São Paulo, Domingo, 25 de Julho de 1999
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Pelotas vive "favelização"

do enviado especial

a Pelotas e Bagé (RS)

Cleuza Moraes, 24, construiu um barraco há oito meses na vila Getúlio Vargas em Pelotas -cidade a 271 quilômetros da capital gaúcha. Não consegue emprego fixo há dois anos. Já trabalhou na indústria de conservas Agapê, que faliu em 1996. Com o marido desempregado há um ano, vive com a ajuda de parentes.
Cátia Beatriz, 25, cinco filhos, sobrevive graças aos biscates do marido, desempregado há cinco anos. Também já trabalhou nas indústrias de conservas. "Tá feio, tio. Mal dá para comer. O Fabiano tira R$ 8 por dia, quando tem", revela.
Nara Cristina Santos, 24, tem um filho e está grávida. Chegou com o marido de Piratini, há dois anos, à procura de emprego. Os dois estão desempregados. "Ele vive de changa (biscates)", conta Nara.

Favelas
São três vidas entre as milhares que vivem nas favelas de Pelotas, Rio Grande e Bagé, as maiores cidades da metade sul do Rio Grande do Sul.
Quem veio das pequenas cidades em busca de emprego, nada encontrou. Quem já era da cidade, também não encontra.
Cleuza mora em uma casa de seis metros quadrados. A cama de casal ocupa a metade da casa. Resta espaço para um fogão e um armário, além da televisão em preto e branco.
Cátia tem uma casa mais confortável, com três peças. Tem até sofá. As duas não contam com banheiro. Usam a "patente" (latrina) da vizinha Nara Cristina. Outros vizinhos jogam o esgoto a céu aberto, por onde brincam as crianças.
Na despedida, Cátia mostra ter consciência de que algo não está bem: "Tchau. Não repara a pobreza, moço".

Vila Miséria
A paisagem é semelhante na Vila Miséria, em Bagé, cidade a 393 quilômetros de Porto Alegre. Mas os papéis estão invertidos na família Castro.
Luiz Carlos, 24, trabalhava como servente de pedreiro, sem carteira de trabalho assinada. Quebrou o pé jogando futebol. Fica em casa cuidando dos seis filhos, enquanto a mulher trabalha como empregada doméstica.
A Vila Miséria foi formada há oito anos. Lá, moram cerca de cem famílias.
Mas a periferia de Bagé está cada vez mais inchada. A decadência dos fazendeiros reduziu o número de empregos no campo. Na cidade, a crise é a mesma.

Litoral
A periferia de São José do Norte, no litoral, é um depósito de desempregados. A maior fonte de empregos é a prefeitura. A cidade é cercada por favelas. A vila da Guarita foi construída sobre as dunas.
O inchaço da cidade preocupa tanto quanto a estagnação da vila do Bujurú, distante 70 quilômetros. Criada em 1882, a vila teve 800 moradores por mais de cem anos.
Para chegar até a vila, é preciso percorrer a "Estrada do Inferno". São duas horas e meia de viagem, quando o tempo está bom. Quando chove e a areia vira lama, o tempo de viagem quase triplica: pode durar até sete horas.
(LV)

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