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Governo petista vê reforma agrária como solução
do enviado especial a Bagé (RS)
O governo Olívio Dutra (PT)
aposta na reforma agrária como
uma das alavancas para o desenvolvimento da metade sul.
Dutra promete ampliar "em
muito" na região o número de famílias assentadas. Mas já encontra resistências.
O prefeito de Bagé, Carlos
Azambuja, avisa: "No filé mignon
do município não entra sem-terra. Ninguém quer ser vizinho de
assentado. São uns cachaceiros,
mal-intencionados e preguiçosos.
Os fazendeiros vão embora, e o
município fica sem o ICMS".
"Filé mignon" é uma área nobre, própria para as lavouras de
arroz e a criação de bois. "O resto
é zona pedregosa, de baixa produtividade. Eu corri (sic) o pessoal do Incra daqui. Eles só queriam ver terras no filé mignon."
Para o prefeito, os sem-terra são
"gente carreirista". "Eles não são
agricultores. Pegam a terra e repassam para outro. Tem gente
que já está no quinto acampamento", afirma.
Azambuja sustenta que os assentamentos não são economicamente viáveis. "Um assentamento no nosso município, que recebeu 80 famílias, hoje produz menos do que o antigo fazendeiro
produzia sozinho."
Reação
Confiantes nas promessas do
governador, cerca de 1.500 sem-terra estão acampados há quatro
meses no acostamento da BR-293, distante apenas 13 quilômetros de Bagé.
Paulo da Rosa Lima, 37, um dos
coordenadores do acampamento,
está animado. "É a única saída para a gente: ganhar um pedaço de
terra para trabalhar."
Ele trabalhou por 16 anos em
uma fábrica de calçados em Novo
Hamburgo, mas nasceu em Palmeira das Missões, região agrária
no norte do Estado. "Meu pai tinha dez filhos e cinco hectares de
terra. A gente ia crescendo, casando e indo para a cidade. Mas eu
quero é o meu pedaço de terra."
O professor Sérgio Martins, da
Faculdade de Agronomia da Universidade Federal de Pelotas, considera a concentração fundiária o
maior problema da região.
Segundo Martins, "não há outra
alternativa" a não ser fazer a reforma agrária.
Estudos do governo Dutra demonstram que as propriedades
acima de 500 hectares ocupam
41,6% do Estado. Na região da
Campanha, onde fica Bagé, o percentual é de 71%. Na zona sul, o
percentual fica em torno de 60%.
O vice-prefeito de Santana da
Boa Vista, Gasparino Teixeira,
presidente da Associação de Vice-Prefeitos da Metade Sul, diz que,
se a reforma agrária iniciada por
Leonel Brizola em 1964 não tivesse sido interrompida, "hoje não
haveria tanta miséria no interior".
De Pelotas, o empresário Hugo
Poetsch dá a sua opinião: "É uma
mentira que a reforma agrária vai
resolver os problemas da metade
sul. O minifúndio faliu no mundo
inteiro. Isso de criar emprego é
balela. Tem que haver geração de
dinheiro. Isso só se consegue com
a indústria".
(LV)
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