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FHC sinaliza a Lula que, sem Serra, vai apoiá-lo
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso mandou um mensageiro petista com um recado claro
e direto para Luiz Inácio Lula da
Silva: se der Lula e Ciro Gomes
(PPS) no segundo turno, ele não
vai apenas apoiar, mas também
trabalhar para a vitória do petista.
"E não sou só eu. O Serra [José"
também", acrescentou FHC no
recado que o emissário transmitiu para Lula pessoalmente anteontem, quando o candidato do
PT lançou seu programa de governo no Congresso, em Brasília.
O intermediário, que conversou
longamente com FHC na semana
passada, disse para Lula que o
presidente usara um tom amistoso: "Quero ajudar, mas é o Lula
quem vai me dizer como e até onde eu ajudo ou atrapalho". O presidente queria dizer que sabe
muito bem das reações negativas
que setores do PT podem ter contra uma aproximação Lula-FHC e
que o limite de sua atuação depende da vontade de Lula.
Lula já tinha sido informado da
simpatia de FHC por sua candidatura alguns meses atrás. FHC disse numa conversa com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que Lula era uma alternativa
muito melhor do que "certas forças retrógradas". Na época, Roseana Sarney (PFL-MA) estava
forte nas pesquisas. O próprio
Chávez relatou pessoalmente a
conversa a Lula, em Caracas.
A diferença, agora, é que se trata
mais do que mera manifestação
de simpatia e passa a ser de voto.
FHC praticamente formalizou
junto a Lula e ao PT qual será sua
atuação num segundo turno sem
Serra. Isso, dias depois de o presidente do PT, José Dirceu, anunciar publicamente que telefonara
para FHC para falar de sua visita a
centros financeiros nos EUA.
Superavalista
Em contrapartida, o PT já começou a considerar a hipótese de
transformar FHC numa espécie
de superavalista de um eventual
governo Lula. Um avalista tanto
para as elites internas, que mantêm certa desconfiança em relação ao PT, e para os setores internacionais, que "compram" e reproduzem essa desconfiança.
Na conversa, FHC fez questão
de dizer que não havia "jogado a
toalha": considerava Serra no jogo, apesar de o tucano estar em
terceiro lugar nas pesquisas. Disse
que estava trabalhando ativamente por Serra, mas que o melhor
que podia fazer era incrementar
uma "agenda positiva" de tudo o
que o governo fez de bom. Por isso FHC está participando de solenidades praticamente todos os
dias, gerando reportagens na TV.
O presidente explicou, porém,
que não poderia atuar na campanha com uma única hipótese (a da
vitória de Serra) e que estava muito preocupado com o crescimento de Ciro nas últimas pesquisas.
"Pior opção"
Conforme disse FHC ao emissário que enviou a Lula, ele acha que
Ciro "é a pior opção" e manifestou sérias restrições a ele, tanto do
ponto de vista pessoal ("de caráter") quanto do ponto de vista político ("é a volta das oligarquias").
FHC historiou suas desavenças
com Ciro e falou várias vezes que
ele seria "um perigo", "um risco"
e que Lula seria "muito melhor
para o país". Frisou que não falava
sozinho, pois era essa a sensação
no PSDB, compartilhada por Serra. Para FHC, "Ciro tem todas os
defeitos de Serra e nenhuma das
qualidades". Explicou que Ciro é
arrogante e prepotente, mas não
tem o brilho intelectual, a disciplina, o conhecimento da máquina e
uma equipe azeitada como Serra.
Além disso, o arcabouço político da candidatura Ciro é considerado como a volta das oligarquias
que vinham sendo expurgadas da
vida nacional. Citou Antonio Carlos Magalhães (PFL), que FHC
hoje considera um de seus piores
inimigos: "Olha só em volta e veja
quem mais está com ele" -referindo-se a Leonel Brizola (PDT) e
a José Carlos Martinez (PTB).
A conversa de FHC com o emissário petista foi no Alvorada. Nela, FHC criticou também as idéias
econômicas de Ciro como "sem
sentido, uma loucura completa".
As desavenças entre FHC e Ciro
têm mais de uma versão. A de Ciro é que ele "abriu a alma" e confidenciou para FHC que estava
apaixonado pela atriz Patrícia Pillar, ainda no início do romance, e
que logo nos dias seguintes a história vazou para os jornais. Ele
atribui o vazamento a FHC. Diz
que FHC fez "apelos desesperados" para que ele o substituísse na
Fazenda, mas depois alardeou
versões dizendo que não queria
que ele fosse e falando mal dele.
Na conversa, FHC jurou que
não foi ele quem vazou o romance
e disse que não queria Ciro na Fazenda e que o convidou em nome
de Itamar. Segundo FHC, Ciro o
atacou virulentamente pela imprensa várias vezes. Quando se
encontraram para lavar roupa suja, por intermédio de Tasso Jereissati, Ciro pediu desculpas e ambos prometeram não se agredir
publicamente. Segundo FHC, logo depois voltaram os ataques, e o
rompimento foi definitivo.
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