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São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2003

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CONFLITO AGRÁRIO

Ministro do Desenvolvimento Agrário quer usar imóveis de empresas estatais para fazer assentamentos

Rossetto propõe reforma em terra pública

OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Pressionado pelo acirramento dos conflitos no campo, o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) apresentou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um projeto para acelerar a reforma agrária, apesar da falta de recursos do governo federal.
O principal ponto do projeto é o uso de propriedades rurais de empresas públicas para assentamentos de sem-terra, mesmo que essas terras sejam produtivas.
Rossetto mostrou que mais da metade da terra necessária para cumprir a meta de reforma de Lula (assentar 60 mil famílias em 2003) pode ser obtida de empresas públicas federais, como o Banco do Brasil. A maioria dessas propriedades foi recebida como pagamento de dívidas e a aquisição pela União não teria custo.
Se essas terras fossem declaradas de interesse para a reforma agrária, o governo abateria as dívidas dos antigos proprietários com a empresa e as desapropriaria. Esse processo reduziria o valor necessário para assentar as 60 mil famílias de R$ 1,25 bilhão para R$ 668,75 milhões, numa economia de R$ 582 milhões.
Outra parte do plano de Rossetto consiste em desapropriar propriedades rurais de empresas de economia mista com controle da União, como a Petrobras. Nesse caso, a compensação financeira seria feita pela emissão de TDAs (Títulos da Dívida Agrária).
Lula considerou a proposta de Rossetto viável, mas não para este ano. No caso do uso de terras da União, não haveria tempo hábil neste ano. Já em relação a propriedades de empresas de economia mista, a desapropriação depende de a emissão de TDAs não ser considerada endividamento e não entrar nos cálculos de superávit primário do governo, o que vem sendo negociado com o FMI.
Por fim, argumentou Lula, não há em caixa nem mesmo os R$ 668 milhões que o governo teria de desembolsar para desapropriar terras de particulares que faltariam para cumprir a meta.
A previsão orçamentária para o Desenvolvimento Agrário em 2003 era de R$ 462,6 milhões, suficiente para assentar apenas 22,1 mil famílias. Após o contingenciamento, a verba caiu para R$ 249,3 milhões, o que daria para 12 mil famílias. Mas, até o final de julho, haviam sido liberados apenas R$ 162 milhões para a pasta, o que dá para assentar 7.700 famílias. O programa de reforma agrária do governo prevê 25 hectares por família, ao custo de R$ 20,85 mil.

Paliativo
A Folha teve acesso aos documentos da exposição feita por Miguel Rossetto a Lula, no Planalto, em 18 de julho. Assessores do governo e do ministério que participaram do encontro confirmaram o teor dos papéis. A assessoria de imprensa de Rossetto foi procurada desde terça, mas o ministro não quis comentar a reportagem.
Na exposição, o ministro demonstrou preocupação com o acirramento dos problemas sociais e propôs o anúncio dessa "reforma agrária alternativa" como um paliativo. Lula concordou com a avaliação, mas disse que o anúncio de algum plano só será feito quando houver recursos. Disse que não há nenhuma possibilidade de a equipe econômica liberar créditos suplementares, mas prometeu que em 2004 a reforma agrária terá prioridade.
A Folha apurou que a proposta orçamentária para 2004 reservará cerca de R$ 1 bilhão para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, mais do que o dobro previsto para 2003 (R$ 462,6 milhões). Mas esse aumento não será suficiente para atender às demandas do ministério. Na exposição, Rossetto disse a Lula que precisa ainda de R$ 83 milhões para assistência técnica aos assentados, R$ 20 milhões para programas de educação, além da contratação de 1.124 servidores para o Incra. Ele propôs ainda a criação da Anaterra (Agência Nacional da Terra), que seria responsável pela infra-estrutura dos assentamentos e comercialização dos produtos.


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