São Paulo, Domingo, 25 de Julho de 1999
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GOVERNO
Futuro ministro defende modernização
Bezerra admite fechar a Sudene

da Sucursal de Brasília

O futuro ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional) não descarta a possibilidade de acabar com a Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), um dos últimos símbolos pré-regime militar.
"Vamos repensar os mecanismos, os instrumentos, avaliar o que eles têm de obsoleto, até de bandalheira", disse Bezerra à Folha, por telefone.
Sua intenção é criar três agências de desenvolvimento, uma para o Nordeste, outra para o Norte e a terceira para o Centro-Oeste. A do Nordeste absorveria a Sudene.
"Isto significa que a Sudene vai acabar?", perguntou-lhe a Folha.
"Não sei se acaba ou não. O nome pode até continuar sendo Sudene mesmo, porque o nome pouco importa, o que importa é modernizar os instrumentos", respondeu.
Bezerra contou, inclusive, que conversou sobre "a modernização" da Sudene com o presidente Fernando Henrique Cardoso no dia 30 de junho, no Palácio da Alvorada, antes mesmo de ser convidado para o futuro ministério. FHC não só concorda como patrocina as mudanças.
"Eu não tenho o brilho do Celso Furtado, não sou um intelectual internacionalmente respeitado como ele, mas é preciso repensar as formas de desenvolvimento", disse o ex-ministro, referindo-se ao economista que criou a Sudene, em 1959.
Presidente licenciado da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Bezerra, 58, nasceu em Santa Cruz, interior do Rio Grande do Norte, é engenheiro civil com pós-graduação em administração de negócios pela Universidade de Utah (EUA).
Ao receber a minuta da medida provisória que o Palácio do Planalto elaborou para criar o Ministério da Integração Nacional, pediu que sua assessoria analisasse "se tudo o que foi combinado está lá".
Entre o "tudo combinado" não se incluem o BNB (Banco do Nordeste) nem o Basa (Banco da Amazônia). O ministro Pedro Malan (Fazenda) impediu que fossem para a nova pasta.
"Nem eu queria. Não tenho vocação para banqueiro nem quero controlar banco", disse Bezerra.
O que considera fundamental na nova pasta são os cinco fundos constitucionais de apoio às três regiões, entre eles o Finor (Nordeste) e o Finam (Amazônia). Juntos, somam R$ 2 bilhões ao ano. "Sem eles, o ministério não existe, nem eu tenho o que fazer", avisa.
No formato que ele prevê, as agências vão articular o uso desses fundos com órgãos estaduais e com outras pastas, como Educação e Saúde, recorrendo à iniciativa privada "sempre que possível". Os operadores dos fundos serão principalmente BNB e Basa.
Ele acha que só virou ministro por ser do PMDB: "Se eu fosse do PT ou até do PSDB, não seria". E também deixou claro que será fiel à sua origem empresarial: "Meu compromisso é com a indústria".
Até agora, não ficou clara a relação do Ministério de Integração Nacional com o Ministério do Desenvolvimento, cujo ministro é o ex-chefe da Casa Civil Clóvis Carvalho. Bezerra tem consciência, porém, de que os dois dependem diretamente da macroeconomia (gerida por Malan).
"Só podemos reduzir as desigualdades regionais com crescimento, e crescimento com esses juros que estão aí (cerca de 20% ao ano) não existe."
Defendeu também a reforma tributária, profunda reformulação da legislação trabalhista e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
E se defendeu: "Há muito prejulgamento quando dizem que eu sou um representante da velha elite falando em modernizar o Nordeste. Quando as coisas aparecerem, no mínimo em seis meses, o meu conceito vai mudar. Pode até ser para pior, mas vai mudar".
(ELIANE CANTANHÊDE)


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