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Aliados e Planalto buscam "saída honrosa"
Peemedebista se mantém irredutível, mas "fato novo" poderia levá-lo a reconsiderar uma saída de cena
KENNEDY ALENCAR
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus principais aliados no Senado estão preocupados em deixar uma brecha política e jurídica que permita a Renan Calheiros (PMDB-AL)
uma saída honrosa. Nesse caso,
ele poderia se licenciar da presidência do Senado, renunciar
ao comando da Casa ou, no limite, renunciar ao mandato
sem perder o direito de concorrer nas próximas eleições.
Por ora, prevalece publicamente a avaliação de que uma
renúncia agora não evitaria que
ele perdesse o direito de disputar eleições por oito anos. Ou
seja, entende-se que um processo por quebra de decoro já
teve início no âmbito do Conselho de Ética do Senado e que a
renúncia seria inócua. Ainda
que a adotasse, ele poderia ter o
mandato cassado.
O governo teme que uma crise longa prejudique sua agenda
legislativa, dificultando a aprovação da prorrogação da
CPMF, o imposto do cheque, e
da DRU (Desvinculação de Receitas da União), instrumentos
fundamentais para fechar as
contas públicas.
Já senadores estão incomodados com o desgaste da imagem da Casa na opinião pública. Por isso, aliados de Renan e
até oposicionistas desejam encontrar uma saída honrosa. Enquete feita pela Folha na quinta e sexta-feira da semana passada indicou que 29 dos 66 senadores ouvidos acham que
Renan deveria se afastar do
cargo. Outros 19 responderam
que não, enquanto para 18 isso
é indiferente.
Daí prevalecer nos bastidores o entendimento de que um
eventual acordo político poderia garantir a saída de cena de
Renan, com quem seria negociada a indicação do sucessor.
Lula, petistas, peemedebistas e oposicionistas que pediram para não ter o nome revelado acham que Renan deveria,
no mínimo, tirar uma licença
da presidência do Senado. Ele,
porém, avalia que isso seria um
atestado de culpa e que no cargo tem mais força para controlar as investigações.
Quem conversou reservadamente com o presidente do Senado acha, no entanto, que ele
pode reavaliar essa decisão. Renan admitiu que, se surgir um
"fato novo", poderia pensar em
tal saída. Além da suspeita sobre a origem dos recursos que
Renan usou para quitar despesas pessoais, há também questionamentos em relação à lisura de seu patrimônio, especialmente transações com gado.
Segundo Renan, as atuais
suspeitas reportadas pela imprensa não seriam suficientes
para levá-lo a considerar a hipótese de licença ou de renúncia ao comando da Casa, muito
menos ao mandato. Ele afirma
ter resposta para tais questões.
E decidiu não alimentar mais o
noticiário -fornecer documentos que poderiam ser
questionados numa averiguação, como os papéis sobre venda de gado periciados pela Polícia Federal.
A "saída honrosa" para Renan dependeria de um gesto de
recuo: a licença, pelo menos.
Nesse contexto, poderia haver
um entendimento político para
considerar que os procedimentos no Conselho de Ética seriam, até agora, uma investigação preliminar e não um processo de cassação.
Aliados de Renan dizem que
ele poderia questionar a representação protocolada pelo
PSOL no Conselho de Ética,
apontando eventuais irregularidades formais e vícios em sua
tramitação. Assim, um pedido
de cassação poderia ser derrubado na CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça).
Mais: a oposição (PSDB e
DEM) estaria disposta a negociar um acordo no Conselho de
Ética para abrandar a pena.
Trocaria a proposta de cassação de mandato por uma advertência. Nesse caso, não bastaria a licença da presidência,
mas a renúncia a esse posto.
Renan tem invocado a crise
que atingiu Jader Barbalho
(PMDB-PA) em 2001 para argumentar que, se abrir mão de
um centímetro de poder, acabará perdido. Hoje deputado
federal, Jader se licenciou da
presidência do Senado naquele
ano e depois renunciou ao
mandato para manter o direito
de disputar as eleições de 2002.
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