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CONFLITO AGRÁRIO
Ministro do Desenvolvimento Agrário quer usar imóveis de empresas estatais para fazer assentamentos
Rossetto propõe reforma em terra pública
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
Pressionado pelo acirramento
dos conflitos no campo, o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) apresentou ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva um projeto para acelerar a reforma agrária, apesar da falta de
recursos do governo federal.
O principal ponto do projeto é o
uso de propriedades rurais de
empresas públicas para assentamentos de sem-terra, mesmo que
essas terras sejam produtivas.
Rossetto mostrou que mais da
metade da terra necessária para
cumprir a meta de reforma de Lula (assentar 60 mil famílias em
2003) pode ser obtida de empresas públicas federais, como o Banco do Brasil. A maioria dessas
propriedades foi recebida como
pagamento de dívidas e a aquisição pela União não teria custo.
Se essas terras fossem declaradas de interesse para a reforma
agrária, o governo abateria as dívidas dos antigos proprietários
com a empresa e as desapropriaria. Esse processo reduziria o valor necessário para assentar as 60
mil famílias de R$ 1,25 bilhão para
R$ 668,75 milhões, numa economia de R$ 582 milhões.
Outra parte do plano de Rossetto consiste em desapropriar propriedades rurais de empresas de
economia mista com controle da
União, como a Petrobras. Nesse
caso, a compensação financeira
seria feita pela emissão de TDAs
(Títulos da Dívida Agrária).
Lula considerou a proposta de
Rossetto viável, mas não para este
ano. No caso do uso de terras da
União, não haveria tempo hábil
neste ano. Já em relação a propriedades de empresas de economia mista, a desapropriação depende de a emissão de TDAs não
ser considerada endividamento e
não entrar nos cálculos de superávit primário do governo, o que
vem sendo negociado com o FMI.
Por fim, argumentou Lula, não
há em caixa nem mesmo os R$
668 milhões que o governo teria
de desembolsar para desapropriar terras de particulares que
faltariam para cumprir a meta.
A previsão orçamentária para o
Desenvolvimento Agrário em
2003 era de R$ 462,6 milhões, suficiente para assentar apenas 22,1
mil famílias. Após o contingenciamento, a verba caiu para R$
249,3 milhões, o que daria para 12
mil famílias. Mas, até o final de julho, haviam sido liberados apenas
R$ 162 milhões para a pasta, o que
dá para assentar 7.700 famílias. O
programa de reforma agrária do
governo prevê 25 hectares por família, ao custo de R$ 20,85 mil.
Paliativo
A Folha teve acesso aos documentos da exposição feita por Miguel Rossetto a Lula, no Planalto,
em 18 de julho. Assessores do governo e do ministério que participaram do encontro confirmaram
o teor dos papéis. A assessoria de
imprensa de Rossetto foi procurada desde terça, mas o ministro
não quis comentar a reportagem.
Na exposição, o ministro demonstrou preocupação com o
acirramento dos problemas sociais e propôs o anúncio dessa
"reforma agrária alternativa" como um paliativo. Lula concordou
com a avaliação, mas disse que o
anúncio de algum plano só será
feito quando houver recursos.
Disse que não há nenhuma possibilidade de a equipe econômica liberar créditos suplementares,
mas prometeu que em 2004 a reforma agrária terá prioridade.
A Folha apurou que a proposta
orçamentária para 2004 reservará
cerca de R$ 1 bilhão para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, mais do que o dobro previsto
para 2003 (R$ 462,6 milhões).
Mas esse aumento não será suficiente para atender às demandas
do ministério. Na exposição, Rossetto disse a Lula que precisa ainda de R$ 83 milhões para assistência técnica aos assentados, R$ 20
milhões para programas de educação, além da contratação de
1.124 servidores para o Incra. Ele
propôs ainda a criação da Anaterra (Agência Nacional da Terra),
que seria responsável pela infra-estrutura dos assentamentos e comercialização dos produtos.
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