São Paulo, Domingo, 25 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo petista vê reforma agrária como solução

do enviado especial a Bagé (RS)

O governo Olívio Dutra (PT) aposta na reforma agrária como uma das alavancas para o desenvolvimento da metade sul.
Dutra promete ampliar "em muito" na região o número de famílias assentadas. Mas já encontra resistências.
O prefeito de Bagé, Carlos Azambuja, avisa: "No filé mignon do município não entra sem-terra. Ninguém quer ser vizinho de assentado. São uns cachaceiros, mal-intencionados e preguiçosos. Os fazendeiros vão embora, e o município fica sem o ICMS".
"Filé mignon" é uma área nobre, própria para as lavouras de arroz e a criação de bois. "O resto é zona pedregosa, de baixa produtividade. Eu corri (sic) o pessoal do Incra daqui. Eles só queriam ver terras no filé mignon."
Para o prefeito, os sem-terra são "gente carreirista". "Eles não são agricultores. Pegam a terra e repassam para outro. Tem gente que já está no quinto acampamento", afirma.
Azambuja sustenta que os assentamentos não são economicamente viáveis. "Um assentamento no nosso município, que recebeu 80 famílias, hoje produz menos do que o antigo fazendeiro produzia sozinho."

Reação
Confiantes nas promessas do governador, cerca de 1.500 sem-terra estão acampados há quatro meses no acostamento da BR-293, distante apenas 13 quilômetros de Bagé.
Paulo da Rosa Lima, 37, um dos coordenadores do acampamento, está animado. "É a única saída para a gente: ganhar um pedaço de terra para trabalhar."
Ele trabalhou por 16 anos em uma fábrica de calçados em Novo Hamburgo, mas nasceu em Palmeira das Missões, região agrária no norte do Estado. "Meu pai tinha dez filhos e cinco hectares de terra. A gente ia crescendo, casando e indo para a cidade. Mas eu quero é o meu pedaço de terra."
O professor Sérgio Martins, da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal de Pelotas, considera a concentração fundiária o maior problema da região.
Segundo Martins, "não há outra alternativa" a não ser fazer a reforma agrária.
Estudos do governo Dutra demonstram que as propriedades acima de 500 hectares ocupam 41,6% do Estado. Na região da Campanha, onde fica Bagé, o percentual é de 71%. Na zona sul, o percentual fica em torno de 60%.
O vice-prefeito de Santana da Boa Vista, Gasparino Teixeira, presidente da Associação de Vice-Prefeitos da Metade Sul, diz que, se a reforma agrária iniciada por Leonel Brizola em 1964 não tivesse sido interrompida, "hoje não haveria tanta miséria no interior".
De Pelotas, o empresário Hugo Poetsch dá a sua opinião: "É uma mentira que a reforma agrária vai resolver os problemas da metade sul. O minifúndio faliu no mundo inteiro. Isso de criar emprego é balela. Tem que haver geração de dinheiro. Isso só se consegue com a indústria". (LV)

Texto Anterior: Miséria nos pampas: "O grande ladrão é o governo", diz empresário
Próximo Texto: Cidade tem "viúvas" de vivos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.