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CONFLITO AGRÁRIO
Segundo o presidente do órgão, eleição de Lula criou "expectativa" por uma reforma agrária mais forte
Incra diz que é normal haver mais sem-terra
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
No cadastramento dos acampados que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária) realiza em todo o país, já
foram registradas cerca de 80 mil
famílias, disse o presidente do órgão, Marcelo Resende. Ele admite
que o número de acampados
cresceu após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
mas considera o fato "natural".
Segundo Resende, o fato de Lula
e o PT sempre terem defendido a
reforma agrária levou as pessoas a
terem uma "grande expectativa".
"O presidente Lula é favorável à
reforma agrária, o PT também
sempre militou nessa área. Então,
a sociedade se sente com maior
confiança na reforma agrária.
Portanto, me parece natural o
contingente de famílias acampadas que temos em todo o Brasil."
Resende afirmou, no entanto,
que a reforma agrária no governo
Lula será realizada "de acordo
com a lei". "Ninguém precisa se
imbuir de preconceitos", disse.
MTL
Enquanto Resende se reunia
com integrantes de movimentos
sociais na superintendência mineira do Incra, na zona sul de Belo
Horizonte, um grupo de aproximadamente 200 sem-terra ligados ao MTL (Movimento Terra,
Trabalho e Liberdade) se postou
em frente ao prédio do órgão para
reivindicar agilidade na desapropriação de terras invadidas por
eles no Triângulo Mineiro.
O grupo foi recebido pelo superintendente regional, Marcos Helênio. Depois, eles armaram suas
barracas na calçada em frente ao
órgão, onde passariam a noite.
A Polícia Militar acompanhou a
movimentação de perto, mas não
houve incidentes. Anteontem, o
MTL bloqueou rodovias no
Triângulo Mineiro.
Hoje, no Dia Nacional do Trabalhador Rural, os movimentos
de sem-terra devem promover
mobilizações isoladas. O MST deve fazer protestos em Alagoas e
Pernambuco. A direção nacional
do movimento informou que as
manifestações devem se restringir
aos acampamentos e que novas
invasões não estavam programadas até ontem.
Em Alagoas, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) pretende organizar mobilizações nas principais cidades do
interior. Cerca de 10 mil pessoas
devem participar das manifestações. Na cidade de Arapiraca (122
km de Maceió), numa das regiões
mais ativas no conflito de terras
no Estado, o MST diz que 2.500
pessoas serão mobilizadas.
No Pontal do Paranapanema
(SP), o MST deve promover apenas um ato religioso, no domingo.
O evento deve reunir 10 mil pessoas na capital sergipana.
Arma política
Em Santa Catarina, o ministro
Extraordinário de Segurança Alimentar, José Graziano, disse que
movimentos sociais ligados à
questão agrária são usados como
arma política para atacar o governo Lula. "Fica difícil pedir para o
trabalhador rural esperar mais
tempo para ser assentado", disse.
"O problema é que esses movimentos são utilizados como arma
política, para dizer que o governo
não funciona", declarou.
João Pedro Stedile, da direção
nacional do MST, falando a sem-terra e a pequenos agricultores
gaúchos, ontem e anteontem, definiu sua organização como "um
exército de 23 milhões de pessoas" que "não podem dormir enquanto não acabarem com eles
[os latifúndios]".
(PAULO PEIXOTO)
Colaborou a Agência Folha
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