|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Classe artística repercute e reprova desprezo à ética de lulistas
DÉBORA YURI
DA REPORTAGEM LOCAL
O reconhecimento do músico Wagner Tiso e do ator Paulo
Betti, segundo quem a política
se faz sujando as mãos e a ética
deve ser minimizada no exercício do poder, provocou mais
reações, principalmente de reprovação, por parte da classe
artística.
Apoiadores de Lula, os dois
afirmaram não se importar
com o mensalão e desprezaram
a ética na política. Ontem, Betti
enviou carta à Folha, na qual
diz afirma que apenas fez uma
constatação, sem dar aval a nenhuma prática.
O novelista Aguinaldo Silva,
tucano e autor de "Senhora do
Destino", foi crítico. "O Paulo
Betti e o Wagner Tiso estão falando besteira. Eles estão se
envolvendo com a merda e,
quando você se envolve com a
merda, você acaba sujo", afirmou. "Mas não sei se contesto
o Paulo Betti. Esses artistas
acham que são obrigados a ter
uma posição política."
O certo é que a desilusão com
o jogo político não se espalhou
apenas entre os petistas -alguns tucanos também falam
em desencanto. Diz Aguinaldo:
"Eu sempre votei no PSDB, até
descobrir que as pessoas do
PSDB estão pairando acima do
próprio país que elas querem
governar. Não interessa se é
PSDB, PT. Todos eles estão na
sua trip pessoal de poder".
"Mais tucana que petista", a
atriz Nívea Maria enveredou
pela mesma linha: "Em todos
os partidos há pessoas que
prestam e que não prestam,
com caráter e sem caráter.
Nunca fui petista, mas torci para que o governo do Lula desse
certo". Ela condenou Betti. "Eu
me surpreendi porque o Betti
tinha dito que nunca mais falaria de política. Isso é sinal de
que ele realmente optou por se
afastar da arte", disse.
O ator Ney Latorraca, "tucano sempre", retrucou a declaração de Betti de que "não dá
para fazer [política] sem botar
a mão na merda". "Essa gente
lutou tanto pela democracia...
Não sou conivente com a afirmação dele, existem políticos e
políticos, mãos e mãos. Isso vai
estar na biografia dele, mas não
quero julgar o meu colega, como não quero que o meu colega
me julgue", disse.
Mesmo o bloco dos "apolíticos" reagiu. "A gente vive num
país hipócrita, todo mundo está acostumado a fazer coisas
erradas. Cada povo tem os políticos que merece. Nós precisamos ter um pouco mais de ética, e eles também", disse a
apresentadora Maria Paula, 35,
do "Casseta e Planeta".
Casada com o músico João
Suplicy, filho da ex-prefeita
Marta e do senador Eduardo,
ela evitou criticar Betti e Tiso.
"Cada um tem a sua ética, cada
um faz o que dá pra fazer. Faço
trabalho social na Rocinha. Sou
apolítica, nunca fui ligada ao
PT, mas tenho orgulho de fazer
parte dessa família. A Marta
nunca foi acusada durante os
escândalos, e o Eduardo é o cara mais ético do mundo."
A atriz Elke Maravilha, que
se diz anarquista, ficou indignada com as declarações da dupla de artistas lulistas. "Meu
Deus, que horror! Eu tenho 61
anos, mas sou romântica, quero consertar o mundo. Levei
um susto, conheço o Betti e ele
fala uma coisa dessas. E o Wagner Tiso? Meus conterrâneos
estão mal. Gente jovem ser
burra tudo bem, mas velho ficar burro?"
Elke fez um discurso em defesa da ética. "Nunca fui petista, nunca brinquei disso. Sei
que não devo explorar ninguém, não devo puxar o tapete
de ninguém. Não preciso segurar uma bandeira. Todos os "ismos" nunca funcionaram".
Texto Anterior: Questionado sobre gastos, Lula pára entrevista Próximo Texto: Autor muda personagem pró-candidata Índice
|