São Paulo, domingo, 25 de maio de 2008

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Diversidade complica a relação, dizem estudiosos

"São em torno de 180 línguas indígenas e 200 povos", afirma Sydney Possuelo

Nesse universo, há índios muito integrados, como os da Raposa/Serra do Sol, e povos que vivem isolados em regiões de fronteira


DA REPORTAGEM LOCAL

Os conflitos indígenas espalhados pelo país têm motivos diversos e provocam reações diferentes em cada etnia, afirmam especialistas entrevistados pela Folha.
Para o sertanista Sydney Possuelo, 68, ex-presidente da Funai, os conflitos são parte da história brasileira. "Não há uma única cultura, os índios. Hoje são em torno de 180 línguas indígenas, aproximadamente 200 povos", diz.
Segundo ele, nesse universo, há povos com um nível de convivência e integração alto, como os da Raposa/Serra do Sol. Lá, diz Possuelo, cerca de 100 índios cursam nível superior e os makuxis são donos de quase 35 mil cabeças de gado. "Mas dentro desse mesmo universo há povos que estão em algumas áreas de fronteira como Acre e Mato Grosso e vivem isolados."
O antropólogo Rogério Duarte do Pateo, do ISA (Instituto Socioambiental) concorda. "Os contextos são muito diversos. Há uma tendência de homogeneizar os conflitos entre índios e não-índios, mas não só a diversidade indígena é grande como as formas de invasões e relações também."
Pateo exemplifica, comparando o caso da Raposa/Serra do Sol, em Roraima, com o ataque ao engenheiro da Eletrobrás Paulo Fernando Rezende com um facão, no Pará.
"A diversidade cultural acaba refletida no estilo de relação entre os índios e setores da sociedade nacional. Os caiapós têm estilo mais aguerrido. No caso da Raposa, a história é mais longa, mas os índios sempre tentaram jogar mais na legalidade, apesar de momentos de maior tensão", afirma Pateo.
Segundo o antropólogo, a ocupação de áreas distantes do Brasil ocorreu de forma caótica. "Com a situação de caos instalada, no momento em que o Estado chega, você já tem uma situação que ficou quase à beira do próprio Estado", afirma.
Segundo Marcos Wesley de Oliveira, presidente da ONG Comissão Pró-Yanomami, o maior problema dessa etnia é a riqueza mineral em suas terras. "Na década de 80, mais de 40 mil garimpeiros estiveram na região e foi o primeiro caso julgado de genocídio no Brasil. É um lugar muito cobiçado."
Para Humberto Resende Capucci, membro do Cimi do Maranhão, o principal problema é a impunidade. "O poder público precisa punir para todos os lados", diz.
Possuelo afirma que o Brasil precisa reconhecer a história indígena. "Quando a coroa portuguesa queria consolidar Roraima como território, ela reconheceu os índios como súditos. Mas mais tarde esses mesmos índios simplesmente não tiveram reconhecimento."


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