de parlamentares ligados ao ex-governador do Rio
Antonhy Garotinho. Líderes dos
partidos aliados se estavam reunidos até a conclusão desta edição.
PMDB na madrugada
A estratégia de tentar assumir o
controle sobre a CPI ou protelar
suas sessões foi resultado de um
encontro na casa de Renan Calheiros que começou às 22h e terminou às 2h30 de ontem. Estiveram o senador José Sarney
(PMDB-AP), o líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP), e dirigentes do PMDB.
Após a fase de criação, os partidos precisam indicar seus membros na CPI. A idéia é eleger um
relator afinado com o Planalto e
derrubar algumas sessões para
dar tempo à PF concluir o inquérito.
(FÁBIO ZANINI, RANIER BRAGON, LEILA SUWWAN E KENNEDY ALENCAR)
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