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IMAGEM PÚBLICA
Secretário diz que popularidade só volta com empregos
Andrea Matarazzo muda
o marketing no Planalto
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
A idéia de colocar o presidente
Fernando Henrique Cardoso em
contato com líderes de audiência
da televisão tem um patrono: o secretário de Comunicação, Andrea
Matarazzo, que na reforma ministerial conquistou uma sala a
poucos metros do gabinete presidencial, no Palácio do Planalto.
Criticado pela imprensa e recebido com desconfiança por setores do próprio governo, Matarazzo trata de explicar: "A intenção
não é popularizar nada, nem pegar carona na popularidade dos
outros. Todo mundo já sabe que
não funciona".
E acrescenta, tentando ser didático: "Todo mundo pode achar
minha mulher linda, maravilhosa, mas nem por isso vão me
achar tão lindo e tão maravilhoso
só porque estou do lado dela".
Então, por que promover encontros e fotografias do sociólogo
FHC com o apresentador Ratinho
(SBT) e o padre Marcelo Rossi?
Segundo o secretário, por dois
motivos: 1) "Eles se comunicam
com milhões de pessoas, e é importante que conheçam o presidente, saibam o que o governo está fazendo"; 2) "Também é bom
para o presidente saber como eles
vêem, ouvem, interpretam o governo e o próprio presidente, e a
opinião que colhem de seus telespectadores".
Em resumo: "Todo mundo reclama que o governo não sabe o
que está fazendo. Pois é. O presidente precisa ouvir e ser ouvido".
Em recente reunião no Planalto,
assessores de FHC reclamaram de
sua exposição ao lado de personagens tão populares quanto polêmicos e alertaram para a reação
negativa dos chamados "formadores de opinião".
Conforme a Folha apurou, FHC
reagiu dizendo que a discussão
era estéril, pois a recuperação de
popularidade só ocorreria a partir
do próximo ano, com a retomada
do crescimento e a recuperação
dos índices de emprego.
Matarazzo concorda: "Enquanto o nível de emprego não melhorar e a sociedade não sentir firmeza em ações do governo pelo seu
bem-estar, a popularidade não
melhora".
Segundo a pesquisa Datafolha
de junho, apenas 16% dos brasileiros aprovam FHC, enquanto
44% reprovam.
A aproximação de FHC com as
estrelas do vídeo começou com
um encontro na sede do SBT, em
São Paulo. Participaram, entre
outros, Hebe Camargo, Ratinho,
Gugu Liberato e Carlos Alberto
Nóbrega.
Depois, veio o encontro com
Ratinho, que fizera uma enorme
promoção para a doação de poços
artesianos e esteve em Brasília pedindo orientação sobre os locais
mais necessitados.
Ratinho visitou a Secretaria de
Políticas Regionais, Matarazzo
soube e teve o estalo de levá-lo ao
presidente. "Na população, ninguém está nem aí para briga de
partidos, déficit público, dívida
pública. Temos que parar de intoxicar as pessoas com isso. Elas
querem saber do fim da violência
e do buraco de rua".
É por isso que ele está criando
um novo "clipping" (resumo de
notícias de jornais) só com recortes dos cadernos que fazem a cobertura do cotidiano das principais capitais.
Outra novidade da lavra de Andrea Matarazzo é a criação de teleconferências de ministros com setores da sociedade, sobre políticas
governamentais.
O terceiro encontro de FHC foi
com o padre e cantor Marcelo
Rossi, interessado no apoio do
Ministério da Cultura para a recuperação da Catedral da Sé, em São
Paulo.
"Eu nunca vi uma coisa daquelas. Pessoas choravam, pessoas
gritavam. Tinha uma multidão.
Parecia que o prédio ia cair."
A última aparição polêmica de
FHC foi com a seleção brasileira
de futebol no Palácio da Alvorada,
abrindo os portões aos torcedores. A ida dos jogadores foi articulada diretamente entre o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, e o Planalto.
A assessoria do Ministério de
Esporte e Turismo soube pela televisão, no dia do jogo. Foi um
corre-corre, porque o ministro
Rafael Greca estava num spa tratando da saúde, e sua secretária-executiva, Teresa Castro, não
conseguiu vôo a tempo de recepcionar os jogadores.
Matarazzo garante que não teve
nada com o encontro entre FHC e
a seleção. Mas aplaude: "Todo
mundo gosta de futebol, o Brasil
ganhou a Copa América. Qual o
problema de o presidente receber
os jogadores, as pessoas, participar da alegria?".
Paulistano de tradicional família de industriais, 42 anos, Andrea
Matarazzo é administrador de
empresas. "Não sou marqueteiro", diz. Mas opera no governo
com uma equipe que inclui publicitários, experts em mídia e em
pesquisas de opinião. Eles trabalham no primeiro prédio da Esplanada dos Ministérios. E ele
passa, a partir de agora, a ter uma
segunda sala no Planalto.
O presidente vai continuar recebendo o Ratinho? "O presidente
vai continuar ouvindo a sociedade", responde.
Colaborou Marta Salomon,
da Sucursal de Brasília
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