São Paulo, Domingo, 25 de Julho de 1999
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IMAGEM PÚBLICA
Secretário diz que popularidade só volta com empregos
Andrea Matarazzo muda o marketing no Planalto

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

A idéia de colocar o presidente Fernando Henrique Cardoso em contato com líderes de audiência da televisão tem um patrono: o secretário de Comunicação, Andrea Matarazzo, que na reforma ministerial conquistou uma sala a poucos metros do gabinete presidencial, no Palácio do Planalto.
Criticado pela imprensa e recebido com desconfiança por setores do próprio governo, Matarazzo trata de explicar: "A intenção não é popularizar nada, nem pegar carona na popularidade dos outros. Todo mundo já sabe que não funciona".
E acrescenta, tentando ser didático: "Todo mundo pode achar minha mulher linda, maravilhosa, mas nem por isso vão me achar tão lindo e tão maravilhoso só porque estou do lado dela".
Então, por que promover encontros e fotografias do sociólogo FHC com o apresentador Ratinho (SBT) e o padre Marcelo Rossi?
Segundo o secretário, por dois motivos: 1) "Eles se comunicam com milhões de pessoas, e é importante que conheçam o presidente, saibam o que o governo está fazendo"; 2) "Também é bom para o presidente saber como eles vêem, ouvem, interpretam o governo e o próprio presidente, e a opinião que colhem de seus telespectadores".
Em resumo: "Todo mundo reclama que o governo não sabe o que está fazendo. Pois é. O presidente precisa ouvir e ser ouvido".
Em recente reunião no Planalto, assessores de FHC reclamaram de sua exposição ao lado de personagens tão populares quanto polêmicos e alertaram para a reação negativa dos chamados "formadores de opinião".
Conforme a Folha apurou, FHC reagiu dizendo que a discussão era estéril, pois a recuperação de popularidade só ocorreria a partir do próximo ano, com a retomada do crescimento e a recuperação dos índices de emprego.
Matarazzo concorda: "Enquanto o nível de emprego não melhorar e a sociedade não sentir firmeza em ações do governo pelo seu bem-estar, a popularidade não melhora".
Segundo a pesquisa Datafolha de junho, apenas 16% dos brasileiros aprovam FHC, enquanto 44% reprovam.
A aproximação de FHC com as estrelas do vídeo começou com um encontro na sede do SBT, em São Paulo. Participaram, entre outros, Hebe Camargo, Ratinho, Gugu Liberato e Carlos Alberto Nóbrega.
Depois, veio o encontro com Ratinho, que fizera uma enorme promoção para a doação de poços artesianos e esteve em Brasília pedindo orientação sobre os locais mais necessitados.
Ratinho visitou a Secretaria de Políticas Regionais, Matarazzo soube e teve o estalo de levá-lo ao presidente. "Na população, ninguém está nem aí para briga de partidos, déficit público, dívida pública. Temos que parar de intoxicar as pessoas com isso. Elas querem saber do fim da violência e do buraco de rua".
É por isso que ele está criando um novo "clipping" (resumo de notícias de jornais) só com recortes dos cadernos que fazem a cobertura do cotidiano das principais capitais.
Outra novidade da lavra de Andrea Matarazzo é a criação de teleconferências de ministros com setores da sociedade, sobre políticas governamentais.
O terceiro encontro de FHC foi com o padre e cantor Marcelo Rossi, interessado no apoio do Ministério da Cultura para a recuperação da Catedral da Sé, em São Paulo.
"Eu nunca vi uma coisa daquelas. Pessoas choravam, pessoas gritavam. Tinha uma multidão. Parecia que o prédio ia cair."
A última aparição polêmica de FHC foi com a seleção brasileira de futebol no Palácio da Alvorada, abrindo os portões aos torcedores. A ida dos jogadores foi articulada diretamente entre o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, e o Planalto.
A assessoria do Ministério de Esporte e Turismo soube pela televisão, no dia do jogo. Foi um corre-corre, porque o ministro Rafael Greca estava num spa tratando da saúde, e sua secretária-executiva, Teresa Castro, não conseguiu vôo a tempo de recepcionar os jogadores.
Matarazzo garante que não teve nada com o encontro entre FHC e a seleção. Mas aplaude: "Todo mundo gosta de futebol, o Brasil ganhou a Copa América. Qual o problema de o presidente receber os jogadores, as pessoas, participar da alegria?".
Paulistano de tradicional família de industriais, 42 anos, Andrea Matarazzo é administrador de empresas. "Não sou marqueteiro", diz. Mas opera no governo com uma equipe que inclui publicitários, experts em mídia e em pesquisas de opinião. Eles trabalham no primeiro prédio da Esplanada dos Ministérios. E ele passa, a partir de agora, a ter uma segunda sala no Planalto.
O presidente vai continuar recebendo o Ratinho? "O presidente vai continuar ouvindo a sociedade", responde.


Colaborou Marta Salomon, da Sucursal de Brasília

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