|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pelotas vive "favelização"
do enviado especial
a Pelotas e Bagé (RS)
Cleuza Moraes, 24, construiu
um barraco há oito meses na vila
Getúlio Vargas em Pelotas -cidade a 271 quilômetros da capital
gaúcha. Não consegue emprego
fixo há dois anos. Já trabalhou na
indústria de conservas Agapê,
que faliu em 1996. Com o marido
desempregado há um ano, vive
com a ajuda de parentes.
Cátia Beatriz, 25, cinco filhos,
sobrevive graças aos biscates do
marido, desempregado há cinco
anos. Também já trabalhou nas
indústrias de conservas. "Tá feio,
tio. Mal dá para comer. O Fabiano tira R$ 8 por dia, quando
tem", revela.
Nara Cristina Santos, 24, tem
um filho e está grávida. Chegou
com o marido de Piratini, há dois
anos, à procura de emprego. Os
dois estão desempregados. "Ele
vive de changa (biscates)", conta
Nara.
Favelas
São três vidas entre as milhares
que vivem nas favelas de Pelotas,
Rio Grande e Bagé, as maiores cidades da metade sul do Rio Grande do Sul.
Quem veio das pequenas cidades em busca de emprego, nada
encontrou. Quem já era da cidade, também não encontra.
Cleuza mora em uma casa de
seis metros quadrados. A cama de
casal ocupa a metade da casa.
Resta espaço para um fogão e um
armário, além da televisão em
preto e branco.
Cátia tem uma casa mais confortável, com três peças. Tem até
sofá. As duas não contam com banheiro. Usam a "patente" (latrina) da vizinha Nara Cristina. Outros vizinhos jogam o esgoto a céu
aberto, por onde brincam as
crianças.
Na despedida, Cátia mostra ter
consciência de que algo não está
bem: "Tchau. Não repara a pobreza, moço".
Vila Miséria
A paisagem é semelhante na Vila Miséria, em Bagé, cidade a 393
quilômetros de Porto Alegre. Mas
os papéis estão invertidos na família Castro.
Luiz Carlos, 24, trabalhava como servente de pedreiro, sem carteira de trabalho assinada. Quebrou o pé jogando futebol. Fica
em casa cuidando dos seis filhos,
enquanto a mulher trabalha como empregada doméstica.
A Vila Miséria foi formada há
oito anos. Lá, moram cerca de
cem famílias.
Mas a periferia de Bagé está cada vez mais inchada. A decadência dos fazendeiros reduziu o número de empregos no campo. Na
cidade, a crise é a mesma.
Litoral
A periferia de São José do Norte,
no litoral, é um depósito de desempregados. A maior fonte de
empregos é a prefeitura. A cidade
é cercada por favelas. A vila da
Guarita foi construída sobre as
dunas.
O inchaço da cidade preocupa
tanto quanto a estagnação da vila
do Bujurú, distante 70 quilômetros. Criada em 1882, a vila teve
800 moradores por mais de cem
anos.
Para chegar até a vila, é preciso
percorrer a "Estrada do Inferno".
São duas horas e meia de viagem,
quando o tempo está bom. Quando chove e a areia vira lama, o
tempo de viagem quase triplica:
pode durar até sete horas.
(LV)
Texto Anterior: Cidade tem "viúvas" de vivos Próximo Texto: Elio Gaspari: "Vote como paulista" Índice
|