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Diversidade complica a relação, dizem estudiosos
"São em torno de 180 línguas indígenas e 200 povos", afirma Sydney Possuelo
Nesse universo, há índios muito integrados, como os da Raposa/Serra do Sol, e povos que vivem isolados em regiões de fronteira
DA REPORTAGEM LOCAL
Os conflitos indígenas espalhados pelo país têm motivos
diversos e provocam reações
diferentes em cada etnia, afirmam especialistas entrevistados pela Folha.
Para o sertanista Sydney
Possuelo, 68, ex-presidente da
Funai, os conflitos são parte da
história brasileira. "Não há
uma única cultura, os índios.
Hoje são em torno de 180 línguas indígenas, aproximadamente 200 povos", diz.
Segundo ele, nesse universo,
há povos com um nível de convivência e integração alto, como os da Raposa/Serra do Sol.
Lá, diz Possuelo, cerca de 100
índios cursam nível superior e
os makuxis são donos de quase
35 mil cabeças de gado. "Mas
dentro desse mesmo universo
há povos que estão em algumas
áreas de fronteira como Acre e
Mato Grosso e vivem isolados."
O antropólogo Rogério
Duarte do Pateo, do ISA (Instituto Socioambiental) concorda. "Os contextos são muito diversos. Há uma tendência de
homogeneizar os conflitos entre índios e não-índios, mas
não só a diversidade indígena é
grande como as formas de invasões e relações também."
Pateo exemplifica, comparando o caso da Raposa/Serra
do Sol, em Roraima, com o ataque ao engenheiro da Eletrobrás Paulo Fernando Rezende
com um facão, no Pará.
"A diversidade cultural acaba
refletida no estilo de relação
entre os índios e setores da sociedade nacional. Os caiapós
têm estilo mais aguerrido. No
caso da Raposa, a história é
mais longa, mas os índios sempre tentaram jogar mais na legalidade, apesar de momentos
de maior tensão", afirma Pateo.
Segundo o antropólogo, a
ocupação de áreas distantes do
Brasil ocorreu de forma caótica. "Com a situação de caos instalada, no momento em que o
Estado chega, você já tem uma
situação que ficou quase à beira
do próprio Estado", afirma.
Segundo Marcos Wesley de
Oliveira, presidente da ONG
Comissão Pró-Yanomami, o
maior problema dessa etnia é a
riqueza mineral em suas terras.
"Na década de 80, mais de 40
mil garimpeiros estiveram na
região e foi o primeiro caso julgado de genocídio no Brasil. É
um lugar muito cobiçado."
Para Humberto Resende Capucci, membro do Cimi do Maranhão, o principal problema é
a impunidade. "O poder público precisa punir para todos os
lados", diz.
Possuelo afirma que o Brasil
precisa reconhecer a história
indígena. "Quando a coroa portuguesa queria consolidar Roraima como território, ela reconheceu os índios como súditos. Mas mais tarde esses mesmos índios simplesmente não
tiveram reconhecimento."
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