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MISÉRIA NOS PAMPAS
Fábrica faliu em 96
"O grande
ladrão é o
governo", diz
empresário
Sergio Lima/Folha Imagem
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Eutália Xavier Almeida, 72, e o neto, dentro do barraco onde vivem, em Santana da Boa Vista |
do enviado especial a Pelotas
Sentado em um banco no meio
da fábrica desativada, o empresário falido Hugo Poetsch, 71, respira fundo: "Fui respeitado nacionalmente. Fracassei? Fracassei,
mas não tecnologicamente. Foi a
política de governo".
A indústria Agapê, fundada em
1959, chegou a empregar 2.950
trabalhadores e a produzir 8 milhões de latas de conservas. Forneceu pepino fatiado para a rede
McDonald's no país por 20 anos.
Tinha 41 produtos. Exportava aspargos para a Alemanha e figo para a Dinamarca. Faliu em 1996.
Hoje aposentado, o ex-presidente da Fiergs (Federação das
Indústrias do Rio Grande do Sul)
ainda guarda a energia verbal e
um pouco da arrogância dos tempos dourados. Ele apresenta um
culpado para o seu fracasso: "O
grande ladrão é o governo".
Poetsch afirma que a indústria
de conservas ainda é um bom negócio, mas com uma condição:
"Não pode nem passar na frente
do banco. O banco fica com 70%
do valor do empréstimo".
Aprendeu com a experiência
própria: diz que tomou um empréstimo de R$ 1 milhão em 1992;
quatro anos depois devia R$ 24
milhões ao banco.
O empresário também aponta a
abertura do mercado interno a
produtos subsidiados como uma
das causas da crise da indústria de
conservas. "O Collor abriu as
fronteiras. O pêssego da Grécia
entrou com subsídio de 46%. Disseram: "virem-se, defendam-se",
como se fôssemos heróis da Guerra do Paraguai."
Documento elaborado pelo governo de Antônio Britto (PMDB)
diz que, na década de 90, a abertura comercial elevou as importações de pêssego rapidamente para
16 milhões de latas em 1994 e 30
milhões em 1995.
Com o produto subsidiado pela
União Européia, a Grécia colocava no Brasil a lata da fruta em conserva a US$ 0,61. O pêssego gaúcho custava US$ 0,80.
A implementação do Mercosul
trouxe novos competidores. O
Plano Real agravou a situação
com a sobrevalorização cambial e
a elevação dos juros.
Mas o governo Britto também
apontou as falhas dos industriais.
A pequena diversificação da produção, o baixo investimento em
tecnologia, em marketing e na
melhoria do processo produtivo
teriam agravado a crise.
O relacionamento predatório
com os produtores teria sido outro fator do fracasso das indústrias. O preço mínimo era discutido no momento da colheita. Com
um produto altamente perecível,
os agricultores ficavam, sempre,
em desvantagem.
A incerteza desestimulou a adoção de técnicas modernas de
plantio. Muitos produtores simplesmente dizimaram as plantações de pessegueiros e venderam
suas terras. A indústria ficou sem
a sua matéria-prima.
Poetsch vive hoje da lembrança
dos bons tempos. Diz que bom
mesmo era o regime militar.
"Nota dez. Todos ganhavam dinheiro, havia ordem. Eu defendo
a ditadura. Regime democrático
não funciona. Tem que ter um regime mais duro para o pessoal
obedecer."
Ele não acredita que Olívio Dutra (PT) vá desenvolver a metade
sul. "O bigodudo é um homem
honesto, trabalhador. Boto a mão
no fogo por ele. Mas é um carregador de saco. Não tem preparo."
Não se contenta com ninguém:
"Votei no Britto de nariz tapado,
com vontade de vomitar".
Poetsch só acredita em uma saída para desenvolver a região: a
criação de um novo Estado na
metade sul.
(LUCIO VAZ)
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