São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

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RELAÇÕES PERIGOSAS

Ministro anuncia que Francisco Baltazar pediu demissão

Cai superintendente da PF em SP escolhido por Lula

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após uma noite inteira de negociações, Francisco Baltazar da Silva pediu exoneração do cargo de superintendente da Polícia Federal em São Paulo, por "razões pessoais". Nomeado por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Baltazar sofreu pressões nos últimos meses para deixar o posto. Aposentado, não deve continuar trabalhando na PF. O substituto ainda não havia sido escolhido ontem.
"Ele mandou um pedido de demissão, e o pedido foi aceito. É um homem com quem temos relações antigas, que prestou bons serviços a São Paulo nesses quase dois anos em que trabalhou lá", disse o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Embora não mencionados oficialmente, foram três os motivos para a queda de Baltazar: 1) compra de dólares de Antonio Claramunt, o Toninho da Barcelona, preso na semana passada, com explicação considerada contraditória à direção da PF; 2) supostas irregularidades em inquéritos instaurados durante sua gestão; 3) suspeita de vazamento de informações sigilosas da operação Farol da Colina para doleiros investigados em São Paulo, dando tempo para que fugissem.
A suspeita de vazamento soma-se a outras duas investigações conduzidas pela própria PF sobre a conduta de Baltazar, na Corregedoria e na Inteligência. No início da noite de anteontem, a situação do ex-superintendente se complicou ainda mais. Ficou pronto o relatório de Inteligência sobre as operações de Barcelona, que demonstraria ainda maior envolvimento de Baltazar. Ele admite ter comprado US$ 134,6 mil de Barcelona, de 1997 a 2002.
Ao chefe da PF, Baltazar apresentou como justificativa uma indenização recebida da revista "Veja". Reportagem da Folha de 29 de julho, porém, contradisse o delegado: 60% do valor foi comprado antes de ele ter ganho a causa na Justiça. Mesmo assim, ele continuou no cargo porque não havia condenação ou evidência suficiente de irregularidade.
A "materialidade", no jargão policial, seria o relatório sobre as operações de Barcelona, que ficou pronto anteontem. O documento aponta que Baltazar enviou dinheiro para o exterior, quando já ocupava o cargo, no ano passado.
Coordenador da equipe de segurança de Lula em quatro eleições (89, 94, 98 e 2002), Baltazar enviou um fax ao diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, dizendo que deixava a superintendência por "razões pessoais". Antes, já avisara seus subordinados diretos.

Vazamento
Baltazar foi informado pela cúpula da PF sobre a operação Farol da Colina na semana passada, antes que os mandados de prisão fossem cumpridos. Segundo relatos informais da PF, ele foi o único a ter essa prerrogativa.
As suspeitas de vazamento de informações levaram à prisão do delegado Carlos Fernando Braga, amigo de Baltazar. Segundo apurou a Folha, Baltazar comentou com Braga sobre a operação, e Braga avisou Barcelona sobre a iminência das prisões de doleiros. A investigação sobre o vazamento ainda está em curso, e a prisão de Baltazar não é descartada.
O curioso é que Baltazar começou a ser informado antes das operações por ter reclamado publicamente da Operação Anaconda, no ano passado, que prendeu alguns de seus homens de confiança. Prisões como essas nos últimos meses obrigaram Baltazar a submeter a Lacerda o nome de alguns substitutos. Em junho, Baltazar concordou em fazer uma correição nos inquéritos de São Paulo, uma saída para aplacar pressões internas. O resultado ainda não foi divulgado, mas um balanço parcial de 10 mil inquéritos resultou no indiciamento de 20 policiais. No mês passado, o ministro deu sinal verde para Lacerda demiti-lo, pois Lula retirara o aval a seu nome.


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