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Cidade tem "viúvas" de vivos
do enviado especial
a Santana da Boa Vista (RS)
Eutália Xavier Almeida, 72,
aposentada, sustenta dois filhos e
três netos com a pensão de R$
130. O genro, Arci Vargas, saiu
para procurar emprego e não voltou mais. A filha Ana Cristina, 25,
é mais uma "viúva" de marido vivo de Santana da Boa Vista.
Eles moram na Serra dos Vargas, interior do município mais
pobre da metade sul. A região serrana é bonita. A terra é fértil e tem
água em abundância. É quase incompreensível a miséria que se
espalha por aqueles vales.
O prefeito, Ruy Antônio de
Freitas (PMDB), 44, tem explicação para tanto atraso: "É uma
questão até cultural. O povo do
interior é tudo "pêlo duro" (mestiço de branco e índio). Não tem
nem um de origem européia. As
cidades mais desenvolvidas têm
colonizações alemã e italiana".
"O município é pobre porque
sempre foi uma área pobre", conforma-se o vice-prefeito, Gasparini Teixeira (sem partido). Ele diz
que o subsolo é rico em mármore,
granito e calcário, mas "faltam
empresas para explorar".
Santana tem a menor rede de
eletrificação rural do Estado e não
conta com um único quilômetro
de estrada estadual ou municipal
asfaltada. A BR-392 corta o município. A vila existe desde 1885,
mas somente em 1997 foi construída uma estação de tratamento
de esgoto.
Com 8.500 habitantes, tem 60%
da população no interior, basicamente em minifúndios. De geração em geração, as pequenas propriedades foram sendo fracionadas até se tornarem insuficientes
para o sustento das famílias.
Sem terra para trabalhar, muitos agricultores procuram emprego nas lavouras de arroz em
Pelotas, Santa Vitória do Palmar
ou até no norte do Estado. Alguns
deixam a família e não voltam.
O prefeito acha que a reforma
agrária "ajudaria" o município,
mas faz uma ressalva: "Desde que
as terras não sejam ocupadas por
vagabundos".
Ao lado da casa de pau-a-pique
coberta com capim santa-fé, Eutália não reclama. "O ranchinho
(cesta básica do programa Comunidade Solidária) é que quebra o galho. Deus ajuda os pobres, porque trabalho está difícil."
O filho Ozi de Almeida, 36, quebrou a perna em uma granja, em
Santa Vitória. Voltou para casa
com oito parafusos no corpo.
Tentou, mas não conseguiu se
aposentar por invalidez.
(LV)
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