|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO
Futuro ministro defende modernização
Bezerra admite
fechar a Sudene
da Sucursal de Brasília
O futuro ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional) não
descarta a possibilidade de acabar
com a Sudene (Superintendência
de Desenvolvimento do Nordeste), um dos últimos símbolos pré-regime militar.
"Vamos repensar os mecanismos, os instrumentos, avaliar o
que eles têm de obsoleto, até de
bandalheira", disse Bezerra à Folha, por telefone.
Sua intenção é criar três agências de desenvolvimento, uma para o Nordeste, outra para o Norte
e a terceira para o Centro-Oeste. A
do Nordeste absorveria a Sudene.
"Isto significa que a Sudene vai
acabar?", perguntou-lhe a Folha.
"Não sei se acaba ou não. O nome pode até continuar sendo Sudene mesmo, porque o nome
pouco importa, o que importa é
modernizar os instrumentos",
respondeu.
Bezerra contou, inclusive, que
conversou sobre "a modernização" da Sudene com o presidente
Fernando Henrique Cardoso no
dia 30 de junho, no Palácio da Alvorada, antes mesmo de ser convidado para o futuro ministério.
FHC não só concorda como patrocina as mudanças.
"Eu não tenho o brilho do Celso
Furtado, não sou um intelectual
internacionalmente respeitado
como ele, mas é preciso repensar
as formas de desenvolvimento",
disse o ex-ministro, referindo-se
ao economista que criou a Sudene, em 1959.
Presidente licenciado da CNI
(Confederação Nacional da Indústria), Bezerra, 58, nasceu em
Santa Cruz, interior do Rio Grande do Norte, é engenheiro civil
com pós-graduação em administração de negócios pela Universidade de Utah (EUA).
Ao receber a minuta da medida
provisória que o Palácio do Planalto elaborou para criar o Ministério da Integração Nacional, pediu que sua assessoria analisasse
"se tudo o que foi combinado está
lá".
Entre o "tudo combinado" não
se incluem o BNB (Banco do Nordeste) nem o Basa (Banco da
Amazônia). O ministro Pedro
Malan (Fazenda) impediu que
fossem para a nova pasta.
"Nem eu queria. Não tenho vocação para banqueiro nem quero
controlar banco", disse Bezerra.
O que considera fundamental
na nova pasta são os cinco fundos
constitucionais de apoio às três
regiões, entre eles o Finor (Nordeste) e o Finam (Amazônia).
Juntos, somam R$ 2 bilhões ao
ano. "Sem eles, o ministério não
existe, nem eu tenho o que fazer",
avisa.
No formato que ele prevê, as
agências vão articular o uso desses fundos com órgãos estaduais e
com outras pastas, como Educação e Saúde, recorrendo à iniciativa privada "sempre que possível".
Os operadores dos fundos serão
principalmente BNB e Basa.
Ele acha que só virou ministro
por ser do PMDB: "Se eu fosse do
PT ou até do PSDB, não seria". E
também deixou claro que será fiel
à sua origem empresarial: "Meu
compromisso é com a indústria".
Até agora, não ficou clara a relação do Ministério de Integração
Nacional com o Ministério do Desenvolvimento, cujo ministro é o
ex-chefe da Casa Civil Clóvis Carvalho. Bezerra tem consciência,
porém, de que os dois dependem
diretamente da macroeconomia
(gerida por Malan).
"Só podemos reduzir as desigualdades regionais com crescimento, e crescimento com esses
juros que estão aí (cerca de 20%
ao ano) não existe."
Defendeu também a reforma
tributária, profunda reformulação da legislação trabalhista e a
Lei de Responsabilidade Fiscal.
E se defendeu: "Há muito prejulgamento quando dizem que eu
sou um representante da velha
elite falando em modernizar o
Nordeste. Quando as coisas aparecerem, no mínimo em seis meses, o meu conceito vai mudar.
Pode até ser para pior, mas vai
mudar".
(ELIANE CANTANHÊDE)
Texto Anterior: Elio Gaspari: "Vote como paulista" Próximo Texto: Amazônia: Piora atendimento médico a índios Índice
|