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RELAÇÕES PERIGOSAS
Ministro anuncia que Francisco Baltazar pediu demissão
Cai superintendente da PF
em SP escolhido por Lula
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após uma noite inteira de negociações, Francisco Baltazar da Silva pediu exoneração do cargo de
superintendente da Polícia Federal em São Paulo, por "razões pessoais". Nomeado por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Baltazar sofreu pressões nos últimos meses para deixar o posto. Aposentado, não deve continuar trabalhando na PF.
O substituto ainda não havia sido
escolhido ontem.
"Ele mandou um pedido de demissão, e o pedido foi aceito. É
um homem com quem temos relações antigas, que prestou bons
serviços a São Paulo nesses quase
dois anos em que trabalhou lá",
disse o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Embora não mencionados oficialmente, foram três os motivos
para a queda de Baltazar: 1) compra de dólares de Antonio Claramunt, o Toninho da Barcelona,
preso na semana passada, com
explicação considerada contraditória à direção da PF; 2) supostas
irregularidades em inquéritos
instaurados durante sua gestão;
3) suspeita de vazamento de informações sigilosas da operação
Farol da Colina para doleiros investigados em São Paulo, dando
tempo para que fugissem.
A suspeita de vazamento soma-se a outras duas investigações
conduzidas pela própria PF sobre
a conduta de Baltazar, na Corregedoria e na Inteligência. No início da noite de anteontem, a situação do ex-superintendente se
complicou ainda mais. Ficou
pronto o relatório de Inteligência
sobre as operações de Barcelona,
que demonstraria ainda maior
envolvimento de Baltazar. Ele admite ter comprado US$ 134,6 mil
de Barcelona, de 1997 a 2002.
Ao chefe da PF, Baltazar apresentou como justificativa uma indenização recebida da revista
"Veja". Reportagem da Folha de
29 de julho, porém, contradisse o
delegado: 60% do valor foi comprado antes de ele ter ganho a
causa na Justiça. Mesmo assim,
ele continuou no cargo porque
não havia condenação ou evidência suficiente de irregularidade.
A "materialidade", no jargão
policial, seria o relatório sobre as
operações de Barcelona, que ficou
pronto anteontem. O documento
aponta que Baltazar enviou dinheiro para o exterior, quando já
ocupava o cargo, no ano passado.
Coordenador da equipe de segurança de Lula em quatro eleições (89, 94, 98 e 2002), Baltazar
enviou um fax ao diretor-geral da
PF, Paulo Lacerda, dizendo que
deixava a superintendência por
"razões pessoais". Antes, já avisara seus subordinados diretos.
Vazamento
Baltazar foi informado pela cúpula da PF sobre a operação Farol
da Colina na semana passada, antes que os mandados de prisão
fossem cumpridos. Segundo relatos informais da PF, ele foi o único
a ter essa prerrogativa.
As suspeitas de vazamento de
informações levaram à prisão do
delegado Carlos Fernando Braga,
amigo de Baltazar. Segundo apurou a Folha, Baltazar comentou
com Braga sobre a operação, e
Braga avisou Barcelona sobre a
iminência das prisões de doleiros.
A investigação sobre o vazamento
ainda está em curso, e a prisão de
Baltazar não é descartada.
O curioso é que Baltazar começou a ser informado antes das
operações por ter reclamado publicamente da Operação Anaconda, no ano passado, que prendeu
alguns de seus homens de confiança. Prisões como essas nos últimos meses obrigaram Baltazar a
submeter a Lacerda o nome de alguns substitutos. Em junho, Baltazar concordou em fazer uma
correição nos inquéritos de São
Paulo, uma saída para aplacar
pressões internas. O resultado
ainda não foi divulgado, mas um
balanço parcial de 10 mil inquéritos resultou no indiciamento de
20 policiais. No mês passado, o
ministro deu sinal verde para Lacerda demiti-lo, pois Lula retirara
o aval a seu nome.
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